Capítulo 05 - Lilly

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Abro os olhos e espreguiço-me sorrindo. Há anos não dormia tão bem assim e em uma cama que não foi roída por ratos. Mas meu sorriso cai ao lembrar-me do porquê estou aqui e tudo o que aconteceu no dia anterior. Agradeço aos céus por tê-los colocado em minha porta, pois eu não tinha mais nada para alimentar Haniel. Viro-me e contemplo meu filho dormindo tranquilamente ao meu lado. Obrigada, Deus!

Meu coração aperta por dar-me conta de que mais uma vez falhei com essa criança. Só que eu não realmente não sei mais o que fazer. Já tentei fugir de Gianfranco muitas vezes e ele sempre me encontrou. E a cada reencontro, uma surra. Então desisti, pois eu não suportaria ver Hunny ser maltratado. Eu sei que deveria denunciar, mas, e quando ele sair da prisão, quem me salvará da sua fúria? Quem cuidará do meu filho? Prefiro levar toda as pancadas e manter Haniel intacto.

Ontem, no jantar na casa do senhor Gabriel Saints foi um pouco constrangedor, principalmente quando ele anunciou que sou responsabilidade do senhor Raziel. Eu me senti tão mal! Eu não quero ser carga de ninguém, eles não são responsáveis por mim. Mas o fato deles se esforçarem para deixar-nos confortáveis, tocou meu coração. Esses homens são saíram diferentes de seus pais, que são extremamente queridos e generosos. A senhora Micaylah Saints apesar de intensa, tem um grande coração nobre.

O médico me examinou de cima a baixo e não encontrou nada de grave, só receitou alguns analgésicos para dor e disse que estou muito abaixo do peso, que eu deveria me cuidar mais, alimentar-me direito. Se ele soubesse a minha realidade... Enfim, a senhora Micaylah tomou isso como algo pessoal e no jantar tratou de encher meu prato várias vezes. Ela ordenou ao meu anfitrião que cuidasse bem de nós. Ainda deu roupas lindas tanto para Haniel quanto para mim. Odeio me sentir um caso de caridade, só que ontem não senti isso... não sei. Eles trataram-me de um modo como se eu fizesse parte daquilo, eu não sabia nem como agir.

Quando chegamos a casa do senhor Raziel, fiquei impressionada e oprimida pela exuberância do lugar. Não sabia o que dizer e nem o que fazer. Acredito que ele também tenha ficado um pouco perdido, por um momento até pensei que ele nunca tinha recebido ninguém em sua casa. Também me peguei pensando se sua falecida esposa viveu aqui. Ouvi que ele era completamente apaixonado pela mulher, que morreu durante o sequestro deles. Pobre homem! Perder o amor de sua vida de um modo tão trágico, não deve ser fácil.

Sem jeito, ele levou-me até um dos quartos de hóspedes.

— Acha que você e a criança ficarão bem aqui? Talvez ele fique melhor em outro quarto, assim você tem mais privacidade...

Eu o interrompi:

— Não, senhor. É maravilhoso, mas acho que ficaríamos melhor nos aposentos para empregados. Se o senhor me indicar, chego sem o menor problema.

Ele virou para mim e com aqueles olhos intensos, disse:

— Nem pensar! Você não é empregada, não é intrusa, é a minha convidada. Ambos são meus convidados – ele aponta para o quarto. — Fique a vontade. É seu enquanto estiver aqui.

— Senhor...

— Raziel. Se eu tenho que lhe chamar de Lilly, você deve me chamar pelo meu primeiro nome. Ok?

Seu tom de voz dizia claramente que é uma ordem.

— Tudo bem. Obrigada, se... Ra-raziel – ela corrige-se.

— Você é livre para fazer o que quiser na casa, sinta-se à vontade. Não devo ter nada na geladeira, mas Micah enviou algumas coisas para o seu filho. Amanhã mandarei alguém resolver isso – ele aponta para as portas duplas ao final do corredor. — É meu quarto. Qualquer coisa, basta chamar. Shaw dorme no térreo e também está a sua disposição.

Raziel - Trilogia Saints (livro 02)DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora