Psicóloga

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Eles haviam levado Will para sua casa desesperadamente. Acima de tudo, deveriam manter o amigo a salvo. Levar ele para o portal do Mundo Invertido não parecia uma ideia brilhante, analisando bem. Entretanto, uma garota fraca precisava de ajuda naquela dimensão. O que iria fazer?

Pense. Pense. Pense. Pense. Pense.

Mike repetia essa palavra, como se fosse adiantar seu processo de raciocínio. Eles tinham fodido tudo! Agora, além de não terem conseguido salvar Eleven, reabriram a droga do portal. Não queriam nem pensar no que Hopper diria ao descobrir o que fizeram, porque sabiam que o delegado não estava mais no lado deles. Será que contaria para o governo? Será que o governo os puniria?

Tudo martelava na mente do Wheeler, freneticamente. Sentia-se em um ataque de pânico, sua respiração havia se tornado pesada, parecia suforcar cada vez que tentava puxar o ar. Conseguia ouvir os próprios batimentos do seu coração, os quais estavam com um ritmo acelerado. Sua cabeça viajava, separando-o do ambiente em que estava. Enquanto seu corpo estava parado, nesse estado de ansiedade, sua mente estava mais hiperativa do que nunca. Tinha medo de perder o controle de tudo ao seu redor, o que já havia acontecido.

Lucas e Dustin confortavam Will, que estava parado, sem soltar nenhuma lágrima, sem demonstrar nenhuma expressão. Encarava um ponto fixo, abraçando a si mesmo. Byers não estava bem, sequer queria falar o que estava acontecendo com ele. O compartilhamento de informações entre os amigos parecia ter expirado. Nenhum falava com o outro — embora os olhares trocados tenham dito muito mais.

Mike podia ver, na maneira como olhavam para ele, que sentiam receio. Talvez estejam pensando no fato que Michael não pararia até ter El consigo, salva. Isso era uma verdade absoluta. Justamente disso que tinham medo, da capacidade do Wheeler de fazer tudo pela psíquica. Não ligava para as consequências.

— Temos que pensar em um dia para voltar pra lá — disse Mike, chamando a atenção de todos (exceto Will que continuava naquele estado). Olhavam-o como se fosse louco. De fato, era nisso que pensavam. Mike Wheeler havia perdido a cabeça por causa da estranha da Maple Street.

— Tá falando sério? — Lucas perguntou, alterado. Estava com a impressão que o antigo cara de sapo ficara obcecado com a volta de Eleven. Ao contrário de Dustin, ele pensava e dizia as verdades que lhe vinham na cabeça. Podia ser o mais racional do grupo, mas quando a hora de botar tudo para fora chegava, Sinclair falava todas as palavras que havia engolido — Will quase morreu! Viu o que aquela coisa fez com ele? Nós não vamos voltar para aquele lugar, tá me ouvindo? Não vamos arriscar a merda das nossas vidas para você salvar a merda da sua namoradinha! Pense, se Will ficou desse jeito só por tocar, pense nela que deve ter passado todos esses anos lá. Nem sabemos se ela está realmente viva!

— Ela está viva, Lucas! Eu te disse o que eu vi, e-eu — Mike tropeçava nas palavras, enquanto via um de seus amigos mais queridos duvidar da veracidade de suas palavras. Suspirou, sendo interrompido pelo Sinclair.

— Não. Você pode não ter visto ela, tá legal? Pode ter sido uma alucinação, qualquer coisa do tipo. Mike, eu sei que esses anos tem sido difíceis para você, mas você tem que superar. Talvez ela esteja até mesmo morta — seu tom se tornou mais calmo, tentando entender o lado do outro. Sempre colocou-se na posição de Mike, mas nunca o compreendeu realmente. Nunca seria capaz de sentir tanta dor por alguém que amava. Ainda não havia passado por essa experiência.

Mike fechou-se para ele. Fechou-se para o mundo. Fechou-se para todos. Se retirou, dando uma última olhada para Will, pegando sua bicicleta e pedalando mais rápido que podia. Se sentia terrível por ter que vivenciar essa situação com Lucas, porém sentia-se pior ao pensar que não havia feito nada para conseguir resgatar Eleven. Nesse estado de raiva, queria espancar qualquer alma à sua frente.

Marked By The UnknownOnde histórias criam vida. Descubra agora