As luzes estão acesas, Jacky está me esperando. Ele deve estar na cozinha, preparando sua famosa Carne de Forno, as duas taças de vinho no balcão, a mesa de jantar pronta, com rosas vermelhas no centro.
Embora a cena pareça agradável, romântica... Estou com medo de entrar. Como vou explicar a gravidez? Como vou escapar disso?
No rádio do carro, o locutor se despede de mais um dia... Não posso mais ficar aqui. Retiro a chave da ignição e abro a porta do carro.
Ao caminhar até a porta da frente, repenso minhas opções... Eu posso fugir, sair correndo e não olhar pra trás. Eu posso entrar e contar toda a verdade. Ou eu posso entrar e mentir, como sempre faço. Qualquer opção que eu escolha, vai acabar com a minha vida.
Com a mão na maçaneta, respiro fundo pela última vez e entro. Dentro da casa o aroma é doce. Ao fundo, posso ouvir a voz suave de Frank Sinatra.
Ele está lá, na cozinha. Jacky sorri quando me vê. Deixo minha bolsa no sofá e me livro do casaco. Corro para seus braços. Por baixo de toda essa confusão, eu ainda amo ele. Amo as noites que passamos juntos... Amo quando ele toca meus cabelos e sussurra que está tudo bem...
- Por que demorou? - Jacky sorri.
- O trânsito estava péssimo. - O que não é totalmente mentira.
- O jantar está quase pronto. Quer uma taça de vinho?
- Claro.
Jacky serve duas taças e entrega uma para mim.
- Á nós. - Ele sorri.
- Á nós...
Brindamos.
Me sento na bancada, observando Jacky terminar de cortar os legumes da salada. É agora ou nunca. Preciso contar...
- Ainda gostaria de ter filhos? - A pergunta sai antes que eu possa contê-la.
- Eu já te expliquei isso, Melissa. Vou ter filhos quando eu decidir ter.
- Por quê?
Jacky abaixa a faca e me encara.
- Por que essa conversa agora? Tem algo que queira me contar?
- Estou grávida. - Pronto, falei. Agora não tem mais saída.
- Não brinque com coisa séria, Melissa.
- É sério. Um mês...
- Não acredito! - Jacky grita. A faca é lançada na pia. - Sabe o que vai acontecer, não sabe? Seu marido vai descobrir sobre nós, e a minha carreira vai pro buraco. Esse verme vai estragar tudo.
- Não fale assim do bebê. - Meus olhos ardem. Luto para conter as lágrimas.
- E como eu devo falar, Melissa? É isso que ele é, um verme. Vai estragar tudo. Chega. Acabou. Vá embora e nunca mais volte.
Me levanto espantada. Como ele pode me expulsar?
- Jacky, eu...
- Não! - Ele grita. - Vai embora. Já chega dessa mentira. Você corre todas as noites até aqui pra fugir do seu casamento. Eu disse que te amava, e ainda amo. Mas precisa se decidir, Melissa. É ele ou eu.
- Não posso fazer isso. Meus filhos..
- Foda-se os seus filhos. Eu quero você, não eles. - Ele se aproxima. Quando fala, sua voz está calma de novo. - Esqueça essa vida, querida. Fique apenas comigo. Vamos nos mudar para Paris, nos casar... Só você e eu.
Dou um passo para trás. Eu amo o Jacky, mas meus filhos são tudo pra mim.
- Desculpe, Jacky. Não vou abandonar os meus filhos.
- Então vai embora. E não pense em voltar.
Ainda tentando conter as lágrimas, caminho até o sofá. Pego minha bolsa, visto o meu casaco e saio. Lá fora, o ar gelado me atinge. Dane-se o carro, vou andando. O frio vai me ajudar a esfriar a cabeça.
Merda... Não era assim que eu imaginava... Estou em um beco sem saída.
Caminho depressa pelas ruas, a casa de Jacky não fica muito longe da minha.
O carro de Will está na garagem, as luzes apagas. Ele deve estar dormindo. Entro em casa com calma, não vou acordar as crianças. Antes de ir para o meu quarto, dou um beijo em cada um. Lukas e Miguel, meus anjos. Will está sentado na cama quando entro no quarto, lendo um livro. Ele nem sequer nota a minha presença.
No banheiro, retiro a roupa e entro debaixo da água quente. Deixo o calor me atingir. Só agora, só aqui, deixo as lágrimas escorrerem... Deixo a dor invadir...
O que eu vou fazer agora?
Depois do banho, visto meu pijama (uma velha camiseta de Will) e me deito na cama. Will ainda está lendo...
- Como foi o cinema?
- O quê? - Me assusto com a voz de Will.
- O cinema com as suas amigas, como foi?
- Ah, foi legal. - Cinema, a mentira que eu conto para o Will quando vou me encontrar com Jacky. Eu vou ao cinema com as amigas, para esfriar a cabeça. Patético.
De repente, Will deixa o livro na mesinha de cabeceira e fica em cima de mim.
- O que está fazendo? - Pergunto assustada.
- Olha, sobre o que eu disse ontem, me desculpe. Eu não quis dizer que você não educa direito os meninos, é só que eu ando muito estressado por causa da viagem. Me desculpe.
- Tudo bem... - Will pedindo desculpas? Isso é novidade.
- Eu realmente tenho muita sorte de ter uma mulher como você ao meu lado.
- O que está acontecendo?
- Por quê?
- Você ficou romântico de repente.
- Eu percebi que se eu continuar agindo feito um idiota, vou perder você, perder os meus filhos... E eu não quero isso. - Will me beija... Com paixão. Seus dedos correm pelo meu corpo, e param na minha calcinha.
Há muito tempo ele não fazia isso... Me amava. Retiro sua cueca com dedos trêmulos, e ele faz o mesmo com a minha camiseta e a minha calcinha. De repente, ele me vira, estou em cima dele... E ele dentro de mim.
- Diga que me ama, por favor. - Ele me encara.
- Eu te amo.
E isso é verdade... Eu disse que amo Will pela primeira vez em 10 anos.
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MELISSA (A Filha de "BELLE")
Non-FictionMelissa é casada, tem filhos... Porém sua vida não é perfeita. Está cada dia mais difícil esconder o segredo... E a gravidez indesejada pode acabar com tudo. Mas Melissa não sabe o que a espera. Ela finalmente descobre quem é o homem ao seu lado. Me...