1 - P R O B L E M S

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Capítulo narrado por Blair

Acompanhava com os olhos cada mínimo movimento que o ponteiro do relógio rosa pendurado na parede fazia. Aquela consulta já se arrastava por longos minutos e eu não via a hora de poder levantar e ir embora. Afinal, isso é patético.

Eu nunca fui o tipo de pessoa que costuma se expor. Expor os pensamentos, sentimentos, as armaguras...Nada. talvez porque eu sempre soube que a partir do momento que alguém conhecesse o que se passava em minha cabeça ou no meu coração, aquele seria o fim. Eu estaria vulnerável. E eu, Blair Lil Collins, odeio me sentir vulnerável.

- Não quer falar nada? - Annabeth, a psicóloga, questionou, tirando a minha atenção dos ponteiros chamativos daquele relógio delicado que combinava perfeitamente com toda a decoração do consultório.

Pelo menos meus pais escolheram uma profissional competente e com um consultório bom o suficiente para receber a filha de uma das mulheres mais influentes de toda Manhattan. Pelo menos isso.

- Estaria falando se quisesse. - eu disse em um sussurro, com a breve esperança de que a mulher de cabelos claros e olhos incrivelmente azuis em minha frente pudesse ouvir mas não compreender.

- Blair, ... - Ouvi a voz de Annabeth, que soava com delicadeza pelo ambiente amplo. - ...Seus pais estão pagando por essa consulta porque estão preocupados com você.

Ultimamente meus comportamentos realmente mudaram, mas eu sempre fui a mesma. Nada mudou em mim. Eu apenas comecei a aceitar mais a realidade que esteve comigo em toda a minha vida; eu nunca fui boa o bastante, e isso é uma coisa que nada nem ninguém pode mudar. E olha que eu tentei. Eu tentei de verdade. 

- Eles querem que você melhore, assim como eu também quero, mas nada disso vai funcionar se você se manter intocável. - Annabeth concluiu, tocando a minha mão delicadamente.

E o que aconteceria se eu não me mantessem intocável? estaria exposta e essa é a última coisa que eu quero.

- Eu não sei de onde eles tiraram essa loucura. - eu disse, cruzando os braços e me pondo de pé. Era capaz de ficar louca se passasse mais tempo ali. - Eu estou bem.

- Não, Blair, você não está. - Ela disse, como se me conhecesse perfeitamente bem. Ela não está errada, mas isso não significa que esteja certa.

- Quem você pensa que é? - perguntei, apertando a bolsa Prada contra o meu ombro.

- Eu sou uma profissional e você é uma menina que precisa de ajuda profissional. - ela disse, arrancando um riso desdenhoso de mim.

- Você é patética. - eu disse, me virando para sair.

- O tempo não acabou, Blair. - ela me informou, apontando para o relógio atrás de si, mesmo sem olha-lo.

- Claro, afinal, nunca existiu tempo algum. - eu sorri para ela, dei uma piscadela e abri a porta, andando para fora dela com tremenda pressa.

Ao cruzar a recepção alguns olhares automaticamente vieram em minha direção. Eu sempre recebia atenção dessa forma. Pelas minhas roupas, pela minha beleza herdada de minha mãe... Mas nunca alguém parava para reparar em mim de verdade. Na Blair sensível e carente que existe por trás de toda essa bela fantasia atribuída a mim ao decorrer dos anos.

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