A claridade que batia em meu rosto chegava a ser incomoda. Escutei vozes distantes. Será que eu morri? Forcei minhas pálpebras a abrir, mas nada aconteceu. Droga. As vozes pareciam estar bem perto. Tentei me concentrar no que diziam.
"Já faz uma semana que ela está assim?" alguém comentou com a voz chorosa.
"Eu sei Helena, mas não a nada que possamos fazer" outra pessoa respondeu antes de suspirar. – "Minha menina tem que acordar".
"Senhora Mitchell, ela vai acordar" Helena falou convicta.
"Eu espero querida" minha mãe respondeu.
Mamãe. Como eu queria poder gritar que eu as estava escutando. Que estava bem. Forcei novamente minhas pálpebras e novamente não obtive sucesso. O esforço acabou com as minhas energias e mais uma vez me entreguei à escuridão.
Quando abri os olhos estava em uma clareira. Havia flores por todos os lugares. O sol brilhava intensamente me aquecendo. De repente senti braços me rodearem. Sorri. Nunca esqueceria esse abraço. Hermes. Virei para olhá-lo nos olhos.
"Hermes" sussurrei.
"Minha doce Sophie" ele respondeu sorrindo.
Hermes estava bem diferente da ultima vez que nos vemos. Seu rosto estava abatido, suas vestes sujas de lama (talvez). Seu sorriso não alcançava os olhos. Algo está muito errado.
"Você lembra o que aconteceu?" ele perguntou temeroso.
"É lógico que eu lembro" respondi começando a recordar dos últimos acontecimentos.
Rapidamente me afastei do deus dos ladrões. Meus olhos imediatamente marejaram. Cada atitude e cada palavra que pegaram como um trem descarrilado. O amor que eu sentia por esse deus foi esmagado e tornou-se magoa.
"Você tentou me matar!" o acusei. – "Nem sei se você conseguiu" completei.
"Sophie, eu não matei você" ele respondeu tentando se aproximar, mas a cada passo que ele dava, eu recuava um.
"Não chegue perto" pedi triste. – "O que aconteceu? Como posso estar falando com você?" perguntei.
"Seus amigos iram te explicar o que aconteceu" ele respondeu. – "Só queria vê-la uma ultima vez, por isso pedi a Morfeu que me colocasse em um dos seus sonhos".
"Não estou entendendo mais nada" comentei.
"Doce Sophie, eu fui banido por Zeus" ele respondeu triste. – "Nunca mais poderei vê-la"
"Então como está aqui?" perguntei incrédula.
"Meu último pedido. Que eu pudesse me despedir de você" ele respondeu chegando mais perto. – "Eu só tenho um ressentimento. Apenas um".
"Qual?" perguntei sussurrando. Meu coração doía. Apesar de todo mal que ele me fez, meu coração é dele. Esse maldito deus ocupa um lugar no meu coração.
"De ter feito você chorar. Se eu pudesse voltar no tempo, não deixaria você derramar nenhuma lágrima" ele falou caminhando até minha frente. Suas mãos seguraram meu rosto. – "Sophie, eu queria ter sido bom para você" completou.
A essa altura lagrimas corriam livremente pelo meu rosto. Ele tentava as enxugar, mas não estava dando certo. Hermes encostou a testa na minha e respirou fundo. Olhou no fundo dos meus olhos.
"Me perdoe minha amada" ele pediu. – "Saiba que apesar de todo o mal que eu te fiz, meu coração é seu e vou passar o resto da eternidade lembrando-me do que eu te fiz e de como te perdi" comentou dando um beijo em minha testa.
"Isso é um adeus?" perguntei chorando.
"Infelizmente meu amor" ele respondeu enquanto uma lágrima corria por seu rosto. –"Você me perdoa?".
"Eu te perdoo" respondi.
"Adeus. Seja feliz" ele falou.
Hermes me soltou e caminhou para longe. Não consegui me movimentar. Lágrimas rolavam por meu rosto, logo se transformaram em soluço. Parecia que parte de mim estava sendo arrancada. Continuei olhando ele sumir. Logo não havia nada no final da clareira. Eu sabia que nunca mais iria vê-lo.
Senti a luz do sol ficar mais forte. Meus olhos começaram a arder. Os fechei imediatamente. Quando tornei a abrir não estava mais na clareira. Na minha frente estava minha mãe, Julie Mitchell.
"Finalmente você voltou para nós bebê" ela comentou sorrindo.
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A Guardiã
FantasyO que você faria se sua vida mudasse da noite para o dia? Tudo o que eu pensava ser real é na verdade uma perfeita mentira. Para completar minha vida é virada de cabeça para baixo e descubro que todas as lendas que eu acreditava serem mentira...