2. When We Were Lost

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Eu definitivamente não estava preparada para um voo de cinco horas com Ellie, ela é minha melhor amiga, claro, mas isso não impede que eu me estresse em um voo em que ela não para de reclamar. Ela odeia voar e isso faz com que eu odeie voar ao seu lado.

Tinha algumas horas de sossego antes de finalmente irmos para o Arizona e então decidi ficar em meu apartamento ouvindo alguns CDs antigos. Pelo menos eu achava que iria fazer isso. Meu celular avisava que Ellie estava me ligando.

- Ellie nós moramos no mesmo prédio, porque não desce aqui para me contar o que quer que seja de tão importante para não me contar amanhã.

- Tá bom, sua grossa, eu só queria avisar que estou realmente descendo ai, tem problema se eu levar um vinho pra mim?

- Relaxa, eu acabei de ganhar uma daquelas medalhinhas de um ano de sobriedade, não vou perde-la assim, vou deixar a porta aberta.

Ellie entrou em meu apartamento parecendo um furacão, não falava coisa com coisa e procurava como louca um copo em que pudesse beber seu vinho. Minhas taças estavam todas guardadas em uma caixa, para que eu não as visse e sentisse vontade de ingerir álcool novamente. Mesmo assim não era tão fácil. Me servi um copo de água e sentei o mais longe de Ellie possível. Mesmo depois de um ano sóbria, eu sentia vontade de beber. Eu não estava curada, mesmo depois de um ano internada, mesmo depois de tudo que sofri e depois de fazer minha família sofrer. Eu sou fraca. Sou um monstro. Procurei em minha bolsa a medalha que ganhei há um mês atrás. Eu finalmente conseguira ficar um ano sóbria e me orgulhava disso, quando contei para meus pais eles ficaram tão felizes quanto eu, eles estavam aliviados depois de tantos problemas que eu trouxe ao longo dos anos.

Uma sede surgiu dentro de mim e várias vezes pensei em esticar minha mão para me servir um pouco de vinho, mas eu conseguia me controlar por enquanto, várias pessoas confiavam em mim, inclusive El, ela beber na minha frente só comprovava isso, ela confiava tanto em mim que sabia que era seguro fazer isso em minha frente.

Segurava a medalha com força em minha mão enquanto conversava com Ellie, um lembrete para não cair novamente nessa tentação, mas era difícil demais, todas as vezes em que El levava o copo a boca e engolia o vinho, eu sentia mais vontade. Minha garganta estava seca e a agua que eu tomava não ajudava em nada, não era essa a sede que eu tinha. Mordi meu lábio e apertei com mais força a medalha, eu não podia ser fraca, um ano de sobriedade já era uma vitória enorme e eu não podia - e nem queria - perder tudo. Ela percebeu que eu não estava tão bem assim e parou de beber, dei um olhar de agradecimento e então me senti mais leve.

Assim que Ellie subiu para seu apartamento, fui conferir se todas as minhas coisas estavam na mala, liguei para meus pais e decidi dormir, amanhã seria um longo dia, com direito a minha melhor amiga falando sem parar até chegarmos em Phoenix e nos encontrarmos com Pat.

Assim que entramos no avião percebi que seria um longo voo. Os assentos eram aqueles antigos, menores, mais apertados e com uma distância menor entre um e outro. Essa seria a primeira reclamação de Ellie com toda certeza. Por que não fomos de primeira classe mesmo? Ah, porque Ellie disse que precisamos economizar, pelo menos isso poderei jogar na cara dela.

- Amiga, esses lugares são péssimos, não acha? Os assentos são do modelo antigo, achei que eles não usassem mais desde 2014 – quando ela cochichou isso eu só me perguntei se jogasse na loteria eu acertaria tão em cheio assim.

- Eu falei para comprarmos na primeira classe, não falei?

- Eu só queria economizar um pouco, ou você se esqueceu que já gastamos muito nesse mês? Vamos tentar mudar agora, onde estão todas as comissárias daqui?

- Bom dia, posso ajuda-la?

- Eu queria mudar para a primeira classe, assim que chegarmos em Phoenix eu pago a diferença, por favor, eu me sinto presa sentada aqui.

- Desculpe, senhora, mas não temos mais lugares disponíveis neste voo. Aceitam uma aguinha?

- AGUINHA É O CACETE EU VOU MORRER NESSE VOO E MEU CAIXÃO VAI SER UMA CAIXINHA PORQUE OLHA O TAMANHO DESSA POLTRONA!!

- El, calma, respira e chega de drama. Moça, a gente aceita a água sim, obrigada.

Assim que a comissária de bordo nos entregou a água, Ellie encontrou mais uma coisa para reclamar.

- Adele, a janela não tá fechando. Sério, como você quer que eu relaxe se a janela travou aqui e não fecha mais do que isso, olha ali, umas duas fileiras pra frente tem dois lugares vazios, será que podemos ir pra lá?

A comissária já estava nos olhando com uma cara feia, mas Ellie nem percebeu. Eu só queria que ela calasse a boca.

- Desculpe senhora, o voo está cheio e não conseguiremos trocar seus lugares, desculpa.

- El, coloque logo uma música pra ouvir E CALA A BOCA.

Assim que falei isso me arrependi, olhei no visor do iPod dela e a música que começou a tocar era a que ela mais odiava na vida, Free. Maldito aleatório. Respirei fundo e contei até três antes de ver o furacão Ellie ativo novamente.

- Adeline, me explica porque existe o In Darkness & In Light mesmo.

- Porque ninguém é perfeito, nem The Maine. A gente tinha que ter umas musiquinhas deles pra reclamar, né?

- Meu Deus que música chata do caralho.

Depois de alguns minutos conversando sobre quais eram as músicas mais nostálgicas que tínhamos em nossos iPods, Ellie dormiu e eu finalmente pude descansar um pouco. Quando fechei meus olhos tentando dormir um turbilhão de pensamentos invadiu minha mente. O que eu estava fazendo? Viajando para o Arizona só para me encontrar com um ídolo da minha adolescência e tentar descobrir como e por que a banda acabou e escrever uma matéria sobre isso, mas sem contar que trabalho na Lost Souls porque o John pode muito bem não querer comentar sobre isso. Meu coração estava acelerado, me sentia com 18 anos de novo ao lado da minha melhor amiga naquele, como fazíamos quando seguíamos uma tour do The Maine. Agora estávamos ali procurando o vocalista da banda e com o baterista nos esperando no aeroporto e ainda nos hospedaríamos na casa dele. Cochilei por alguns minutos, mas acordei com o barulho que Ellie fez ao voltar do banheiro.

- Nossa, mas os banheiros estavam lotados, fiquei uns vinte minutos esperando numa fila gigantesca, pensei que fosse fazer xixi nas calças.

- Mas o voo está lotado, é normal que isso aconteça, parece até que você nunca viajou de avião, El.

- Você tirou o dia pra me dar sermão, Adeline, credo nem parece que está prestes a se encontrar com um anjo chamado John O'Callaghan.

- É, um anjo que sumiu do mapa por quase cinco anos e que praticamente esqueceu que tinha uma banda e fãs. Ótimo anjo.

- Adele do céu, isso é TPM?

- Cala a boca, Ellie.

Ainda tinha duas horas de voo quando não aguentava mais El reclamando de tudo e qualquer coisa que acontecesse quando me levantei para ir ao banheiro. Quando estava voltando para meu lugar, resolvi observar os outros passageiros para tentar imaginar alguma história para escrever enquanto não chegávamos. Meus olhos fixaram em um casal sentado em minha frente, de costas para mim, o que mais me chamou a atenção foram os cabelos, a mulher tinha umas mechas roxas em um cabelo castanho claro, enquanto o homem tinha um cabelo na altura dos ombros, castanho e umas mechas mais claras queimadas de sol e cheio de nós. Ele vestia uma camiseta listrada e ela uma camiseta cinza com o desenho de um alien. Meu coração gelou por alguns minutos, continuei andando até meu assento como se nada estranho estivesse acontecendo e quando estava quase em meu lugar, me virei para ver seus rostos. Isso não podia mesmo estar acontecendo. Me sentei e Ellie me encarou, com um ar de preocupação.

- O que tá rolando Adele? Parece que você viu um fantasma.

- Muito pior, El. Garrett Nickelsen e Falyn Snyder estão nesse voo.

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