Harry's Girl

Harry estava andando a passos largos, estressado como sempre. Não que eu pudesse fazer algo, eu só tinha que segui-lo pra lá e pra cá como um zumbi. Não que o meu trabalho fosse ruim, na verdade milhões de garotas no mundo inteiro morreriam para estar no meu lugar. Fazendo o que eu faço todo dia, que simplificando: Era só segui-lo.

Você deve estar se perguntando agora: Quem é essa garota?Ou o que ela faz?

Não que isso importe, meu trabalho é fazer um relato minucioso sobre sua vida. 

E quanto ao que eu faço, meu trabalho é de escrava, faz tudo, personal blá blá blá. 

Dessa vez o vôo seria rápido, uma pequena conexão de Dublin para Londres, logo ocupei meu lugar no canto mais solitário do avião. Os garotos já estavam lá, Harry estava atrasado, como sempre também. Peguei o Galaxy Note e fui checar sua agenda, ou melhor, a nossa agenda já que tudo na minha vida era em função da dele.

E sempre incrível com a gente acha que tudo na vida das pessoas famosas é fabuloso, mas as coisas não são assim e estando do lado delas a sua vida pode ser ainda pior e não tão boa como a deles. Sim, tendo de segurar sua confusão de cachos enquanto ele vomita depois de uma madrugada em uma festa no norte de Los Angeles em um clube que não precisa ser especificado. Aguentar seu ataque de histeria pré-entrevista. Segurar sua bagagem imensa no aeroporto enquanto ele da autógrafos. Separar seus looks todas as manhãs, lembrá-lo do nome das pessoas, fazer com que ele se levante e tentar não desmaiar ao vê-lo se levantando sempre com aquela maldita cueca Hugo Boss. Além de obrigá-lo a se exercitar e a seguir uma dieta recomendada pela gravadora, digitar seus posts no twitter e tirar suas fotos no Instagram.

Era uma vida, complicadamente esquisita.

A vida de uma verdadeira garota do Harry,

Tudo começou no verão monótono de 2013 no sul de York, eu costumava trabalhar na loja de conveniências da rodovia 26. Servia café o dia inteiro e tudo que ganhava ia pra família. Naquela estação insuportável de sol onde quase ninguém conversava apenas o velho ventilador de ferro se fazia notar com seu rangido. A loja era escura, e em um daqueles dias que parecia tudo igual um acontecimento fez daquele o dia que mudaria completamente a minha vida. 

Uma pequena frota de caminhões chegou pouco antes de um grupo de três carros de luxo. Apressada com os fregueses e servindo café que nem uma louca acabei me distraindo junto com todo o bar quando o grupo estacionou o carro e cinco garotos e alguns seguranças entraram na loja. Derrubei então uma quantidade notável de café recém fervido na perna de um dos caminhoneiros que urrou de dor na hora exata em que os cinco meninos abriram ruidosamente a velha porta da loja.

No instante seguinte as coisas que se sucederam aconteceram tão mais rápidas do que meu raciocínio não pode acompanhar.

O homem com a perna ferida puxou o meu cabelo tão forte que senti diversos fios se desprendendo da minha cabeça, um dos cincos garotos veio correndo na minha direção mas logo a minha visão encontrou uma mão três vezes maior que a minha vindo de encontro numa explosão terrível de dor, senti meu corpo envergando e cai de joelhos como uma boneca de pano. A dor lancinante que me tomou quase não me permitiu ver o jovem desferindo vários socos no homem que tinha me batido, ele socava tanto o caminhoneiro que depois de alguns segundos seus amigos tiveram que segurá-lo para que ele não o espancasse. Logo meu olho bom me traiu e desmaiei no assoalho frio daquele bar imundo.