Capítulo I

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Clara sentia-se confortável e quentinha. "Ah, como é bom estar na minha cama outra vez" ela pensou. Se ela podia concluir algo das saídas loucas com o Doutor, era que sua cama se tornava um lugar cada vez mais celestial para um longo, precioso e merecido descanso.

Ela ainda não queria abrir os olhos, estava se lembrando do último sonho que teve antes de acordar. Este era muito escuro, com silhuetas que pareciam dançar em câmera lenta. Ela podia jurar que era uma das sombras, mas não sabia qual exatamente. Era quase como se ela pudesse vê-la dançar pelo ponto de vista de outro ser e, oh, era esplêndido. A música estava perfeita, a lentidão do sonho tornava tudo mágico. Mesmo em tamanha preguiça, Clara sabia que teria de levantar em algum ponto. Esperava que fosse final de semana e pudesse ficar um pouco mais na cama, assistindo ao noticiário, ou a qualquer coisa que a distanciasse da vida aventureira e estressante ao lado do Doutor por, pelo menos, algumas horas...

Então ela abriu os olhos e deu de cara com um escocês de sobrancelhas e cabelos grisalhos! Clara pôs a mão na boca para não gritar e afastou o corpo, aliás, ela afastou tanto que era pouco corpo na cama e muito à caminho do chão. O barulho da Clara caída acordou o sonolento Doutor que observou uma confusa humana no chão encarando-o com aqueles olhos esbugalhados que ela tinha. Ele virou para o outro lado e voltou a dormir.

- Como é que é?! - Clara perguntou irritada, levantando-se num pulo. - O que está havendo aqui?

- Como você é barulhenta. Não está vendo que estou tentando dormir? Não tem o menor respeito. - O Doutor resmungou do seu lado da cama.

- Eu é quem digo isso! O que está fazendo na minha cama? - Clara tinha as mãos na cintura e aguardava respostas.

- Você quem insistiu nisso e me pergunta? - O Doutor comentou sem virar o rosto. A Clara foi mudando a irritação para desespero. Ela não conseguia se lembrar de ter insistido em nada. Na verdade, parando para pensar melhor sobre, ela não conseguia se lembrar de absolutamente NADA.

E lá estava ela, apenas numa fina camisola, as mãos ainda na cintura, observando as costas de um Doutor sem o paletó. Encarando o vermelho do colete dele. Ela nem mesmo sabia que o colete era vermelho atrás. E o que diabos tinha acontecido?

- Doutor.. – Ela chamou-o em um tom preocupado. Ele levantou a cabeça e olhou-a.

- Sim?

- Doutor... O que foi que aconteceu? – ela engoliu em seco. Ele semicerrou os olhos para ela e lentamente sentou-se na cama de pernas cruzadas.

- Caiu tão forte no chão ainda agora ou sua cabeça é fina assim?

- Doutor, isso é sério! O que foi que aconteceu? – Clara perguntou em um tom desesperado. O Doutor observou-a muito confuso, quase virando a cabeça de lado como um cão faria.– Eu não lembro de nada! – a sentença fez o Doutor abrir um sorriso de tubarão.

- Não se lembra de nada?

- Não. O que tem de engraçado nisso?

- Muita coisa. Nem sei como explicar! – ele se levantou rápido e saiu do quarto deixando Clara sozinha em pensamentos e um descer dos ombros, sem acreditar nesse estúpido alienígena. Será que eles tinham... Uh, não. É claro que não! Ela lembraria... Não lembraria? Ela botou as pantufas nos pés e o seguiu até a cozinha. Ele estava preparando um chá.

- Doutor! Diz logo o que aconteceu, estou ficando nervosa. - Clara admitiu.

- Deixa disso, vai se sentir melhor depois de uma xícara de chá!

- Certo.... - Clara tentou se acalmar enquanto esperava a água ferver. Ambos ficaram em silêncio em pé na pequena cozinha. O Doutor estava de olhos fechados e braços cruzados e Clara observava-o curiosa. Teriam eles... Será que... Não, eles não teriam.... Esse pensamento de novo? Ela coçou a cabeça. Fez força para se lembrar do dia anterior, mas nada além das lembranças do sonho pareciam vir.

Uma noite sem lembrançasOnde histórias criam vida. Descubra agora