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Alex correu. A chuva tinha começado a apertar. Mas esse era um dos motivos que o fizeram ter escolhido estudar na Nova Zelândia. A faculdade ficava em uma ilha, algumas horas de barco da capital. Entrou no prédio e subiu três andares pulando dois degraus por vez. Era fácil com suas pernas longas de gafanhoto. 302, seu apartamento.

Tirou da mochila 8 pacotes de waffles congelados e botou um no forno. Haviam começado as férias, e seu colega de apartamento foi ficar junto da familia. Grande parte da população comemorava o ano novo fora, deixando a ilha com um aspecto desértico, abandonado. Pelas próximas duas semanas, seriam só ele e o apartamento. E o barulho da chuva. Como era bom o barulho da chuva. Aos 6 anos foi diagnosticado com vários transtornos mentais, insônia e ansiedade, que não respondiam a tratamento algum, exceto claro, o barulho da chuva. Resultado: sua coleção de CD's ia de '' Chuvas de verão'' até ''Tempestades no Ártico'', mas nenhum deles superava as gotas d'água batendo na janela do quarto. Também deixava uma fresta aberta, deixando a brisa gelada lhe fazer uma visita.

Tirou os tênis, apagou as luzes (menos o abajur no canto do quarto. Aquele nunca se desligava.) e se jogou na frente do computador.

Como qualquer outro jovem, Alex perdia as horas no computador. Dias quem sabe? Se tornou parte do mundo novamente quando algo gelado tocou seu pé. Era água, água da chuva que entrava pela janela e escorria pelo chão do quarto. Havia adormecido em frente ao computador. Já não dormia faziam 3 dias, e a chuva havia chegado na hora certa, como um gigante que lhe acolheu nos braços e o balançou até adormecer. Pegou uma toalha que estava atirada em cima da cama e jogou no chão molhado, calçou os chinelos e andou até a cozinha enrolado em um cobertor. O cheiro de queimado entrou correndo no seu nariz. ''Os waffles''. O alarme de incêndio piscava, indicando que estava ativado, o que era bizarro, pois os bombeiros sempre atendiam esse tipo de emergência.

Alex subiu na mesa e desativou o alarme, que ficava preso ao teto. Jogou os restos queimados dos waffles no lixo, e colocou outros no forno. Sentou no sofá e ligou a TV. Estava passando o jornal local, onde uma repórter jovem, provavelmente no começo de sua carreira, estava na avenida principal da cidade durante a tempestade, que jogava sua capa de chuva amarela para cima dos seus ombros. Ela gritava no microfone, enquanto apontava para carros sendo arrastados pelas águas. ''Uh, obviamente os bombeiros tem mais com o que se preocupar do que alguns waffles queimados.'' pensou Alex.

Cobriu um waffle com mel e outro com Nutella. Sempre. Estava prestes á dar a primeira mordida.

BANG. BANG.

Largou o waffle no prato, intacto, e andou devagar até a porta. ''Quem seria uma hora dessas?'' pensou, mesmo sem saber que horas eram. Pelo olho mágico viu sua vizinha, Vic. Também estudante, loira, e bastante amigável. O que a trazia para a porta de Alex? Sempre que ela aparecia era para conversar ou sair com Jonathan, colega de apartamento de Alex.

- Oi Alex...

- O Jonathan não tá. - e começou a fechar a porta.

- Sem problemas, você serve. - disse Vic, dando uma risadinha, se espremendo pela porta e entrando na sala. - Olha, waffles!

Vic com uma mordida devorou um waffle inteiro. Fechou os olhos de prazer enquanto mastigava com a boca cheia. Notou o rapaz a encarando e ficou vermelha.

- Oh, desculpa Alex. Quer o outro? - estendendo o prato para Alex.

- Não, pode comer. Foi pra isso que você veio aqui? Comer?

- Claro que não, seu bobo. Na verdade é meio constrangedor. Err... o papel higiênico lá de casa acabou, e como no jornal estão pedindo para as pessoas ficarem em casa achei melhor vir pedir pra você.

- Mas não fazem nem dois dias que está chovendo. Esquisito. Vou pegar pra você.

Alex foi em direção ao banheiro, onde haviam vários rolos de papel higiênico sobrando. Pegou um pacote e levou para a sala.

Ao chegar, o outro waffle havia sumido misteriosamente.

- Tá aqui. Precisa de mais alguma coisa? Vou estar ocupado e não vou ouvir você bater na porta depois. - Na verdade Alex não queria mais lidar com a garota. Queria ficar sozinho.

- Hmm... Alex, eu tenho medo de tempestade. Se importa de eu ficar aqui com você? - A garota pediu, entrelaçando os dedos e fazendo um beicinho.

Alex revirou os olhos.

- Vou pegar um cobertor. Pode ficar no sofá ou no quarto do Jonathan.

- Ficarei com o sofá.

RainmanOnde histórias criam vida. Descubra agora