Capítulo 3

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Quando acordei na manhã seguinte esperei a dor de cabeça vir, mas ela não veio. Então abri meus olhos e a noite passada não era um flash, ou um apagão, era nítida. A dor de cabaça não veio, a ressaca não apareceu por um simples fato: eu não havia bebido absolutamente nada. Pelo menos a ressaca alcoólica, não podia dizer o mesmo da moral. Todas as vezes que eu acabava fazendo algo com Mani, logo no dia seguinte eu me sentia assim, porque eu sabia que ela nutria sentimentos por mim, mas algo não deixava que eu me afastasse dela.

Não! Não era nenhum tipo de sentimento, não amoroso pelo menos da minha parte, mas eu tinha um cuidado com ela, uma preocupação. E sei bem do que estou falando sobre o que sinto, pois a poderia ver com quem fosse e não sentiria o mínimo de ciúme.

Sem enrolar mais, sento-me na cama, jogando o edredom que eu usava para o lado. Viro minhas pernas para fora da cama, passando as mãos em meus cabelos antes de tomar coragem e levantar da cama. Não sou muito de demorar no meu processo matinal para me arrumar, tomo um banho, escovo os dentes, passo uma maquiagem leve apenas pra tirar qualquer marca de olheira que tivesse ficado e não deixar minha boca tão pálida.

Quase nunca como nada em casa, moro sozinha e não vejo motivo algum em cozinhar pra mim mesma, então sempre compro alguma coisa no caminho de ida para o escritório, e na volta antes de vir para casa. Não, claro que nem sempre fora assim, houve uma época que eu era a pessoa mais feliz do mundo, agora apenas me sinto sozinha, me forçando a viver as próximas horas, os próximos dias e eu mal percebia quando os meses se passavam e já era natal.

Era por isso que eu colocava minha vida inteira na minha empresa, bom, pelo menos era um porto seguro que eu poderia ter. Só que hoje o lugar de porto seguro passou a ser de irritação, porque desde que cheguei na Immagini Co. hoje na metade da manhã e me preparei para começar uma sessão de fotos que eu teria que fazer eu mesma, pois era algo muito importante, não queria deixar nas mãos de algum dos meus fotógrafos, apesar de confiar muito no trabalho deles. Eu queria uma perfeição e apenas eu conseguiria alcançar. E isso é o encanto de quando conseguimos fazer o que amamos, quando conseguimos alcançar o ponto mais alto, nós escolhemos o que queremos fazer e dizemos não ao que não queremos, simples assim, ninguém vai me olhar de cara feia quando eu não quiser fazer uma sessão, simplesmente terão mais 10 fotógrafos contratados por mim querendo o trabalho.

O motivo da minha irritação: Camila Cabello. Camila era uma das modelos mais utilizadas pela empresa, apesar dos nossos desentendimentos frequentes, ela realmente era uma das melhores e mais qualificadas para todo o tipo de fotografia. Quando eu marquei essa sessão para hoje já sabia que ela era uma das escaladas e eu tive que engolir qualquer coisa pra ficar por horas e horas na mesma sala que ela.

— Bom dia, Lauren! — Ouvi a voz da primeira Camila do dia e não demorou nenhum o "b" pra eu ter que contar até dez, realmente, seria um longo dia.

A segunda Camila do dia era uma Camila sorridente, de bom humor, disposta a trocar todos os figurinos que eu e meus estilistas julgávamos errados para os finais da fotografia. A terceira Camila do dia era uma Camila com uma irritante necessidade de ir ao banheiro de 5 em 5 minutos, o que rendeu minha segunda contagem até 10, que emendou em mais 10 quando logo em seguida a quarta Camila do dia apareceu e não parava de ter que atender ligações e responder a mensagens em seu celular. A quinta Camila do dia não queria suas roupas menos chamativas do que suas colegas de foto. Minha conta foi parar em mil.

Quando eu já tinha perdido as contas das versões da Camila e já não sabia que número vinha depois dos novecentos e noventa e nove trilhões, eu desliguei todas as luzes e saí praticamente voando do estúdio, ignorando a voz da primeira Camila do dia perguntando se eu iria fazer alguma coisa. Tudo que eu queria era sair o mais rápido possível de lá, ainda era cedo, faltavam poucos minutos para às onze da noite, mas eu não suportaria um segundo a mais sequer.

Foi automático o caminho desde que entrei no meu carro à Jet Lag, precisava de Normani, precisava de Normani desde que ouvi aquele bom dia. Minha mente ia a mil por hora que não me toquei de que ainda era cedo e que se Mani fosse aparecer, seria somente em algumas horas. Só fui cair na real quando entrei na boate e vi Dinah em seu posto de sempre no bar, livrando seu braço de um aperto que de onde eu estava parecia ser extremamente forte. E olha só, era o mesmo cara que eu havia visto sair com ela daqui ontem.

Meu instinto de protegê-la sobrepôs ao medo que eu tinha de aproximação e quando me dei conta eu estava em frente ao bar, em frente a Dinah que teve seu braço solto assim que o rapaz percebeu que eles não estava mais sozinhos.

— Atrapalho alguma coisa? — Não sei de onde tomei essa coragem, eu realmente não sei, meses evitando qualquer contato com a loira, meses pedindo bebidas para garçons pra não ter que ir até lá e agora estou aqui, defendendo-a de um homem que nem sei quem é. Mas definitivamente o homem com quem ela havia saído daqui ontem. — É que pedi uma bebida para um dos garçons faz quase meia hora e ninguém me levou nada. — Inventei a primeira coisa que me veio à cabeça, e acho que minha voz nem tinha saído muito convincente.

— Não, você não atrapalha nada, o que você tinha pedido? — Ela me pergunta, evidentemente forçando um sorriso nos lábios. Então percebi que eu conhecia mais de Dinah do que eu imaginava, e eu conhecia apenas por observá-la de longe. Todos os dias ela sorria e ria para as pessoas, fosse alguma piada, algum comentário, um sorriso simpático. Eu adorava todos aqueles sorrisos, eu poderia criar um diário de:

"Tipos de sorriso da Dinah:

- sorriso número um: sorriso de quando a vi pela primeira vez, espontâneo, verdadeiro, algo que vinha do coração dela;

- sorriso número dois: sorriso simpático de sempre que ela ouvia o pedido de alguém e o entregava;

- sorriso número três: sorriso por ver alguém que ela conhecia chegar na boate;

- sorriso número quatro: sorriso por ter ficado muito feliz com algum elogio que lhe fizeram;

- sorriso número cinco: sorriso forçado, esse que eu havia aprendido hoje e por causa desse cara que eu não sei quem é, mas já não suporto a presença."

Quando ele se afastou por perceber que a situação ficaria muito pior para o lado dele por ser um ambiente cheio de gente se ele fizesse alguma cena, eu conheci o sorriso de número seis, o sorriso triste de Dinah. Nesse momento minha cabeça começou a trabalhar a mil por hora, triste por ele ter ido embora? Triste por ele ter feito aquilo? Triste por ela não saber o que fazer? Por medo? Não me interessava o motivo mais quando percebi que ela lutava para se manter firme ali sem demonstrar nada. Só que alguém que conhece seis diferentes sorrisos de uma desconhecida, perceberia que ela não estava bem.

— Nada, eu não tinha pedido nada, só achei... Bem, eu não sei o que eu achei, apenas um instinto tomou conta de mim. Me perdoe se me intrometi em algo que eu não deveria... — Não consegui terminar de falar, pois senti sua mão cobrir a minha em cima do balcão e tive que me esforçar pra que meu corpo não estremecesse por completo. Até a mão dela é linda.

— Você não se intrometeu em nada, eu na verdade te agradeço, aquilo iria render uma cena e tanto que eu não poderia ter no lugar onde trabalho. — Ouvi sua voz, seguida de um sorriso que fez com que eu parecesse uma boba com toda a certeza. O sétimo sorriso de Dinah, o de agradecimento. — Obrigada, senhorita...

— Lauren, pode me chamar só de Lauren, Dinah. — Respondi sem pensar que eu havia dito seu nome sem que ela me dissesse qual era, mas ela não disse nada, apenas piscou pra mim, acho que ela era acostumada com as pessoas sabendo seu nome. — Você está bem mesmo? Quer que eu te leve pra casa ou pra tomar um ar? Qualquer coisa assim?

Eu já não tinha limites perto dela, como eu já previa antes que seria assim. E então percebi que sua mão ainda estava sobre a minha de um modo tão natural que não me fazia ter vontade de me afastar dali.

— Preciso falar com o Josh... — Ela começou a dizer, mas logo a interrompi.

— Deixe isso comigo depois, não se preocupe, só vamos apenas. — Ela não insistiu mais e nem resistiu, pegou sua pequena bolsa que deixava atrás do balcão e seguimos lado a lado para a porta da boate e encontramos um Tom muito confuso por eu estar ali bem antes do meu horário de sempre.

Dame Esta Noche - LaurinahOnde histórias criam vida. Descubra agora