Sétimo capítulo - Pavor e louvor

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Era por volta das nove horas, naquele dia eu acordara tarde. Tomei meu café e estava absorto no que havia acontecido e no que o padre havia dito na noite anterior.

O que significava aquela mensagem de eles terem que sair de casa? Qual espírito havia possuído o corpo daquela menina e por que Treviso?

Questões que pareciam insolúveis enchia minha mente.

Às dez da manhã é de costume ocorrer à missa no centro da cidade. Fui lá para assistir e ficar de espreita, pois no meu sonho de alguns dias atrás era nítido a igreja e os fiéis se contorcendo no chão da praça.

A possessão da noite anterior era para mim um sinal. Um sinal de alo horrível e medonho para aquelas pobres pessoas sem conhecimento esotérico e de mente imaginativa muito intensa.

Uma coisa que é boa e ruim ao mesmo tempo é a imaginação fértil. Com ela você pode ser um "resolvedor" de problemas, criacionista, inteligente mas pode sofrer das piores dores mentais que um ser pode sofrer. E um show de possessões para aquelas mentes causariam uma marca tão profunda que até a segunda geração estaria presente.

Fiquei do lado de fora. Na porta mais precisamente. Não estava sozinho naquela posição. O padre falava sobre os caminhos que Jesus tomara e uma conversa sobre comportamento e uma vez ou outra um subliminar nas mentes férteis das pessoas que ali estavam.

Fazia trinta minutos de missa quando uma pessoa deu um grito de agonia. Todos pararam e direcionaram as cabeças para um mesmo ponto na igreja. A mulher de meia idade gritava de dor e se jogava no chão se contorcendo. OS que estavam ao seu lado não sabiam o que faziam e os demais perplexos de mais para agir. O padre de boquiaberto segurando o microfone largou repentinamente e gritou para levarem pra fora.

Eu observando notei que mais pessoas estavam passando mau. Um calor incrível veio até mim e comecei a suar. O oxigênio que estava até então perto de mim sumiu e me senti agoniado com a falta de ar. Mesmo tendo controle sobre minha mente tive dificuldades de voltar ao estado normal.

As pessoas agora estavam correndo da igreja como se algum demônio pairavam sobre o altar.

Três pessoas na escada da igreja se jogaram no chão e começaram a se bofetear até sangrarem. Ninguém conseguiu separar os três.

Outro pulou uma distância incrível para um ser humano normal e agarrou um pé de palmeira. Este balbuciava palavras estranhas e espumava pela boca.

Uma que chamou minha atenção em meio aquele caos todo foi uma jovem de cabelos negros que estava no chão perto de um banco, gritando uma mesma frase:

"Estão vindo para pegar seu filho! Estão vindos para pegar seu filho!"

A morena gritava muito forte até perder a voz. Eu cheguei perto dela e disse, umas poucas palavras repetidas vezes aumentando a velocidade,em seu ouvido:

"Sorditim apractus eregis formec studiam"

A jovem teve uma rápida convulsão e desmaiou.

Nesse momento eu tive a certeza que se tratava de espíritos tentando se comunicar, porém eram palavras do passado. Mas não dava de deixar as coisas assim. Era necessário armazenar todos os espíritos mensageiros para não realizarem tal coisa novamente.

Fui em direção ao padre e lhe cotei o que estava acontecendo e pedi sua ajuda.

Pegamos toda água benta que podíamos, fui até o carro para pegar uma urna de cerâmica negra com o pentagrama flamejante inserida nela, posicionei no centro da confusão e subi até a torre para chegar ao microfone da torre.

O padre estava no chão em meio a confusão com dois baldes de água benta e eu me posicionando.

O padre jogava água benta em quem tentava chegar no pote negro. A água benta expulsava e dizendo o nome sagrado TETRAGRAMATOM eles se afastavam atemorizados.

Eu comecei o mais rápido possível as pronúncias de despossessão.

"SARAH SEREH TOPILES ACTINES BERESTIDAS AEOM SICRETOS AFIRMOSAH TETRAGRAMATOM DISOEM DISOAM LEH OLAH AMEM TETRAGRAMATOM FERISISAS SORFOCUMSES SORGUSIS SASA FORFIS TETRAGRAMATOM, IOD HE VAU HEE, ADONAI, EHEIE, AGLA."

Dito as palavras de despossessão de espírito criada por mim há uma década, foi necessário agora pronunciar as palavras para armazenamento:

"ORIUMDUM AOM EHRDOP, TE PRENDO TE SEGURO TE AMARRO TE JULGO TE CONDENO TE SANGRO TE FIRO TE QUEIMO TE CONSTRANJO TE CRUCIFIXO TE ELIMINO AO PODER DO CAOS E DA CUPULA SAGRADA, MALDITO SEJA A VOSSA VONTADE E SOBRE MINHA VONTADE SUAS EXISTENCIA SE APRESENTAM COM INFIMA VONTADE E CAMINHANDO SOFRE O FOGO FLAMEJANTE SE DIRECIONAM AO BURACO DA DORMENCIA. E COM O PODER DA ESTRELA FLAMENJANTE LHES ORDENOS A PRISÃO PERPÉTUA ... AEOM MECASTROS SISIRISSS AGLANDES FORPESSS... AMEM."

Uma rajada de berros e gritos estrondosos se fez e um vento quente varreu todo o espaço. Um pulso forte no peito se fez sentir e todos que estavam possessos desmaiaram e algumas das que observavam o show de horrores também veio a adormecer.

Desci satisfeito vendo o pote negro n centro e os corpos inconscientes ao redor. O padre estava exausto e sem água benta em seus baldes.

Olhei com um olhar de superioridade para aqueles que me encaravam sérios e espantados. Foi uma missão difícil aquela, de conter mais de 50 espíritos em um pote de barro. Eu estava cansado e minha mente esgotada, pois durante as pronuncias que foi repetidas vezes que duraram cerca de meia hora cada sessão, eu tinha que visualizar os espíritos dentro do jarro. Isso não seria possível se não fosse meu treinamento de décadas atrás.

A cidade parara de fato naquele dia, e o meu sonho me alertou certeira para aquilo. Ocorreu tudo bem, pois não houve morte. A maioria dos casos que ajudei a enfrentar e derrotar espíritos raivosos sempre acabam em morte de alguma pobre alma.

Porém o que não sabia até chegar na pousada para me despedir é que a senhora que tanto me acolheu sofrera um infarto fulminante e morrera indo a caminho do hospital. Realmente não a percebi em meio daquela calamidade, e senti um aperto imenso no meu chackra do amor, dos sentimentos, fiquei abalado.

Foi um choque para mim que injustamente aquela senhora cheia de alegria e generosidade tenha ido a um momento tão horrível quanto aquela. Senti-me insatisfeito com meu feito de armazenar os espíritos no jarro negro.

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