Capítulo Sete

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A sala de aula estava vazia naquela manhã, talvez seja porque o dia amanheceu chuvoso. Eu estava em minha mesa concentrada na marca dourada que havia ficado na palma da minha mão como se fosse uma queimadura. 

Eu estava totalmente alheia ao que a professora de biologia passava no quadro ou nas perguntas que eventualmente fazia aos poucos alunos que ali estavam. 

Saia da sala...

Uma voz desconhecida disse e eu estremeci. Olhei em volta para ver se alguém mais tinha ouvido a voz, mas ninguém parecia espantado como eu. Estavam todos prestando total atenção na aula de biologia.

Saia da sala...

A voz falou novamente e pude perceber que estava falando em minha mente. A voz dessa vez soou como um sussurro. Eu não sabia exatamente o que fazer. Minhas mãos estavam trêmulas e eu comecei a suar frio.

SAIA DA SALA AGORA!

A voz dessa vez pareceu bastante autoritária. Então, me vi escorregar pela cadeira e ir andando até a porta. Meus pés não me obedeciam, não queria fazer o que a tal voz disse, mas parecia que algo me atraía para fora da sala. 

O corredor estava vazio, não havia ninguém lá. De repente algo passou muito rápido pelo corredor, formando um vento forte que fez meus cabelos voarem. Passou mais uma vez com a mesma rapidez e pousou em minha frente. Era um pássaro. Um tordo. 

Tentei me aproximar, mas algo, como um campo magnético me empurrou para trás e caí com as costas no chão. Olhei para o pássaro e ele estava se transformando em algo. Tampei a boca com as mãos para impedir o grito que se formava em minha garganta. 

A forma do pássaro deu lugar a forma de uma mulher. Ela era alta e pálida. Usava um vestido longo verde musgo e um casaco preto tão longo quanto o vestido. Ela tinha um par de olhos verdes bem vivos e os cabelos negros longos até a cintura. 

Ela veio em minha direção e eu me levantei meio cambaleando. Minhas costas doíam por causa do impacto que havia sofrido e pingava sangue de um corte superficial no braço. Ela parou a uns três passos de mim. Ela me encarou com certa curiosidade e descrença.

-Victória? Como pode ainda estar entre os vivos?- ela disse me olhando de cima a baixo como se estivesse me analisando. Ela ainda não tinha deixado a expressão de descrença.

-Você esta me confundindo com alguém.- disse sem entender absolutamente nada do que ela falava. 

-Não me venha com essa de não sou quem você pensa que eu sou. Conheço todos os seus joguinhos.- ela cuspira as palavras, como se tivesse nojo delas. Eu ainda a olhava confusa.- Então é assim? Some por trezentos anos e aparece novamente sem dar nem explicações?- ela fez uma pausa dramática jogando os cabelos que estavam caídos sobre os ombros para trás- Se não fosse essa barreira que está a protegendo eu já teria arrancado seu pescoço.- seu rosto foi tomado de ódio e seus olhos começaram a mudar do tom verde claro para um verde musgo arrepiante, as veias ao redor de seus olhos se sobressaltaram e presas lhe rasgaram o lábio inferior.

Uma onda de medo passou por todo meu corpo. Já podia imaginar ela me atacando e estraçalhando cada parte do meu corpo. O que eu iria fazer? Será que aquele seria o meu fim? 

Ela deu dois passos em minha direção. Começou a falar palavras que eu desconhecia e chamas douradas saíram de seus dedos por dois segundos e se apagaram. Ela olhou para trás, mas não tinha nada lá. Nada que eu conseguisse enxergar. Ela me olhou novamente e sumiu. Simplesmente sumiu...

*********

Estava na sala de casa, andando de um lado para o outro feito uma louca. Depois da visita nada agradável eu tinha voltado para casa. Não tinha psicológico para voltar para dentro da sala e fingir que estava tudo bem, que nada tinha acontecido, que só havia ido tomar uma água e nada mais.

 Estava com medo. Não sabia se aquela mulher iria me procurar de novo ou se me deixaria em paz, mas disso eu duvido muito, ainda mais que ela pensava que eu era outra pessoa.

-Megan, abre a porta!- fui tirada de meus pensamentos pelos gritos agudos de minha amiga.- Nossa tem quase meia hora que estou batendo e te chamando.- ela disse assim que abri a porta.

-Desculpa, não tinha ouvido antes.- disse totalmente alheia a ela.

-Já são meio dia e meia. Não vai trabalhar hoje não?- ela perguntou e eu me despertei dos pensamentos que ainda rondavam minha mente.

-Claro que vou. Obrigada por avisar.- disse, agora sim olhando para minha amiga.

Corri na sala para pegar minha bolsa e despedi de Mel. Em menos de vinte minutos já estava na empresa. Bati cartão ás uma em ponto e fui para a minha mesa. 

Quando cheguei lá Simon estava colocando algumas coisas de sua mesa dentro uma caixa de papelão. Não precisava nem ser um gênio para saber que ele havia sido mandado embora. Já ia me perguntar por qual motivo o demitiriam quando a cena de ontem na sala da minha chefe me veio a cabeça. Tinha certeza de que era por causa disso.

-Simon, o que aconteceu?- me aproximei para conversar com ele.

-O que aconteceu sua garota estúpida?- ele disse sem olhar para mim com total raiva na voz.- Você arruinou a minha vida e agora vem com toda essa falsidade pra cima de mim?- pude ver lágrimas descerem de seus olhos. Nunca havia ouvido Simon falar com ninguém daquele jeito.

-Não sei do que você esta falando. Eu não fiz nada.- eu tentei tocar em seu braço, mas ele se afastou abruptamente.

-Você espalhou para todos o meu caso com a Maria...- agora sua voz carregava um tom de pesar.

Demorei um tempo para digerir sua acusação e quando ia me defender, dizer que não tinha sido eu, que eu jamais faria isso pois eramos amigos, ele já tinha ido embora. E eu nunca mais teria a chance de dizer tais coisa para ele...



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⏰ Última atualização: Feb 04, 2017 ⏰

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