4 - Sacrifício

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Sinto uma forte dor na cabeça, tudo estava escuro, um lindo som tocava, uma música familiar, era Moonlight Sonata, um piano em minha frente brilhou, novamente Júlia estava sentada, tocando, as paredes começaram a brilhar, revelando várias portas em cada lado do quarto.

Todas as portas tinham um número, começava na primeira porta do lado esquerdo, ela era escura, diferente das demais portas, eram oito portas, duas em cada parede.

Me aproximei de Júlia, Júlia estava concentrada no piano, não parava de tocar, toquei em seu ombro, sua cabeça virou em minha direção.

Júlia estava sem rosto, eu não conseguia me mexer, a face dela estava limpa, aquela agonia me sufocava.

As luzes das paredes se apagavam junto com o piano, tudo ficou escuro, pude ouvir o barulho de uma porta rangendo, logo a esquerda, a placa de número dois brilhava a cima da porta, ela estava aberta, era o único caminho a seguir.

Andei em direção a porta...

[ 2 de janeiro de 2010]

— Que dia lindo para se tomar um chá com minhas amigas, não é mesmo querido? — Disse minha avó Margareth Estelar.
— Esta sim vó, mas eu não gosto de chá, chá é ruim.

Estava sentindo uma forte dor na cabeça.

— A Violet já acordou querido? — Minha avó perguntou.
— Não, minha irmã ainda esta dormindo, ela sim, ela é viciada em chá, toma chá de todos os tipos, ela só acorda depois das 07:00 horas, ainda falta 20 minutos. Aquelas suas amigas são da igreja? Vivem com vertidos longos e estranhos, todas velhas, parecem ter centenas de anos assim como a senhora, mas claro, na parte da senhora estou a penas brincando — Ela me olhou como se fosse puxar minha orelha, como todas as avós fazem. — Eu ainda prefiro meu bom e delicioso café, não irei tomar chá com suas velhas amigas.
— Você fala demais. Tudo bem querido, elas não gostam de você também.

Apenas sorri para ela, mas logo fiquei sério, pois não parecia estar brincando.

Estávamos na cozinha para tomar café, minha avó queria sair e levar minha irmã Violet para comprar chá e toma-los com suas amigas fósseis, esses restos de seres vivos me olhavam sempre de forma estranha, nunca sorriam, as vezes jurava que os olhos delas ficavam negros.

Todas as manhãs e tardes minha avó saia por uma trilha em direção à floresta da morte, eu não ousaria entrar em qualquer hora naquele lugar, tirando o fato de que eu me refugiava lá quando ficava triste.

Sempre levei minha irmã para brincar em uma cabana, linda, que meu pai havia construído naquela floresta, tinha lenhas ao redor da pequena casa, costumávamos cortar madeira perto de lá, um pouco mais dentro da floresta, na cabana não havia móveis, apenas uma mesa e um lugar onde lava a louça, paredes verdes, e o melhor, ficava perto do rio que cortava a pequena cidade, um lindo gramado em frente daquela cabana onde eu e minha irmã sentávamos e via as estrelas a noite.

Sempre falávamos para o outro, Quando se sentir sozinho, apenas olhe para o céu estrelado e ai estaremos juntos, pois também estarei olhando eu amava ela, mesmo não tendo o mesmo sangue da minha mãe, isso mesmo, outra mãe, ela tinha outra irmã, uma irmã gêmea, só que morreu, poucos anos depois do nascimento.

Agora Violet tem 7 anos, muito inteligente, sua mãe teria orgulho dela, tanto a minha como a dela, morreram em um acidente de carro, estavam indo para ao tribunal para resolverem algo, elas se odiavam, e o carro em que estava as duas, capotou, viraram até lenda urbanas, meus colegas me zoavam na escola.

Com apenas 10 anos de idade, sofria todos os tipos de bullying, tive uma vida transtornada, nunca me adaptei em nenhuma das 3 escola que tinha em minha cidade, não chegava a completar nenhum ano, consegui terminar a quinta série por aulas pelo correio, sem salas, sem pessoas para me desconcentrar, tenho uma inteligência incomum se for comparar com crianças da minha mesma idade, até mesmo com gente adulta, bom... pelo menos eu acho, é o que meu avô Daniel dizia, eu sempre tiro notas altas nas provas, pensando bem, sempre achei muito estranho as provas que chegavam pelo correio, vinham sempre abertas.

Minha irmã era mais esperta que eu, sempre me ajudava nos momentos difíceis, quem diria que a caçula iria ajudar seu irmão mais velho.

