Capítulo 5

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Ellen dorme cedo, mas eu continuo pensando naquele número entre 25 e 27, contava as estrelas e todas elas terminavam em 26, parecia uma imensidão dentro de outra, o vazio dentro do vazio e tudo o que me vinha era ela. Fecho meus olhos mas um borrão de olhos azuis dançam pelas minhas pálpebras, e aquilo vira um ciclo infinto, meu mundo vira ao contrário numa mistura de caos e calmaria quando de repetente me assusto com um barulho da porta destrancando mas estou tão imerso que logo em seguida ignoro e prossigo na falha tentativa de dormir.

O telefone de Ellen toca as 5 horas e eu a amaldiçoou por não respeitar a minha insônia. Levanto e tomo meu banho escolhendo a primeira roupa que vem na frente que por acaso é preta, como todas as outras, não que eu seja um obcecado por morte ou coisas afins, era apenas sólido e me fazia parecer com menos cara de menino inglês.

Meu quarto era bem perto da cozinha então faço o mínimo de esforço possível para andar até lá, o único cômodo que me separava de lá era da minha falecida tia onde agora só encontra um monte de moletons e um punhado de livros de mistério mas o que me chama atenção é um caderninho, eu não entendo o sentido já que Ellen nunca foi uma menina do tipo que escreve sobre seus sentimentos, mas deixo passar, as garotas costumam a ser estranhas, nunca me dei nem um pouco bem com elas.

Na cozinha o cheiro de manteiga e mel fazem meu estômago revirar 3 vezes

- Você ta cozinhando uma gambá ou preparando um café para a gente? - Digo em tom de humor, mas um pouco preocupado com o cheiro de queimado

- A gente? Você acha que eu sou sua empregada só por que sou mulher negra? Sabe que isso dá cadeia? - Diz ela em um tom que eu não consigo distinguir se seria brincadeira ou ela estava falando sério - Brincadeira, mas acho que você não vai querer comer isso - ela me mostra a torrada preta

- Infelizmente vou ter que negar, no caminho da faculdade como alguma coisa, vai querer carona?

- Infelizmente vou ter que aceitar - Eu suspiro revirando os olhos e ela abre um sorriso, o seu tom de pele era tão bonito no nascer do sol e seu cachos desarrumados e platinados parecia mais descuidados do que nunca, no seu rosto olheiras fundas acusavam que alguém também não teve uma boa noite de sono.

Terminamos de anos arrumar e saímos pela porta da frente às 6 e 14, eu dirijo como se nada importasse mais, como se um aciedente não fosse ruim nesse momento.

- Se você quer matar a gente é melhor avisar - Ellen tem sempre um tom sarcástico na voz mas dessa vez tinha um pouco de medo - Bem se você não matar a gente antes, nós deveríamos dar uma passada depois da escola na casa de Ágatha - Ágatha, eu tinha me esquecido, por milésimos de segundos eu percebi que eu não tinha pensado nela, era como se ela não existisse, como se eu não precisasse me preocupar com isso porque ela estaria bem, na verdade ela estava bem, ele estava morta.

- Eu ainda acho que a gente deveria esquecer e seguir em frente, Ágatha sempre dizia que a gente só deve ignorar as coisas e continuar vivendo.

- Viu "continuar vivendo" isso não parece meio estranho pra você? Vamos Ange tenta pelo menos ter um tom de mistério - Ela faz um beicinho que faz ela parecer uma criança ridícula de 5 anos, ai como odeio crianças.

- Você está fazendo faculdade de jornalismo, não acha que realismo não é mais a sua praia?

- E você faz atronomia, porque não voa pra lua bem longe de mim - Ell agora tem um tom de raiva na voz que me faz dirigir ate mais devagar.

- Calma, calma, a gente pode passar lá depois.

- Sabe onde Jason foi parar? - Sinto um arrepio descendo pela minha coluna, Jason, eu tinha esquecido dele, Ágatha amava ele sempre dizia que iriam se casar, nunca fui com a cara do sujeito, ele era reservado e fechado parecia quase psicopata, não que o relaciomento deles fosse abusivo, mas ele protegia ela demais, devria estar arrasado nesse momento.

-Ele deve aparecer hoje.

- Eu vou ficar bem longe dele, o problema é que ele está na minha turma, isso torna tudo ruim, eu me sinto mal de estar perto dele, sabe aquela energia negativa e pesada que uma só pessoa pode acumular ao seu redor?

- Eu entendo - Como entendendo Ellen, no memento em que você me ligou no dia 26 de julho eu me tornei essa pessoa.

Estaciono no final do estacionamento já que ele está bem lotado, são 6 e 43 bem a tempo de chegar no meu departamento e estudar um pouco antes da prova de astrofísica.

- Olha é só falar da assombração que ela aparece - E lá estava ele de suéter e tênis all star (sem nenhuma ideia de o que é moda), Jason estava mais magro do que o normal, seu cabelo ondulado ruivo caia um pouco sobre os olhos que pareciam calmos, ele não parecia tão triste quanto eu imaginava que ele estaria, ele aparecia até meio aliviado e isso me trouxe uma raiva que na mesma hora eu respirei de forma mais pesada, Ellen me olhou com um pouco de medo mas eu senti um pequeno sorriso no canto da sua boca.

Ao olhar alguém que se ligava a ela de alguma forma já me vinha uma enorme culpa, um sentimento de algo não terminado e nesse momento eu me sinto uma pessoa que tinha tudo para ajudar ela em minhas mãos e infelizmente não consegui salvar ela de si mesma, mas agora tudo que tenho que fazer é conseguir me salvar de mim mesmo.

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