Capítulo Seis

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O ar estava pesado naquela manhã. A névoa que começara a se levantar já estava cobrindo a lápide a minha frente. Desde a morte de minha mãe não havia voltado ali, nunca me senti a vontade para isso. Mas naquela manhã, assim que acordei, me deu uma vontade extraordinária de desabafar com ela.

Quando ela estava viva a contava tudo. Tudo mesmo. As atividades difíceis da escola, os professores chatos e sua pérolas, as "amiguinhas" falsas e até mesmo os garotos que me chamavam atenção. 

Foram um ano e meio sem a minha melhor amiga, sem a minha conselheira, sem a minha parceira de brigadeiro nos dias difíceis, sem a minha querida mãe...

Senti meu estomago embrulhar com todas as lembranças que invadiram minha mente e com aquela cena de filme de terror que a névoa causava. Apertei o casaco que estava usando contra o meu corpo, não estava frio, mas o fiz por extinto. Então, decidi que estava na hora de ir. 

Olhei o relógio e vi que o horário batia com o que eu tinha previsto para minha visita. Eram seis e meia, e eu iria dali direto para a escola, visto que eram vinte e cinco minutos do cemitério para a escola.

*********

Assim que cheguei vi Mel conversando com um grupinho de meninas. Ela estava usando uma blusa florida, uma calça jeans e uma sapatilha azul claro e os cabelos em um meio rabo de cavalo. Tudo a deixando bem alegre. 

Na verdade, ela estava bem alegre, não somente nas roupas que usava mais seu rosto transmitia uma alegria incomum. Não havia nada que lembrava o dia horrível de ontem. Absolutamente nada! Ela estava sorridente e suas expressões passavam uma tranquilidade para que a olhava, parecia que era a pessoa com a melhor vida do mundo.

Estacionei o carro e fui em sua direção. Enquanto me aproximava as meninas que conversavam com ela se despediam e iam embora.

-Oie! Como você está?- perguntei a abraçando sã de que já havia lhe perguntado isso hoje por umas cem vezes.

-Amiga, já te disse que estou muito bem.- Ela olhou no fundo dos meus olhos.- Por favor não preocupe comigo pelo o que aconteceu.- Agora seu olhar alegre passou a ser suplicante.- Caso não se lembre ainda tem uma vida aqui dentro -Ela apontou para a barriga.- ... que precisa da minha alegria. Agora vamos!- Ela me puxou para irmos para a sala.

*********

Estava no elevador da empresa que trabalhava. Assim que me direcionei para minha mesa já pude ver a pilha de documentos que lá estavam. Organizei tudo e fui leva-los para a sala de Maria Alice. Bati na porta duas vezes e não tive resposta alguma. Depois de algum tempo decidi abrir. 

Assim que abri porta silenciosamente, me arrependi de te-lo feito. Maria Alice estava sentada em sua mesa com as pernas presas em volta da cintura de Simon. O vestido justo de Maria estava levantado deixando a mostra sua bunda e Simon a acariciava e ela retribuía suas caricias passando as mãos por seus cabelos enquanto eles se beijavam loucamente. 

Aproveitei que eles estavam "concentrados"  no que faziam e fechei a porta tão silenciosamente quanto a abri. Respirei fundo e tentei engolir a cena totalmente inesperada. Passou-se uns cinco minutos e decidi bater na porta novamente, afinal, nós três precisávamos trabalhar.

-Espere um pouco!- pude ouvir a voz de Maria Alice soar ofegante. -Pode entrar.- dois minutos depois ouvi a voz de Maria novamente, bem mais controlada.

Quando entrei em sua sala Simon não estava mais lá, pelo menos não estava aonde meus olhos pudessem o ver, provavelmente estaria escondido. 

-Vim deixar estes documentos para você assinar.-ela disse me lançando um sorriso amarelo.

-Só isto?- assenti com a cabeça.- Ok, pode ir.- ela disse apressada.

-Sim.- disse me virando de costas e voltando a minha mesa.

Passou-se uns trinta minutos e Simon apareceu com a mais perfeita aparência, exceto pela marca cor de rosa em seu pescoço. Comecei a rir assim que a notei. Peguei um lenço em minha bolsa e o estendi e o mesmo me olhou confuso.

-Para apagar a marca do crime de seu pescoço.- disse gentilmente a ele como se não desse a miníma para o deleite nos braços de minha chefe.

Ele pegou o lenço e olhou seu reflexo na tela de seu computador de estava desligada e limpou a marca apressadamente.

-Minha namorada veio aqui.- pudia ver em seus olhos que ele mentia descaradamente.

-Claro. O nome dela é Maria não?- Simon congelou na posição em que estava.- Quem sabe Alice?- pude ver o corpo dele estremecer e se arrepiar.

-Por favor... Megan... Não conte...- a voz dele estrava tremula e o rosto pálido.

-Relaxa não vou contar.- alívio passou pelo rosto dele.- Mas tomem cuidado da próxima vez, ou ao menos tranquem a porta.- eu comecei a rir e voltei ao meu trabalho.

*********

Eu estava voltando para casa. Simon não disse nada durante todo o resto da tarde. Fiquei com dó por te-lo desmascarado daquela forma, mas precisava alerta-lo. Imagina se fosse outra pessoa a vê-lo aos beijos com Maria Alice? Certamente, seja quem fosse não iria ter do em sair por ai espalhando e fazendo escândalo.

Quando cheguei em casa a porta estava aberta. Entrei com cautela. Em cima da mesa havia um papel dourado.


"Me desculpe..."


Era o que estava escrito em um preto fosco. Corri até o quarto do meu pai, e estava tudo normal. Ele dormia tranquilamente enquanto a televisão falava sozinha, desliguei-a e fui apressadamente até meu quarto a procura de Mel. Por lá estava tudo normal também. Mel estava no banho cantarolando alguma música que não consegui decifrar.

Uma onda de alívio misturada com confusão passou por meu peito. Alívio porque as pessoas mais importantes para mim estavam a salvo e confusão por não saber o que aquele pedido de desculpas significaria.

Voltei para a cozinha para pegar o bilhete dourado para o analisa-lo novamente. Quando o peguei em minhas mãos o pingente do meu cordão se acendeu deixando o ambiente totalmente vermelho. Então, as letras do misterioso bilhete começaram a se misturar e sumir. Logo em seguida o bilhete queimou deixando apenas uma fumaça dourada e brilhante para trás.




Baseado Em MentirasOnde histórias criam vida. Descubra agora