A Bela e a Fera

Capítulo 2: A Fera

A história do bibliotecário a havia intrigado muito. Mesmo que fosse apenas uma história boba, ela teria que ver com os próprios olhos. No dia seguinte acordou bem mais cedo que o normal, se arrumou, pegou seu carro e partiu em busca do tal castelo. Mesmo que isso fosse uma idiotice, ninguém saberia se ela não contasse.

Enquanto dirigia, seu coração batia mais rápido à medida que adentrava a floresta. Quanto mais seguia a estrada, mais sentia um fio de esperança de que talvez tudo aquilo pudesse ser verdade. Poderia não haver um monstro de fato, mas poderia haver um castelo abandonado. De súbito parou o carro; viu mais à frente que a estrada ganhava um ar mais sombrio que o normal. Olhou ao seu redor. Estava sozinha e tudo estava silencioso, chegava a ser medonho a tamanha quietude. Sentiu em seu íntimo que algo a observava, ocultando ao máximo sua presença.

- Olá? Tem alguém aí? - perguntou muito assustada, mas com um fio de coragem que nem ela sabia que tinha.

Ouviu um barulho alto e estranho. Quando se virou, viu alguns lobos simplesmente gigantescos cercando-a lentamente. Isabela até pensou em voltar para o carro, no entanto um dos lobos pulou em cima do capô, deixando-a mais amedrontada. Ela não viu outra saída a não ser ir por aquele caminho arrepiante que estava totalmente livre. Isabela correu desesperadamente com toda sua força e desespero para sobreviver, mas mesmo assim não conseguia despistar os lobos, não importava o quanto corresse. Aqueles bichos realmente pareciam monstros com seus caninos á mostra, escorrendo saliva pela boca toda.

- ALGUÉM ME AJUDA!!! – gritou desesperadamente o mais alto que pôde.
Quanto mais avançava pela floresta, notava uma natureza doente ou senão morta. Olhou mais à frente e viu que o castelo estava realmente lá; de fato ele realmente existia. O caminho parecia livre e cheio de esperança, mas em um piscar de olhos os lobos gigantescos e grotescos voltaram a cercá-la. Ela teve que se manter atenta a cada brecha ou lugar para correr. Notou que um dos lobos estava de costas para um arbusto de espinhos. Aquele lobo parecia menor se comparado com os demais, então ela correu em direção a ele, e ele a ela.

Quando estava bem próxima do lobo, o animal saltou em sua direção. Em um gesto rápido abaixou-se, escorregando no chão em direção aos espinhos. Ela se encolheu toda para não ser atingida pelos espinhos, tampouco ser pega pelas garras daqueles lobos. Os animais tentaram adentrar o local, mas ficavam receosos. Eles cheiraram bem aquele local, guardando cada odor; por fim desistiram de sua presa e foram embora.

Isabela ficou algum tempo esperando que todos saíssem dali. Ao notar que estava completamente só, lentamente e com muito cuidado virou de bruços e começou a rastejar, adentrando mais ainda aquele arbusto.
"Eu deveria voltar, mas certamente essa não é a opção mais viável no momento. Irei continuar por este caminho mesmo. Espero não ter outro problema...", pensou ela.

Os espinhos ficavam cada vez mais comprimidos e espetavam-na, fazendo suas roupas rasgarem e sua pele sangrar com os cortes. Viu os espinhos se acabarem e, antes de sair, olhou o lugar por entre os galhos. Não parecia ter algo perigoso. Levantou-se com cautela, atenta a tudo ao seu redor, curvou o corpo e caminhou rapidamente até o castelo. Os arbustos eram grandes, então pensou que, se sua silhueta não estivesse totalmente ereta, não seria vista pelos lobos.

O castelo possuía alguns degraus em sua entrada, como o bibliotecário havia mencionado naquela vez. A porta estava meio aberta. Era enorme e os batentes que a contornavam estavam sujos e cheios de lodo e mofo. Corajosamente Isabela entrou e empurrou a porta para fechá-la, ainda com medo de que os lobos pudessem aparecer.

A jovem de cabelos castanhos escuros pareceu não notar a gravidade dos ferimentos causados pelos espinhos, a ponto de enfraquecê-la à medida que se esforçava para andar. Voltou seus luzeiros para trás, notando seu rastro de sangue.