DOLLHOUSE

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      "E em sua casa perfeita

Papai geme enquanto mamãe está bêbada

Seu irmão sempre chega em casa chapado.

E ela os assiste sozinha em seu quarto."

       Antes mesmo do sol nascer uma confusão rondava a casa da Cry Baby, uma das casas mais chamativas do bairro. A nuvem negra ainda não havia sumido desde a última chuva e a população estava em dúvida do que haveria atraído um fenômeno como esse.

      Ninguém sabia dizer o que aconteceu ao certo, ou se algo realmente aconteceu, mas desde cedo gritos vindo daquela casa assustavam os moradores da redondeza, principalmente a senhorita Margareth que morava ao lado. Nunca havia fofocas sobre aquela família, nem mesmo comentários, diferente das do resto do Bairro, e quando perguntava a Mônica se algo havia acontecido, a resposta sempre era a mesma "Não poderia estar melhor" apesar de que ela nunca falava sobre o marido, ou mesmo os filhos, apenas o necessário e ela sempre parecia abatida mesmo por detrás de toda a maquiagem. E ainda que Margareth nunca fosse tão intima de Mônica, seu olhar ainda reluzia de preocupação.
     Eram aproximadamente 6 horas da manhã quando uma multidão se instalava no quintal da pequena e elegante casa de dois andares, homens e mulheres discutiam sobre quem falaria com a dona da casa para perguntar sobre os gritos. Antes mesmo que pudessem chegar a um tipo de acordo que todos concordassem, a Senhorita Margareth batia insistente a porta da casa da Cry Baby.

       Demorou bastante tempo até que chegassem a ouvir alguma coisa do lado de dentro, foi um último suspiro antes que alguém pegasse o telefone e chamasse a polícia. De fora ouvia-se o barulho de algo quebrando. Mais batidas chamavam na porta, que se abriu imediatamente.
- Pois não, posso ajudar? - falou Mônica, confusa.
Algo que Margareth não poderia deixar de notar, a mulher aos pedaços em sua frente não se parecia nada com a Mônica que conhecia, se é que realmente a conhecia.
- Mônica, desculpe incomodá-la mas, ouvimos gritos ontem à noite e barulhos muito estranhos e todos viemos verificar se algo grave tinha acontecido ou se precisavam de ajuda. Quase chamamos a polícia.
Ela pareceu precisar de muito tempo até compreender o que aquelas palavras significavam.
-Gritos? Não sei do que está falando.
-Como não sabe? Não ouviu? Estava em casa?
- Sim ahn... mais ou menos. Precisei de alguns remédios para conseguir dormir e acho que o efeito era muito forte.
- Entendo, bom, onde estão Annie e Sam? Está tudo bem com eles?
-Acredito que estão no quarto dormindo nesse momento, a propósito são 6 da manhã. Agradeço pela preocupação, mas não há nada com o que se preocupar, não aconteceu absolutamente nada. Se me permite... -disse, prestes a fechar a porta.
A moça do outro lado pôs a mão firme na porta de madeira.
- Deixe-me ver apenas se eles estão bem, okay? Se não me deixar entrar terá que lidar com eles ali - disse, se virando para a multidão atrás que olhava curiosa.
Mônica analisou suas alternativas, abriu a porta.
-Rápido. - falou rispidamente.
Margareth virou-se no mesmo instante.
- Me deem um minuto.
Entrou ligeiramente.
Havia garrafas vazias jogadas pelo chão da sala de estar. Apenas ouviu o barulho da porta batendo atrás de si enquanto subia as escadas às pressas.
Verificou cada uma das portas até encontrar uma que parecia ser a do garoto, ele não estava apesar de que a cama se encontrava desarrumada. Tudo parecia certo se não fosse o cheiro suspeito de alguma substância forte e um adesivo de maconha grudado na parede azul do quarto. Margareth arregalou os olhos em meio a cena ali encontrada, ouviu passos na escada e fechou a porta rapidamente. Procurou o quarto da garota.
Não sabia em que quarto estava, a decoração muito infantil a confundia, pensando se existia um bebê ali ou era um antigo quarto ou um sótão. O que a fez ter certeza foi a garotinha deitada no chão de lado, o que quase a distraiu do buraco na parede, era um buraco de tamanho médio que parecia recente pois havia pedaços de cimento espalhados pelo chão.
Ajoelhou-se e deitou a cabeça de Annie em suas pernas, a garota estava mais pálida que o normal e as costas das mãos estavam vermelhas. Pôs a garotinha nos braços, deitou o corpo na cama e a cobriu com um lençol. Beijou a testa da garota antes de sair.
Quando virou-se, Mônica a observava na porta, silenciosa.
-Terminou?
-Acredito que sim.
Silêncio.
-Diga Mônica, o que está acontecendo?
-Como pode ver, não está acontecendo nada.
-Sim, eu vi, vi garrafas de álcool espalhadas pelo chão, vi um adesivo de maconha no quarto do seu filho e um cheiro muito estranho, e acabei de ver sua filha desacordada no chão com as mãos machucadas, o que pode ter ela mesma feito um buraco na parede. Isso parece bom pra você?
-Isso não tem nada a ver com você.
- Onde está Daniel?
- Não está aqui.
- Ele não se importa?
Não houve resposta.
-Já viu o que tinha que ver, agora saia da minha casa.
-Mônica, por favor, deixe me ajudá-la, me diga o que há de errado. Você sempre fez tudo parecer tão perfeito pra você e agora está péssima e não diz a ninguém. Olhe ao seu redor, seus filhos precisam de você mais do que nunca, e você não consegue nem ajudar a si mesma. - disse segurando as mãos de Mônica, que deixou algumas lágrimas escaparem.
Margareth abraçou-a.
- Deixe me ajudá-la.

MY NAME IS CRY BABYOnde histórias criam vida. Descubra agora