Capítulo 7

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Semanas depois

Gus e Catherine foram para casa junto com os pais dias depois do parto. Como Luiza previu os bebês eram agitados e choravam muito.

Ela amamentava sem parar e trocava fraldas a todo tempo. O trabalho era puxado, mal tinha descanso.

No começo, todos estavam a postos à ajudar, queriam pegá-los no colo e niná-los. Sua mãe passou um final de semana com ela e os bebês. Mas, logo o encanto inicial também foi sumindo e as responsabilidades sobraram para a mãe.

Luiza amava os filhos com todas as forças, mas conforme as semanas foram passando a sua irritabilidade e cansaço só aumentavam.

Seu corpo não era mais o mesmo. Ela não voltou à forma com facilidade. Seus filhos a faziam arrancar os cabelos de tanto choro, fazia tempo que não cuidava de si mesma. Tudo eram os bebês. Vivia por eles. Cada dia um novo desafio imposto.

O pior de tudo estava sendo sua relação com Eduardo. Os dois tinham se afastado nos últimos tempos, ele não a tocava como antes, não a elogiava mais. Tudo isso foram fatores para que a insegurança dela aumentasse.

Com Bianca perto dele no trabalho, onde passava cada vez mais tempo, ajudava para que Luiza pensasse que ele a traia. Eduardo era homem, jovem e atraente, nunca resistiu a um belo par de pernas e ela sabia, o conhecia tão bem quanto qualquer um naquela casa.

Queria que não fosse verdade, não tinha feito nem um ano do casamento deles. Talvez aquele relacionamento não fosse pra ser, desde inicio. Tudo foi muito conturbado. Ela devia ter permanecido na zona da amizade e conforto.

Seu medo, antes dos bebês nascerem, agora era concreto. Era como se Eduardo tivesse ficado com ela por causa deles e nada mais. Lembrava das vezes que ele disse que a amava e sentia uma tristeza imensa.

Frequentemente, quando os bebês choravam, Luiza chorava junto. E mesmo depois da contratação de duas babás, nada pareceu ajudar. Ela se sentia no chão. Tinha carinho pelos bebês, mas ás vezes tinha vontade de sumir e nunca mais voltar. Nunca mais.

Por conta do choro alto dos bebês, discutia sempre com a família dele. Catherine tinha cólica e chorava madrugada adentro fazendo todos acordarem. Lu, que não tinha papas na língua, discutia com qualquer um que reclamava. Era fácil para eles julgar, muito fácil.

"Você tem duas babás, do que está reclamando?" Escutou da mulher de Júlio, uma vez. Foi preciso autocontrole para não brigar.

Uma noite, Eduardo chegou da empresa, os bebês gritavam a plenos pulmões e Luiza segurava Gus no colo, ninando e tentando fazê-lo dormir. Chorava com ele, tentava cantar uma canção qualquer, Catherine chorava no colo de uma das babás.

_ Augusto, a mamãe tá aqui, tá sim... - enlaçou o filho em seus braços, enquanto lágrimas escorriam em seu rosto.

Eduardo entrou no quarto cumprimentou a babá, pegou uma roupa no armário e escapou para o banheiro. Era como se Lu fosse transparente e os bebês não existem.

_ É, meu amor... Eu tô aqui, não tô? - falava para o filho, tentando esconder o buraco no coração que aquelas atitudes do marido faziam.

Quando ele saiu do banho, o menino dormia no colo da mãe e a menina finalmente estava quieta no berço. A babá tinha sido dispensada.

Antes de Eduardo sair do quarto novamente, Lu chamou a sua atenção.

_ Eduardo. - disse em um tom sério.

_ Oi?

_ Eu vou ter um papo reto com você, nem vou ficar enrolando porque você sabe que eu não sou de fazer isso... - ela falava baixo para não despertar o bebê, mas o seu jeito era enérgico. Eduardo ficou surpreso. - Se você não quer me dar atenção, beleza, cara. Mas, pelo menos, dá atenção para os seus filhos!

_ Do que você tá falando, Lu? Tá querendo dizer que eu não dou atenção pra eles?

_ O que você entendeu, cara!? É disso que eu tô falando! Sei que você é babacão, mas não seja com os seus filhos! - ela disse, sem o menor remorso.

_ Me dá ele. - ele se aproximou dela, estendendo os braços.

Luiza não queria que fosse assim, como se ele tivesse sendo obrigado, mas estava tão cansada que não poderia recusar. Augusto foi para o colo de pai e finalmente, ela sentiu todo o cansaço lhe abater.

_ Lu, eu... - ele começou uma desculpa.

_ Não. - o interrompeu. - Eu preciso de um banho antes que a Cath comece a chorar de novo.

Eduardo observou a esposa entrar no banheiro, também estava cansado. Não conseguia dormir direito há semanas, o trabalho na empresa estava o saturando. A dívida só aumentava e os problemas também. E agora com os filhos, a responsabilidade só crescia.

A relação com Lu estava cada vez mais estreita, ele observava a tristeza nos olhos dela e queria ajudar, mas ao mesmo tempo, não queria. Não sabia mais o que sentia, só queria voltar a ser como era antes. Amava os filhos, mas sentia falta de sua vida anterior.

Ele estava perdido. Perdido.

Luiza observava seu reflexo no espelho. Seu rosto sem maquiagem demonstrava os sinais de seu desespero, as olheiras, a expressão caída. O cabelo totalmente desarrumado e desgrenhado em um coque mal feito na cabeça. A raiz mostrando a cor castanha de seu cabelo natural.

O vermelho estava desbotado, assim como ela.

Ela tirou a roupa e ao entrar no chuveiro, chorou um bocado. Não aguentava mais chorar. Não entendia todos aqueles sentimentos, aquela tristeza, aquela angústia. Agonia sem fim dentro do peito.

Ela demorou ali, colocou uma roupa confortável e voltou para o quarto.

Eduardo dormia na cama, o filho ressonava ao seu lado. Um dos braços do pai cercava o filho. Lu não conseguiu nem sorrir com a visão.

Catherine ainda dormia e ela aproveitou aquele silêncio, foi até uma das paredes do quarto onde eles tinham pendurado fotos. Eles com os filhos ainda no hospital, ela com a mãe e os irmãos, Luiza grávida e Eduardo beijando sua barriga e uma do casamento deles.

Em sua mão esquerda a aliança estava ali, ela usava por baixo do anel de ouro com a joia de rubi que tinha sido o marco de seu noivado. Lembrou-se como estava feliz naqueles dias e queria muito voltar àqueles momentos.

De todas as questões que batucavam em sua cabeça, a que era sempre insistente era: Será que Eduardo a amava como esposa?

Porque como amiga, ela sabia que ele a amava, mas como mulher a dúvida ainda era persistente.

Fogo e Gasolina - Chamas - v. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora