PRÓLOGO

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Você acredita em lendas? 

Hm..., então talvez eu devesse te contar uma. 

Há muitos anos, um velho e rico coveiro casou-se com a moça mais bonita de sua cidade. O coveiro tornou-se tão deslumbrado com a sua beleza, que resolveu eternizá-la, deixando que sua esposa fosse bela e jovem para todo o sempre. Ele não queria que ela envelhecesse, ou que o tempo e as cruéis marcas de expressões, modificassem seu rosto perfeito. E tomando esta egoísta e infeliz decisão, o coveiro de cabelos brancos, fez de sua jovem esposa a mais linda boneca humana daquela região.

Mesmo se seu coração não pulsasse mais, ela seria linda para sempre; mesmo se seus olhos não piscassem mais, ela seria linda para sempre; mesmo se seus braços e pernas não se mexessem mais, ela seria linda para sempre; mesmo se cada gota do seu sangue, fosse drenada, ela seria linda para sempre; e mesmo se sua voz ficasse aprisionada dentro do próprio corpo, ela seria linda para sempre.

Era o que o coveiro pensava. Uma vida em troca da beleza e juventude eterna de sua esposa, que nem ao menos teve a chance de lutar contra a faca cravada em seu peito durante uma linda e calorosa tarde de primavera.

Ela estava morta agora, e que o restou era apenas a imagem de uma bela carcaça pintada e trajada em exuberantes vestidos de festas. Uma boneca não envelhece, certo?

Ele havia conseguido, ele havia eternizado a beleza de sua, agora, falecida esposa. Isso foi tão fácil, afinal, ele era o único coveiro da cidade, era de confiança, e ninguém conhecia tão bem como ele, um corpo gelado e sem vida. Mas o coveiro foi cauteloso, só tocou em sua esposa quando tinha certeza do que estava fazendo, ele não poderia errar, não teria uma segunda chance. E por este motivo, o coveiro passou anos profanando cadáveres de seu cemitério, a fim de conseguir obter algum resultado antes de fazer o mesmo em sua esposa.

Pobres corpos sem vida. Pobres famílias que iam visitar túmulos vazios sem ter a mínima noção do que aconteceu com seus Entes Queridos.

Em todas as idas do coveiro até o cemitério, ele levava consigo, sua filha mais velha, que era extremamente parecida com ele, não apenas em aparência, mas como em sua personalidade. A garotinha não media esforços para agradar seu pai, tudo que ela queria era um pouco de atenção e reconhecimento, e se fosse preciso ajudá-lo em toda essa loucura pecadora para conseguir um mísero resquício de afeto de sua parte, então que seja.

Mas, um pequeno imprevisto em toda essa história louca, acabou atrasando os planos do coveiro, sua esposa estava grávida pela segunda vez. Oh, não! Isso não era bom, agora ele teria que esperar por mais longos nove meses, mesmo tudo já estava pronto.

Quando sua segunda filha nasceu, ele finalmente pôde dar início ao que planejou. Já havia perdido tempo demais. A cada dia que passava sua esposa envelhecia, fazendo com que tudo começasse a escorregar por entre seus dedos. Ele precisava ser rápido.

Então, assim que Rize nasceu, o coveiro a deixou com sua irmã mais velha, pediu que a garotinha se trancasse em seu quarto com o pequeno e frágil bebê, e só saísse de lá quando ele retornasse para casa. E como já era de se imaginar, a garotinha de marias-chiquinhas, obedeceu ao seu pai, fielmente.

Era primavera, o dia estava lindo e ensolarado, a natureza parecia saldar o nascimento de uma nova vida, mas, com certeza, choraria pela perda de outra. Isso não importava agora, tudo que ele precisava fazer naquele dia, era arrastar sua esposa até seu cemitério, onde ele a levou até um velho casebre escondido dentro do lugar. E chegando lá, sua esposa gritou aos prantos por ajuda, falou que ele era louco, e implorou para que o coveiro não fizesse aquilo com ela.

RIZE || H.S [SHORTFIC]Onde histórias criam vida. Descubra agora