_ Aqui não.
Luiza olhava para os berços dos filhos e era um milagre que os dois estivessem tão quietos e calmos.
_ Tá bom. Eu vou pedir para a Vitória ficar um pouco com eles, pode ser?
Ela assentiu e, minutos depois, Vitória entrou no quarto. A irmã de Eduardo não disse nada, só lhe ofereceu um sorriso solidário.
Eduardo te esperava no corredor, não disse nada, só esperou que ele a seguisse.
Mesmo com a roupa molhada, ele a seguiu até o lado de fora do apartamento dos Alcântara Machado. Luiza não queria que ninguém ouvisse o que tinha a dizer, ou pior, que se intrometesse naquela conversa que era somente deles.
_ Lu, eu... – ele começou quando a porta se fechou atrás deles. – Me perdoa. – ela ignorava o seu olhar. – Olha pra mim.
_ Eduardo, te perdoar? – sua voz saiu alterada, ele se calou. – Te perdoar pelo o quê? Por me deixar na mão ou por ter me traído?
_ Te traído? Eu não te traí, eu juro que...
_ Eu até entendo que você não esteja mais afim de mim. – ela o interrompeu. – Mas não desconte isso nos nossos filhos. Por que eles são nossos filhos, Eduardo. Não sou mãe sozinha ou sou?
_ Não. – foi a única resposta que conseguiu dar para aquele desabafo.
Luiza respirou fundo para se acalmar, mas sabia que seria em vão. Era muita coisa presa na garganta.
_ Sabe o que foi o pior? É que eu acreditei em você... – disse falhando na última palavra. – Eu acreditei. – sua voz embargando lentamente. – Acreditei nessa porcaria de sonho de família perfeita que você colocou na minha cabeça!
Eduardo sentia a mágoa de Luiza tão profundamente que te machucava por dentro. Ele a amava. Claro que ainda era apaixonado e ela tinha que acreditar nele. Só estava sendo um babaca como foi a vida toda.
Ela ficou calada por alguns segundos e ele podia ver as lágrimas se formando nos olhos dela. Deu um longo suspiro e continuou.
_ Eu não queria... Não queria isso. Você me convenceu a ter os bebês. Queria sumir dessa sua vida, mas eu fiquei.
Ele não conseguia imaginar mais a sua vida sem os filhos, se Luiza tivesse abortado e sumido, jamais seria o mesmo.
_ E agora? Fico aqui trancada o dia todo, cuidando deles, chorando com eles. E você, lá na sua sala, todo engomadinho, esperando a princesinha chegar. Ela te dá carinho? Escuta os seus problemas? – a ruiva respirou fundo, mais uma vez, e continuou em um tom mais calmo: – Ao contrário de você, eu não tenho pra onde fugir, não tenho alguém pra... Não tenho.
Eduardo não soube controlar o seu silêncio depois das acusações de traição. Ele era um idiota, mas não a ponto de deixá-la em casa e traí-la dessa forma.
_ Do que você tá falando hein, Luiza? Eu não tenho nada com ela. Eu juro. Para de dizer essas coisas, você não sabe do que tá falando.
– Eu te conheço melhor do que ninguém, mais do que a sua própria mãe! – apontou um dedo para a cara dele, tornando a acusação mais séria. – Eu sei o que você viu nela. Você viu um futuro melhor, não, é? A nora perfeita pra sua mãe, a pessoa perfeita pra sua família. Menos barraqueira, menos idiota do que eu.
Luiza abaixou o braço, sentia o sangue fervendo de raiva nas veias. Esperava que não tivesse gritando para não chamar a atenção dos vizinhos grã finos.
Eduardo se aproximou dela e a surpreendeu pegando em seu braço. Ela não teve alternativa a não ser olhar em seus olhos. Um silêncio estranho pairou no corredor até que resolveu falar.
_ Se você me conhece tão bem, Lu. Olha pra mim e vê se eu não tô sendo sincero contigo. Não tive nada, nada com a Bianca. Tô perdido com essa história de ser pai, de ter uma família, mas não ia ser capaz de fazer isso com a mulher que eu amo. Tá me ouvindo? Tá enxergando nos meus olhos o quanto eu te amo?
Ela ficou em silêncio, tentava enxergar a verdade nos seus olhos e ele respirou fundo.
_ Me desculpa por ser um babaca e não te ajudar com os bebês. Eu prometo que eu vou melhorar, vou tentar. Todos os dias de agora em diante.
_ Fiquei sem chão com a mudança brusca da minha vida, foi isso que aconteceu... Mas, meu amor, não duvide que eu ame você.
Eduardo colocou a mão livre no rosto dela, como tinha sentido falta daquela pele na dele. Luiza fechou os olhos e as lágrimas que estavam ali finalmente caíram. Ele passou os dedos sobre elas, não queria mais vê-la chorar por causa dele.
Ela se afastou bruscamente do seu toque e soltou o seu braço.
_ Eu preciso de um tempo. – limpou as últimas lágrimas do rosto.
Eduardo estava confuso, não queria um tempo, queria acertar as coisas e ficar em paz, porém iria respeitar aquela decisão dela. E no tempo que ela precisasse iria demonstrar o quanto a amava. Teria que engolir seu orgulho e aceitar.
_ Tudo bem. Vou esperar o tempo que for.
Luiza entrou de volta no apartamento. As juras de amor de Eduardo que ecoavam em sua cabeça faziam seu coração apertar ainda mais. Ela foi direto para o quarto dos filhos e ele foi para o banho.
Eduardo dormiu no quarto de hóspedes do duplex e Luiza no quarto dos bebês. Nenhum dos dois queria enfrentar a cama dos dois com um dos lados vazia. Ele levantou cedo, tomou café sozinho para não ter que explicar nada para os curiosos familiares e partiu para a empresa.
Como chegou cedo não encontrou Bianca de cara. Tentava focar em seu trabalho, mas vira e mexe, sua cabeça estava repleta de pensamentos e lembranças com Luiza, e em como ela tinha sido a âncora em sua vida.
Há pouco mais de um ano, ele era um jovem inconsequente e sem escrúpulos, um rebelde sem causa, e ela, mesmo perdida em seus próprios problemas o ajudou a sair de uma causa perdida. Sem ela não saberia onde estaria hoje. Não se arrependia das decisões que tomou de ter os filhos, de casar com ela, de te jurar uma parceria eterna.
Aos olhos das pessoas ao redor, tudo tinha sido rápido, e o casamento deles tinha acontecido somente por causa da gravidez, mas não era assim. Eduardo aprendeu que a vida era curta demais para se desperdiçar momentos ao lado da pessoa que amava. Era apaixonado por Luiza e quis se casar com ela o mais breve possível, escolheu viver tudo aquilo, pois sabia que era um sortudo.
Ele tinha muita sorte por tê-la em sua vida, por ela ter o aceitado como é. Não era todo mundo que tinha essa chance de viver um grande amor como o deles. Aquela paixão que consumia sua alma e fazia seu coração tropeçar. Aquela felicidade de ver a pessoa que amamos nos sorrir de volta. A proteção de abraçar quando a vemos chorar.
Havia passado apenas algumas horas, mas já se sentia por mal por não poder abraçá-la. Queria que tudo se resolvesse logo e seria ele a dar o primeiro passo necessário.
Bianca entrou na sala dele após bater à porta. Ele a observou e tentou ver com mais clareza se ela realmente estava a fim dele. A loira lhe deu um bom dia casual com um sorriso em seguida, deixando os papéis em sua mesa. Ele respondeu com um sorriso também, porém percebeu que ela ficou sem graça e a dispensou.
Estava tão cego a esse ponto?
Faria o que fosse necessário para acabar com aquele tempo sem Luiza, e se Bianca era um dano colateral, iria resolver aquele dilema logo.
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Fogo e Gasolina - Chamas - v. 2
RomanceMaria Luiza e Eduardo se encontraram quando ambos estavam perdidos, acharam um no outro razões para seguir em frente. Tornaram-se amigos e se apaixonaram profundamente, mas nem tudo seria flores na vida dos dois. Agora, rumo ao altar, a ruiva teria...