Perto da cabana na floresta, havia um cemitério, mas nada para se preocupar, meu pai dizia que o governo retirou todos os corpos e ossadas daquele local, com medo de que possa contaminar o rio.

Dizem que quatro jovens, dois garotos e duas garotas se afogaram no rio, tudo por causa que ficaram bêbadas, pelo menos foi isso que a polícia disse para os pais daqueles jovens. Parece que a placa Não nade bêbado não funcionou.

— Querida, que bom que acordou, vamos no mercado, se arrume e vamos, minhas amigas tem horário para chegar, quero dizer que elas não gostam de atrasos, gostam de ser pontuais. — Disse minha avó
— Claro vó, podemos comprar bombons na volta? — Falou Violet.
— Então é isso. Tchau para as duas — Me despedi.

Fui para meu quarto no segundo andar, peguei meu caderno e comecei a desenhar, estava se formando chuva e minha avó ainda não tinha chegado junto com minha irmã, queria brincar com ela, mas o jeito era continuar a desenhar.

Meu pai dizia que eu tinha o dom para desenho, eu discordava, eu ficava doido quando desenhava, não consegue entender? Vou lhe explicar.

Quando eu desenho, a folha me aprisiona e fico completamente hipnotizado, começo a me concentrar pondo rabiscos por rabisco, de um simples círculo posso criar um lindo helicóptero.

O estranho é que eu nunca vejo minha mão se movimentar por cima da folha, eu fico perdido em meus pensamentos, apenas imaginando o que vou desenhar, parece um filme, difícil desenhar, mas eu sempre consigo, só que agora não é um helicóptero.

Consigo ver uma cabana, mas não uma comum, era a que ficava subindo ao rio, construída pelo meu pai, minha avó e a minha irmã juntos com pessoas encapuzadas passavam por lar, minha avó sorria para minha irmã que segurava forte em sua mão, mas ela não parecia estar feliz no meio deles.

Até eu ficaria apavorado, estar perto dessas pessoas encapuzadas que embora fosse se revelando aos poucos, eram os dinossauros, as amigas da minha avó, elas pararam em frente da cabana, cochicharam algo entre se, mas logo foram seguindo a trilha em direção ao antigo cemitério.

Eu já começava a sentir o cheiro da morte, carne podre, nessas imagens que eu via antes de desenhar nunca havia de sentir cheiro, meus olhos pareciam seguir a trilha, junto com as ossadas das amigas da minha avó.

Tudo começava a escurecer, o cheiro ficava mais forte, apenas uma voz familiar gritava, pedia socorro, gritando como se estivesse no show de seus ídolos, essa voz era de minha irmã, der repente, volto em si, estou caído em uma trilha, cheia de arvores, sei que era perto da cabana, foi aqui onde as velhas entraram

Ouvi mais gritos, corri em direção ao som, minha avó levantava um punhal, erguendo-o e falando palavras que pareciam línguas germânicas setentrionais.

Em cima de um tumulo estava minha irmã deitada, presa por cordas, as quatro amigas dela estavam de costa para mim, todos estavam rodeados por túmulos, estava anoitecendo, uma neblina tomava conta do verde das folhas de pinheiros.

Minha avó estava fazendo um ritual.

Com os olhos abrindo o máximo que consegui, assustado dos pés à cabeça, aquilo era horrível.

[Dias antes]

— Filho, por que você gosta de cortar lenha comigo?
— Não sei pai, acho que quero ser forte, assim como o senhor.
— Então vamos logo, melhor tiramos lenha do antigo cemitério, acho que ninguém vai sentir falta. — O governo tinha dado para nós aquela parte para nós, para destruirmos tudo o que mostrava que lá era um cemitério. Meu pai falava assim porque ele gostava de ser fora da Lei.
— Filho, pegue o machado, e tente cortar a madeira.

Consegui cortar a madeira em dois pedaços em apenas uma machadada, ficamos fazendo aquilo a manhã toda enquanto minha irmã ficava com meus avós em casa.

Já cortei meu pai 5 vezes sem querer, mas peguei o macete, e nada podia me parar, virei um lenhador.

[Dias atuais]

— Bruxas. — Falei. Todas se assustaram e olharam para trás.
— Não podemos interromper "Viltgive litnegnirfo".

Ao meu lado ainda estava o machado, encravado em um pedaço de tronco de arvore, corri e consegui pegar. Aquilo não era a minha avó, não pensei duas vezes, levantei o machado e joguei com toda a minha força em direção a ela.

Domínio da EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora