Capítulo 4 - Sorvete light

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"Eu sei que é errado e quem vai entender?"

Marília Mendonça

Preciso dizer que sempre — sem exceção, sempre mesmo — ao chegar a vez do Gustavo na fila do pão, inventei que a padaria estava vazia? Nem no momento que ele se encontrava acompanhado da Pocahontas aliviei seu lado. A fornada poderia ter acabado de sair, e ainda assim, eu dizia: Não tem pão. Dei prejuízo ao supermercado, pois os clientes que estavam atrás dele e ouviam a mentira, iam embora? Dei. Sentia-me culpado? Nem um pouco.

Só que depois de um tempo, Gustavo simplesmente sumiu. Nem ele ou a namorada chegaram perto da padaria. Então, assim que completaram duas semanas de desaparecimento, liguei para a polícia e pedi ajuda! Mentira, apenas fiquei aflito. Sei lá, por algum motivo desconhecido eu já tinha me acostumado a vê-lo enfrentar aquelas filas enormes e voltar com as mãos abanando; ou com um pacote de pão de forma embaixo do braço. Escorpiano quando nasce para ser vingativo, nem o proprietário do Inferno e seus inquilinos aguentam.

No entanto, a raiva nem era tanto pelo soco que levei, foi por ele ter privado só para amigos aquela droga de perfil! Isso foi tão cruel, desumano... abominável. Atitude de um monstro! Tranque a mãe no porão, mas não tranque seu perfil quando sabe que há alguém que vive em função do que você posta.

Nossa, que horror! Esqueça essa última parte.

Ah, lembrei... Uma vez ele pediu um pedaço de bolo da vitrine e vendi, não fui eu quem fez. No Quase Free os bolos são encomendados de fora, pois, como a demanda é pequena, o supermercado não achou necessário contratar um confeiteiro ou um padeiro especializado em confeitaria — para minha sorte, dado que não me dou bem com coisas doces e rejeitei essa parte do curso.

Retomando ao assunto principal, ao completar catorze dias de sumiço, fiz uma burrada, uma bosta bem grande. Caguei bonito. Cheguei em casa cansadaço, tomei um banho de gato porque se encontrava frio naquele dia, e acomodado na minha preciosa cama fofinha, peguei o celular — já falei que ele é novo? — e mergulhei na Internet. Poxa! Eu estava meio que dormindo, desmaiando de sono, sem contar que a rinite tinha atacado.

— Enfim... estou colocando a culpa nisso tudo. Sou inocente.

— Chega de enrolar e fala logo o que você fez, peste!

Letícia e eu conversávamos no refeitório do supermercado. Era o primeiro dia do retorno dela, ou seja, o emprego duplo havia chegado ao fim, mas eu estava feliz com a volta do meu diário humano que de tão parecida, parecia fazer cosplay daquela diva negra do pop.

— Bom, digamos que, anteontem eu tenha adicionado ele, acidentalmente. Abstinência de informação. Quem nunca?

— Você não fez isso! Erick, para de se rastejar igual uma lombriga no cio!

"Oxê! Eu bato ou você bate, Universo?"

— Você me respeita, tiriça! — suspirei, deixando a moqueca de camarão de lado. P.s.: adoro moqueca de camarão. — O ruim mesmo foi que acabei dormindo e só fui me dar conta disso no outro dia. Achei até que tivesse sido um pesadelo.

— Estou desconfiada de que tem interesse amoroso nisso aí.

Dei risada.

"Amoroso? Alguém avisa que o Erick Silveira aqui só pega geral e não se apega?"

— Galinha não sente essas coisas humanas, e calma, você ainda não ouviu a melhor parte. — Antes de continuar, esperei ela checar seu celular que acabara de notificar algo. Gosto de conversar olhando no olho, dá licença. — O fi duma égua não me aceitou até agora. Também não recusou, mas grandes merdas, dá na mesma de recusar.

Um Sonho de Padeiro [MUDOU DE CASA]Onde histórias criam vida. Descubra agora