A mansão Todervauser

A professora Luísa.

Não aguento mais a voz da senhora Silva. Estou na sala da minha casa, tendo aula de filosofia. Eu sempre fiquei fascinada em ouvir sobre Sócrates, Platão e outros, mas a Senhora Silva consegue estragar qualquer coisa!

Em quatro meses eu faço quinze anos! Minha mãe quer dar uma festa enorme, mas eu não tenho amigos. Vai ser como em todas as minhas outras festas, minha mãe vai convidar o povo do escritório do meu pai, as amigas dela e as filhas das amigas dela.

- É tudo por hoje, querida!- Luísa fala alto me tirando de meus pensamentos.

- Até amanhã.

Luísa Silva tem por volta dos sessenta anos, cabelos tingidos de loiro, muitos pés de galinha no rosto, olhos esverdeados e um corpo magro e flácido, sua voz é baixa e rouca e incrivelmente sexy. Ela está sempre de bom humor e é uma boa professora, mas sempre me deixa morrendo de sono.

Subo para o meu quarto. Moro numa mansão enorme e antiga, muito bem conservada e muito velha! Essa mansão era de Albert Todervauser e recebeu o nome de seu antigo dono. Minha mãe herdou está mansão de sua tataravó, que era filha de Albert.

Minha mãe trabalha com uma socialite numa famosa loja de sapatos, portanto, tem amigas muito importantes e famosas. Meu pai é advogado e trabalha num escritório. Não somos ricos, minha mãe tem apenas quinze por cento dos lucros da loja.

Hoje é quinta feira, última semana de férias para as pessoas normais que vão à escola. Minha mãe está dando uma social com as amigas metidas dela e fingindo que é tão rica quanto elas.

Coloco um vestido azul de uma marca exageradamente cara e saltos baixos, faço uma make fofinha e solto meus cabelos. Não me reconheço no espelho, sou um retrato dos sonhos da minha mãe.

- Oi, Mia!- essa voz é da Sabrina!

- Quanto tempo, Sabrina!

Sabrina Figueiredo é filha da socialite Sandra Figueiredo. Ela estuda num luxuoso internato na Inglaterra. Aparece aqui duas ou três vezes por ano. Ela parece aquelas patricinhas dos filmes americanos, acho que a vida européia não faz bem pra ela.

- Ei,Mia! Você está sempre distraída!- ela quase berra na minha orelha.

Sabrina é chata, ela não é má pessoa, mas é muito superficial e ingênua. Ela tem dezesseis anos, 1,75, cabelos naturalmente loiros e compridos, olhos castanhos claros e a pele bronzeada. Apesar de muito bonita e futura modelo, ela não tem namorado. Espanta qualquer um que se aproxime com esse jeito mandão.

- Aí, Mia... O Piter me deu um fora! Que raiva daqueles olhos verdes e aquele maxilar perfeito!

- Talvez, você tenha assustado ele com esse papo de casamento.

- Será?

Antes que eu possa responder, Laísa aparece na nossa frente gritando:

- Amigas!

Nos abraçamos. Laísa é filha do chefe do meu pai. Ela tem minha idade, diferença de três meses de vantagem para mim. Ela é morena e tem cabelos curtos com mexas púrpuras, olhos castanhos e rosto redondo, é muito magra e bonita. Laísa já é miss teen e blogueira.

- Você está mais bonita, Mia.

Odeio quando elas fazem essa cara de deboche. Eu sou mais "rechonchuda". Visto tamanho 42, tenho peitos bem mais fartos. Meu cabelo é mais encaracolado e castanho escuro e meus olhos são verdes vivos, tenho um certo problema com cravos e espinhas que os cremes importados da minha mãe resolvem e uso aparelho, além de ter 1,57.

Esboço um sorriso e vou para o jardim. Elas estão na sacada, à poucos metros de mim e ainda posso ouvir elas falando sobre regimes e cosméticos. Olho na fonte meu belo reflexo. Há um cravo bem abaixo da minha boca e minha maquiagem está borrada. Não sou tão magra e bonita. Até o vestido delas parece melhor! Estou prestes a chorar quando uma voz masculina nos comprimenta.