Raciocínio

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Seja honesto comigo, por um minuto. Só pare de pensar, de inventar e de querer fugir de quem é e do que te cerca, seja honesto comigo. Você já não sentou depois de um dia tão ridículo, que nem sabe como foi tão ridiculamente capaz de aguentar, em frente a parede com uma maldita xícara de chá na mão e desejou profunda e completamente a Morte?

Não mente pra mim.

Já não olhou pra um ponto fixo durante horas, degustando aquele seu pensamento mais profundo, calculando motivos, razões e conjecturas pra essa piada de Vida? Como por quê viver todos os dias situações desagradáveis, com pessoas desagradáveis, chegar em casa e ter que se olhar no espelho e dar de cara com a pessoa mais desagradável que conhece? Como por quê se olhar no espelho e se odiar tanto? Odiar cada ponto de quem é e de quem não é e odiar essa maldita Vida. Como por quê se doar tanto, trabalhar tanto, Viver tanto, amar tanto se no final das contas tudo acaba? Já não sentiu pena de si mesmo por ter que se divertir com coisas baratas para se distrair desse profundo existencialismo humano? Dessa profunda falta de propósitos? De não saber quem você era 5 anos atrás, de não saber quem você é agora e muito menos saber quem vai ser daqui 5 minutos? Não te dá agonia saber que a Vida um dia acaba e todos os propósitos foram vazios porque aquele quem você era e nem sabia já não é e já não sabe de mais nada?

Já se encarou nos olhos profundamente e se perguntou como as pessoas conseguem? Olhou pra cada criança correndo e quis impedir e dizer ''volta, minha filha, volta pra dentro da sua mãe porque aqui fora não tem nada de seguro pra alguém tão puro como você''? Já teve dó de cada indivíduo por sofrer tanto e saber, sentir dentro de si mesmo que esse sentimento nunca vai ter fim? Que mesmo depois que você desconhecido e seus propósitos desconhecidos deixarem de tentarem se conhecer, o sofrimento e a dor vão ser os únicos a continuar?

Que Vida é essa, eu te pergunto. Eu grito.

Tome seus remédios, moça - você me responde.

Tome seus remédios que esses pensamentos já vão embora e a alegria de existir vai logo chegar nos teus poros tão fechados. Já passa.

Palhaçada.

Como eu explico para esses otários que a minha mente doentia é tão, mas tão filha da puta que não se engana por remédios bobos e mercadorias enlatadas? Como eu explico que a paz não existe e que a felicidade é projeção do sofrimento e mais perfeita válvula de escape?

Podem se enganar, eu deixo.

Eu sou invertida. Transvi(r)ada.

Aquela que morre ao nascer. E nasce, ao morrer.

Eu só quero correrOnde histórias criam vida. Descubra agora