| UM |

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                   Suspirei, fechei o caderno decorado com detalhes bobos e o guardei na minha mochila assim como a caneta. Ajeitei a mochila para um possível travesseiro e me deitei na cama improvisada, não sei ao certo se conseguirei dormir até por que uma loja de eletrônicos não me parece um lugar seguro, principalmente se a loja for em uma cidade grande. O local onde eu estava não era muito movimentado por zumbis, mas a qualquer barulho poderia atrair muitos deles.
 
 
          Tentei ao menos relaxar, mas mas minhas circunstâncias não estava dando muito certo. O local inseguro e também a cama desconfortável, mas era tudo o que eu tinha hoje. E digamos que eu estava como madame vendo tudo que já passei, algumas noites fico pensando se há pessoas em condições melhores do que eu. Se eles têm uma cama confortável e aconchegante onde pudessem dormir tranquilamente. Se eles vivem bem, talvez muito melhor do que eu.

          Resolvi levantar-me da improvisada cama e procurar por algo útil para que possa servir-me nos próximos dias. Mas não adiantaria-me muito procurar, já que só havia objetos eletrônicos, que no momento em que vivo hoje eles são bem inúteis.  Me sentei na parte de trás do balcão e fiquei a imaginar como poderia estar a minha vida atualmente. Eu poderia estar na minha casa agora, Morgana poderia estar a sala com meu pai a brincar enquanto ele assistia algum noticiário na televisão, a minha mãe na cozinha a preparar um jantar maravilhoso e o meu irmão chegando suado do treino de futebol, saldando todos em alegria dizendo que ele havia ganhado mais uma partida. E eu estaria ali, apreciando a família perfeita que eu tenho, mas que nunca dei valor antes. Eu tinha tudo e nunca dei valor.
 
 
          O dia já estava para amanhecer, eu não havia conseguido dormir um único minuto, nem ao menos relaxar. Despertei-me de meus bons pensamentos e levantei-me do desconfortável chão, olhou de relance para a vidrassa da loja de eletrônicos e lá estavam eles, os mortos-andantes. Parecia que eles esperavam o dia amanhecer para que pudessem ir em busca de comida e na calada da noite, eles espreitavam e escolhiam suas vítimas para o dia seguinte, mas infelizmente ou não, isso era um pensamento absurdo, pois eles estavam apenas no corpo de um humano, mas o resto agia como um animal feroz.
 
 
          Andei sorrateiramente até minha mochila e comecei a arrumar a cama improvisada, guardei o casaco grande e macio em minha mochila e procurei por minha garrafa d'água. Os verões são horríveis no mundo dos mortos, a cada gota de suor que escorre em seu corpo é como se o olfato dos zumbis melhora-se, ou, o cheiro de carne viva fica mais forte. Mas para evitar isso eu costumo beber bastante água, como vivo sozinha eu não preciso dividir com ninguém e isso eu poderia chamar de vantagem.
 
 
          Voltei a guardar minha garrafa depois de um bom gole e então peguei meu facão ao chão, segurei-o firme e fui aos fundos da loja. Ali haviam duas portas e uma delas estava trancada, então imaginei que ela levaria-me ao andar acima para os apartamentos do prédio. Desisti de abri a porta então resolvi tentar abrir a outra, por um extinto segurei meu facão à frente do meu rosto. Abri a porta rapidamente e fiquei assustada ao ver a cena, não era nenhum zumbi a definhar ou algo do tipo, era um menino mais ou menos da minha idade talvez até um pouco mais velho. Ele tinha uma criança em seus braços, eles talvez estivessem a dormir, mas ele estava péssimo tinha cortes profundos em seus braços e pernas assim como a menina que tinha ferimentos mais leves, mas seu rosto estava muito machucado. Mas o que diabos estava a fazer um menino machucado e uma criança dentro de um armário?! O que aconteceu a eles!??
 
 
 
     - POR DEUS!? - gritei assustada mas logo tapei minha boca com as duas mãos. A garotinha de mais ou menos 5 anos acordou-se assustada, já o menino demorou um pouco a recuperar a consciência. - O-oque houve com vocês?
 
 
     - Não machuque-nos! - gritou a menina assustada. - Deixe eu e meu irmão em paz!
 
 
     - Hey! Não vou machuca-lá.. - disse calma, levantei um pouco as mãos e agachei-me lentamente deixando o facão no chão. - Diga-me, o que houve com vocês (?), poderei ajudar. Prometo! - ela olhou-me um pouco desconfiada mas logo amenizou-se, ela se levantou e correu abraçar-me. Fiquei um pouco confusa, mas logo abracei-a de volta então ela passou a chorar em meus braços. - Hey, acalma-te! - disse massageando suas costas. - Diga-me o que aconteceu? - a mesma permaneceu em silencio. - Eu vou ajudar-te com o teu irmão, o.k? Mas  diga-me qual teu nome?
 
 
     - A-Alex... - disse a soluçar. A soltei e fiz carinho em seu rosto, numa tentativa de conforta-la. Aproximei-me de seu irmão e ele ainda parecia adormecido, com um pouco de esforço eu consegui levanta-lo e o deixei encostado em uma parede junto com sua irmã, então voltei a refazer a cama improvisada.
 
 
          Envolvi seu braço em volta do meu pescoço e o carreguei a cama, ele parecia o tipo todo magrelo, mas ele era bem pesadinho para o tipo de corpo. O deitei da cama de barriga para cima e ajeitei sua cabeça no monte de roupas amassadas, como ele está sem camisa logo tirei da minha mochila um kit de primeiros socorros então comecei a fazer os curativos, em algumas vezes eu tinha vontade de fugir do que ve-lo sofrer daquele modo, pois em alguns momentos eu havia de costurar a ferida senão poderia pegar uma infecção e morrer. Judith não saiu um minuto do lado do irmão, o que me fez lembrar muito de minha irmã Morgana. Depois de fazer os curativos no rapaz, fiz os curativos de Judith que não demorou muito. Então ela pois-se a deitar-se ao lado do irmão e então adormeceram.
 
 
          Eu haveria de passar mais uma noite naquela loja de eletrônicos, que não servia-me para nada. Novamente encostei-me no balcão do caixa e fiquei a observar ambos, o tal rapaz de cabelos compridos estava a dormir depois de sofrer um bocado e confesso que fiquei bastante impressionada com tal beleza. Judith não largou-o por um momento, talvez fosse a única pessoa em que ela tinha agora. Bem, eu não a julgo. Se eu tivesse alguém importante para mim agora, não a largaria por um momento. Então, peguei minha mochila ao meu lado e tirei o meu diário. Uma nova aventura, e como médica ou algo do tipo.
 
 
          "          Querido Diário...          "

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