Assim que me viro para o mesmo com a bandeja noto o quanto a sua está lotada com um hambúrguer, coca-cola, duas barrinhas de chocolate meio amargo e uma maçã então começo a rir baixo chamando um pouco da atenção do pessoal já que sempre fico quieta, geralmente nem sorrio, mas é porque eu não tinha um motivo para isso, bem... Até meu amigo aparecer e se ele sabia dos meus problemas? Totalmente foi quem mais me apoiou na fuga, porém perdi contato ou melhor, dei um perdido nele para que meu tio não soubesse do seu envolvimento.
_ Isso tudo é fome? - pergunto levantando uma sobrancelha caminhando até a mesa mais isolada perto do vidro que dava uma bela visão da Universidade.
_ Sim? Já esqueceu como se come? - ele pergunta e então lembro de quando andávamos juntos.
Estava correndo pelo bosque perto da casa do Daniel e o mesmo me seguia rindo cada vez que um galho das árvores frondosas e grossas acertava a minha testa ou minhas canelas fazendo eu cair e levantar muitas outras vezes deixando uns arranhões que consequentemente virariam motivo de discussão assim que voltasse para casa.
_ Não podemos dar uma parada não? - falo alto ofegante e sorrio parando com as mãos nos joelhos.
_ Claro que não! Estamos quase lá! - ele diz fingindo estar bravo formando um bico fofo vindo até mim e agachando de costas para mim. - Sobe aê!
_ Tem certeza?
_ Se quiser andar tudo bem... - ele responde então subo rapidamente em suas costas o fazendo rir com minha atitude. - Preguiçosa.
_ Ei! - rio e dou um tapa em sua cabeça.
Ele começa a andar até que chegamos num espaço aberto com a grama baixa, perfeito para um piquenique que por acaso já estava preparado com uma enorme cesta de palha em cima de um pano vermelho quadriculado aberto revelando a quantidade enorme de comida que continha em seu interior.
Sou tirada de meus devaneios assim que me sento na cadeira e Daniel estala os dedos na frente do meu rosto pedindo atenção com um bico fofo que dizia: "Ei! Esqueceu que eu existo?". Começo a rir e abro o plástico do meu sanduíche observando o quão sem graça parece perto do lanche dele, mas logo me recomponho dando uma grande mordida sentindo o gosto do que acredito ser maionese em minha me fazendo sorrir.
_ Eu enho uma nova música para te mostrar! - ele diz animado e entrega um aparelho que finalmente me lembro ser um MP4 bem antigo azul com alguns arranhões nas laterais.
_ Ainda usa essa coisa velha? - falo meio sarcástica e sorrio em seguida com sua careta de irritação. Ele odeia que falem das suas coisas assim.
_ Ha ha ha. Vai ouvir não?
Suspiro e pego os fones em minha bolsa conectando no aparelho em seguida aperto o botão escutando os primeiros acordes de violão que me fazem arrepiar com a forma que mexe comigo. Então uma voz meio grossa e melancólica começa tocar então arregalo os olhos com a forma que meu coração acelera. Era como se a música fosse feita para mim.
Maybe fate is cruel to us,
The world understands us no more.
You have suffered so much to get where you are
But you still need to learn to trust.Fecho os olhos parando de comer com as imagens assustadoras do meu passado retornando em minha mente e então abaixo a cabeça respirando devagar deixando os acordes me envolver sentindo a música na parte mais profunda de mim, onde ninguém jamais tocou, onde continua imaculado a não ser pela escuridão.
_ Está tudo bem Milly? - ouço a voz do Dan ao longe como se estivesse a um quilômetro de distância do mesmo.
Como não consigo falar eu simplesmente ergo a mão suspirando fazendo um sinal lento com os dedos que estava tudo bem, mas na verdade estava um caos, era como se o teto do refeitório tivesse desabado sobre mim e isso me matava aos poucos...
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Sensações - Livro 1 - Duologia Seu Toque // H.S.
RomanceMillenna Garibald sofreu muito em sua adolescência por ter perdido os pais em um acidente de carro ficando totalmente indiferente ao mundo a sua volta. Obrigada a morar com os tios, tornou-se antissocial, preferindo Netflix à balada e sempre evitand...