CAROUSEL - PARTE 1

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"No parque de diversões tinha se apaixonado
pela primeira vez no carrossel
Rodando e rodando neste inferno cruel
Ela nunca chegaria até seu amado."

Os magníficos jogos de luzes faziam meus olhos brilharem cada vez mais, todas aquelas cores, em todos os lugares de cada sólido eram hipnotizantes, meu coração batia forte. Quando algo agarrou minha mão, eu me virei e era ele, Alberth, seus olhos brilhavam tanto quanto os meus e seu cabelo louro se destacava na madrugada, sua presença fez meu coração bater ainda mais forte e rápido.
Ele me conduziu até a entrada do parque de diversões, o mais estranho era que não havia mais ninguém além de nós em todo o parque.
Entramos e ele queria que fossemos até o carrossel, me ajudou a subir em um dos cavalos coloridos e ficou em pé perto do meu cavalo enquanto eles lentamente começavam a se movimentar. Alberth não soltou minha mão por um instante. Ele sorriu pra mim, e eu sabia que era a hora, o momento tão esperado, ele segurou meu rosto com a outra mão vaga e se aproximou de mim lentamente, eu me inclinei para beijá-lo mas não alcancei nada, abri os olhos e ele havia desaparecido. Onde ele estava? Eu o queria tanto. Eu estava sozinha, ou quase. De longe, senti alguém me observando e levei um susto, um homem mascarado me encarava, se não a mascara eu poderia jurar que estava sorrindo. Abri os olhos num suspiro.
Foi apenas um sonho - pensei comigo mesma. Olhei para o relógio ao lado e ainda eram 3 da manhã, respirei lentamente para me acalmar.
E eu sabia o porque daquele sonho, era algo mais do que especial pra mim: O carrossel. Um dos nossos primeiros "encontros", ele estava um cavalo a frente de mim, eu queria poder alcançá-lo, ou estar mais perto dele mas não podia, ele ainda não era meu. Quando ele olhou pra trás e sorriu então eu soube, soube o motivo das minhas alegrias sem razão aparente ou das frenéticas batidas de coração sempre que ele pegava na minha mão. Eu estava apaixonada, e não sabia como dizer isso a ele.
Talvez isso fosse algum tipo de pressentimento, um pressentimento muito bom.
Daqui a alguns dias seria seu aniversário, e eu poderia convidá-lo pra alguma coisa, para o mesmo parque de diversão que fomos, talvez. E se eu tivesse sorte poderia dizer pra ele o que sentia, e se eu for muito sortuda talvez ele retribua esse sentimento, não posso negar que estava ficando animada com a ideia. Amanhã eu o veria e seria o momento perfeito pra convidá-lo.
Não posso rejeitar o fato de que ele é o meu melhor pensamento a semanas, algo faz com que eu queira ele cada vez mais.
É verdade que ficamos juntos por um bom tempo, eu estava mais apaixonada que nunca e ele talvez nem tanto, não namoramos mas não posso negar que achei que pudesse ser algo sério, depois eu descobri que ele também estava com outra garota, eu desmoronei, mas não deixei que ele soubesse, e felizmente ele não soube.
-Você não se importa, não é?
-Claro que não, porque eu me importaria? Não somos nada. - eu disse, com o coração nas mãos.
Ele sorriu.
-Sabia que você não era como algumas patéticas que eu já estive.
Foi uma das primeiras decepções, talvez eu não estivesse preparada pra algo como isso, revelei mais uma vez nunca ter deixado de ser a Cry Baby, sensível e as vezes até explosiva. Mas ele não pode negar que gostou da minha maneira de ser, enquanto o resto das pessoas me achavam estranha, a garotinha orfã que foi morar com a amante do pai que a engravidou, e além de tudo: defeituosa. Não socializava muito bem, e já era de se imaginar, com um passado tão trágico, quem estaria em seu juízo perfeito?
Pensei muito sobre como tudo seria daqui pra frente, não voltei a dormir novamente.

****

Arrumei meu cabelo e pus um vestidinho simples e roxo, eu sempre usava vestidos, sempre, não existia outra coisa em meu guarda roupa. Olhei ao redor, não havia muita diferença em meu novo quarto para o antigo, decorei com os mesmos objetos, ainda que eu não fosse mais uma criança eu simpatizava com toda aquela decoração infantil, me lembrava de um tempo, um tempo antes dos xaropes, das brigas intermináveis que ecoava por toda a casa e dos olhos vermelhos do meu irmão, devem ter sido os primeiros anos do casamento, eu sabia que eles existiam, eu queria que nunca tivessem terminado, eu sentia tanta falta de tudo, de alguém... da minha mãe.

MY NAME IS CRY BABYOnde histórias criam vida. Descubra agora