10 - A menina

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— Filho, acorda, vamos lá para baixo, quero que você conheça alguém.
— Ma… Mãe.
— Vamos Vinícius, lava essa cara, parece que caiu no chão de pedras.
— Eu tive um sonho mamãe.
— Depois você me conta, venha.
— Vou contar tudinho. Mãe, onde estamos?
— Essa é a Júlia, nossa nova vizinha daqui da rua.
— Oi menina, você tem um nome lindo.
HAHA seu tolinho.

Essa menina está sorrindo, e olhando para baixo. Ah não, ela tá indo embora, por que?

— A filha de vocês parece que ficou com vergonha. — Diz mamãe.
— Acredito que eles serão grandes amigos quando crescerem.

Por que eu vim parar aqui? Essa lembrança é da minha infância.

Júlia… Então eu já conhecia você, mas aquele dia na ponte, porque pareceu que eu nao te conhecia?

Por que isso está acontecendo comigo?

Sinto estar em um poço, cada vez mais me afundando, e nunca entendendo nada.

Essa lembrança, me quebrou.

Onde anda minha mãe, por onde anda a Júlia, eu sinto tanta falta das duas, mas nao consigo sair de mim mesmo.

Todo esse esforço para cada vez mais aumentar minhas dúvidas.

Isso está me corroendo.

Mas eu preciso de vocês, aqui comigo, agora.

—Meu quintal não é tão grande Júlia, é fácil te encontrar. — Falei para Júlia.

Júlia estava sentada de costa para mim, aqueles cabelos claros ficavam nítidos na luz bela do sol.
Ela se vira e me olha com um olhar de anjo.

— Eu fiquei com vergonha, nunca fui elogiada na frente dos meus pais.

Então Júlia segura minha mão, me puxando para perto e sentar na grande pedra élfica.

— Vinícius, certo? E se eu te chamar de Vincent? Muda muita coisa? Eu gosto de Vincent, será como um apelido carinhoso, para você sempre lembrar de mim, espelhe para seus amigos.

Júlia era minha amiga de infância, ela era incrível, sabia fazer tantas coisas, eu não sabia nem 1% do que ela sabia.

Júlia falava três línguas diferentes, ainda na infância, tocava piano, e desenhava como ninguém outro.

— Me chame de, Salvadora.
— Por que "Salvadora"? — Pergunto olhando para ela enquanto a mesma sorri para o por do sol.
— Porque estou te salvando Vincent.

Em minha história, não sei se já entendi, pois a cada vez que penso, mais complicado ela fica.

São tantos caminhos, não sei qual seguir, as vezes parece que tenho que entrar em todos, um de cada vez, para poder me encontrar na história.

Esses tempos sem você Júlia, tem sido difíceis.

Todos cantando — Parabéns para você, nessa data querida, viva Júlia. Com quem será, com quem será que a Júlia vai casar, vai depender, vai depender se o Vinícius vai querer.

Era óbvio a expressão de envergonhada que ela fazia, tão espontânea e delicada, aquele sorriso com uma covinha se ligando a outra.

— O primeiro pedaço vai para meu melhor amigo, Vincent.

Júlia estende a mão com um prato e um pedaço de bolo onde um garfo o atravessava.

Sem pensar, meu espírito da fome logo o peguei, e mesmo depois de ter comido milhares de doces da festinha, ainda tinha esse espaço para o bolo.

O bolo era de limão com coco.

Júlia não faz muitos aniversários, ela nasceu dia 29 de fevereiro, mas isso nunca a prejudicou em nada, todos os anos dia 28 é comemorado o dia para ela.

— Vincent. — Chama Júlia.

Estamos na cozinha, comendo os últimos doces da festa de aniversário.

— O que foi?
— Você acredita que um dia vamos ficar juntos? Igual papai e mamãe?

Sempre via Júlia como uma pessoa madura, ela tinha perguntas e respostas para tudo, e sempre visava o futuro.

Talvez tenha sido esse o pecado dela, viver muito no futuro e esquecer o presente.

Tanta ganância resultou na perda do nosso convívio, ela começou a guardar segredos, segredos de mim e de todos.

Nossos anos de amizade estavam se acabando, tudo por causa de um livro.

Os pais de Júlia apesar de serem bem conhecidos na cidade, eles eram pessoas que demonstravam esconder algo, eu sempre tive minhas dúvidas em descobrir as coisas.

Eram muitas história que a população criava sobre a família Maxine.

Teorias que Júlia já estava farta, e resolveu se fechar pro mundo e para mim.

Fomos se afastando um do outro. Eu era o mais fraco, eu sentia muita falta dela.

Não se pode separar melhores amigos.

Não foi minha escolha, nos dias que não nos víamos, eu começava a lembrar de nosso momentos felizes, e isso fazia eu chorar.

Nunca consegui segurar uma lágrima por causa dela.

Nosso primeiro amor é sempre difícil de esquecer.

Por que sua ganância te deixou cega?.

— Estou aprendendo tantas coisas com esse livro do meu Pai, ele fala sobre a vida, de como ela tem sua própria forma de controlar cada ser. Somos tão insignificantes. Somos como folhas, caindo no rio, que é a vida, ela sempre está em movimentos, e quando caímos nela, ficamos em movimento também, essa sorte é que começamos a viver, mas em vários momentos do caminho, paramos, afundamos, amergirmos, apodrecemos.
— Eu não entendi quase nada do que você falou, mas Júlia, a gente nunca mais brincou juntos, você só vive nesse livro idiota.
— Garoto tolo, não é apenas um livro, esse é o saber da vida, ele ensina muitas coisas.

Ela seguiu seu próprio caminho, e forçou nossa separação, ela era o meu amor, minha paixão.

Quando eu já tinha esquecido da existência dela, uma notícia chega.

— Vinícius, lembra da Júlia, então, ela vai embora, sei que vocês nunca mais se viram, mas achei que iria querer saber.

Nessa hora fiquei impressionado.

Como pude esquecer dela, tantos projetos construimos juntos.

Subi até meu quarto, abracei meu travesseiro, e fiz o que faço de melhor… Chorar.

Não queria ter perdido dela, mas o que ela fez, me machucou muito, e não digo apenas pela ignorância em relação ao livro, ela demonstrou não ser uma amiga justa, mas sempre amei ela.

De alguma forma, iríamos nos encontrar de novo, e fazer uma história diferente, ela foi embora, mas não da minha vida.

Domínio da EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora