Capítulo 5 - Filme de Terror

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"Pipoca, aaaaah! Cheiro de pipoca tá rolando no ar"

Xuxa

Despertei uma hora da tarde e passei o resto do dia comendo besteiras e assistindo séries, por motivos de: folga. Na verdade, acordei 12h48 — não sei por qual razão citei isso. Enfim, eu terminara o banho para dar um rolê no shopping com a Letícia e uma amiga dela que eu conheceria. Como era sábado, decidimos curtir um cinema naquela noite, pois, balada em todo final de semana enjoa e haja fígado — e principalmente grana — para isso. "Nota mental: lembrar de desejar um feliz dia das mães pra minha véia amanhã." Me afastei da água para apanhar o condicionador destinado a cabelos super-ultra-mega-ressecados. A Letícia dizia que sou obcecado com meu cabelo só porque odeio que toquem nele, mas não é verdade. Sei o trabalho que me causa deixar os cachos do jeito que quero, para depois vir uma desgraça dos infernos e bagunçar tudo?

Ah, tá bom!

No entanto, sob os jatos d'água do meu chuveiro de pobre, algo me cutucava a cabeça — não disse qual cabeça. Lá no Quase Free, enquanto do lado de fora da cozinha os funcionários usavam leitor de código de barras, tablets e computadores para se organizarem, eu tinha que me virar com um reles bloco de notas, no qual anotava os ingredientes que estavam perto de acabar, como se minha pessoa vivesse na época das cavernas. O problema é que eu não usava ele apenas para isso. E se eu dissesse que, entre um descanso e outro na cozinha, as pequenas folhas brancas me serviam para desabafar, e isso, de uma maneira proibida para menores?

Sacudi a cabeça, apagando mentalmente as cenas com o fi duma égua, as quais eu pretendia escrever no bloco de notas que eu já havia até levado para casa.

"Que criatura digna de pena me tornei!"

A toalha molhada, larguei sobre o cabideiro de parede ao lado do guarda-roupa, e dele, apanhei quaisquer peças que combinassem; eu não estava a fim de me emperiquitar muito só para assistir um filme. Nesse intervalo, vi o celular sobre a cama, e com isso, a vontade louca de espionar a vida virtual, protegida por um cadeado, do Gustavo se infiltrou nos meus poros ainda úmidos.

— Não! Você é lindo demais pra isso, Erick! — Recuei o passo dado em direção à cama e parei os olhos dessa vez no bloco de notas em cima da mesa de cabeceira.

Peguei-o, dando vida ao que normalmente eu fazia sempre que a privação de informações daquela praga surgia: escrevi tudo que eu queria estar fazendo com ele.

Aquilo estava parecendo uma fanfic yaoi.

Já fora do ônibus, verifiquei as horas no meu relógio xing-ling que pouca gente consegue notar se tratar de falsificação, e imediatamente, estalei a língua, frustrado ao perceber que me encontrava atrasado para a sessão das 21h00. "Preciso começar a me prostituir para comprar um carro! É sério!". Após uma corrida horrenda, achei na entrada do shopping Letícia e uma garota gordinha de cabelo acobreado e curto, que pensei ser a tal amiga.

— Veio de patinete? — perguntou em tom impaciente, Letícia.

— Você não é engraçada. Comprou os ingressos?

Ela assentiu, dirigindo-se depois de me apresentar à amiga — Lílian no caso —, para dentro do shopping. Porém, algo me desestabilizou assim que passei pela porta automática de vidro: algum infeliz estava usando o mesmo perfume que o Gustavo espirrava em seu corpo desprovido de músculos, mas, que me atraía do mesmo jeito. Talvez até mais.

"Será apenas fruto do meu psicológico?"

Durante o trajeto, eu e Lílian engatamos assuntos variados. Aliás, o fato de ela amar falar sobre signos ajudou com a identificação; e o espírito jovem de vinte e um anos também — apenas sua mania de enfiar palavras inglesas nas frases que não me agradou muito. No entanto, não foi só por conta de signos que gostei dela. Lílian é ousada como eu, ou seja, não se apega ao conservadorismo. Resumiu sua vida "amorosa" com a seguinte frase: quando estou solteira, não costumo repetir homem. Sem contar que usava um look nada comportado, curtíssimo e com um decote imenso. Falando nisso, se eu fosse mulher só usaria roupas de periguete, e se viessem com aquele papinho de "moça direita não se veste dessa forma" ou fossem mais diretos e me chamassem de quenga, receberiam de volta somente: quenga não sou, pois quenga cobra e eu dou de graça.

Um Sonho de Padeiro [MUDOU DE CASA]Onde histórias criam vida. Descubra agora