A Bela e a Fera

Capítulo 4: As Flores do seu Jardim

Com cuidado a Fera segurou a garota, levantando sua cabeça, deixando-a apoiada em suas mãos monstruosas.

-Sinto muito. – Murmurou segurando-a contra seu peito.

Entrou no quarto novamente, repousando o corpo da garota sobre a cama. Ela simplesmente ficou desacordada até o amanhecer do dia seguinte. A Fera ficou resto do dia, até de noite. Quando não aguentava mais de sono, voltou aos seus aposentos para descansar um pouco. Não queria que Isabela se deparasse com ele assim que acordasse. A Fera desfrutou do seu sono minimamente. Saindo dos seus aposentos percorreu o corredor até a cozinha.

Isabela despertou lentamente, e estranhou o fato de ser tão cedo. Levantou-se de súbito e examinou o corpo; não havia nenhuma violação nele. "Será que eu desmaiei?", perguntou a si mesma. Pôs-se a caminhar; estava com muita fome, então decidiu ir atrás de algo para comer na cozinha, mesmo que pra isso tivesse que andar de um lado a outro procurando pelo cômodo. Ao chegar lá, deparou-se com um café da manhã completo, que tinha junto um bilhete dizendo:

''Eu sinto muito por ontem, eu não sei que tipo de comportamento foi aquele o meu. A besta que há em mim falou mais alto e eu não pude me conter. Espero que esteja bem. Se quiser me ver estarei em meus aposentos. Peço-lhe desculpas novamente.

Ass: A Fera"

- Fera... Pervertido! – disse amassando o bilhete – Mas não sei por que só me lembro de poucas coisas, como ele tentando me beijar; depois disso que não me recordo. Acho que devo ter desmaiado de susto. – refletiu em um monólogo enquanto saboreava suas torradas, frutas e um leite morno.

Ela comeu tudo, estava simplesmente maravilhada pelo gosto da comida. Colocou tudo dentro da pia enorme e voltou ao seu quarto para se arrumar e assim encontrar a Fera.

Chegando nos aposentos da Fera, Isabela notou a porta aberta, e sem cerimônias entrou. Aquele quarto era maior do que os outros espalhados pelo castelo. O lugar estava em farrapos e bagunçado, com móveis destruídos e marcas de arranhões pelas paredes. Logo adiante, lá esteve ele. O mesmo manteve sua seriedade evidenciada no olhar.

- O que você quer? - perguntou ela diretamente.

- Bem... Eu... – começou fazendo uma expressão levemente melancólica – Queria me desculpar pelo o ocorrido ontem, eu me sinto um lixo. – respondeu a Fera.

- Hum... - retrucou Isabela, em um tom ríspido.

- Você está bem? - continuou.

- Hum... – murmurou indiferente.

Isabela cruzou os braços e fez uma cara emburrada. A Fera estava desconfortável com a situação; o silêncio pairava no ar, o que era pior ainda. Então ele sugeriu à garota para darem uma volta, a fim de explorar o castelo. A garota, contudo, ficou relutante quanto ao pedido, mas depois de pensar sobre, aceitou.

- Por que me chamou para dar uma volta? - perguntou em um tom rude, enquanto caminhavam.

- Eu queria que fizéssemos as pazes. Gostaria que tivéssemos uma relação mais harmoniosa, como bons amigos. – sugeriu a Fera.

- Amizade apenas. - respondeu Isa.

Os dois caminharam por quase todo o castelo, até se depararem com uma porta de madeira que tinha esculpida em suas maçanetas dois leões de ouro.

Isabela ficou curiosa para saber o que havia atrás daquela porta. Antes de abri-la, Fera segurou em seus braços e pediu-lhe para deixar aquela de lado. Disse que queria mostrar em um outro momento. A garota estava curiosa, mas resolveu esperar, afinal não queria dar outro passo em falso e de repente causar mais um atrito entre eles.

- Ok. - concordou.

- Obrigado, Bela. - sorriu a Fera.

Os dois foram até o jardim atrás do castelo, um lugar muito lindo com diversas flores radiantes. Bela ficou muito feliz, afinal lembrou-se do pequeno jardim em sua casa, que cuidava com muito amor.

- Uau! Esse jardim é maravilhoso! Acho que poderei me ocupar um pouco. – disse radiante.

- Bem... Apenas tome cuidado com esse jardim. – advertiu.

- Eu sei, eu sei... Eu tinha um pequeno jardim em minha casa... – cessou a fala ao lembrar do podre jardim, totalmente devastado.

- Não é por isso. Existem pessoas aqui. – explicou, sem notar a mudança de expressão da garota.

- Pessoas? Como assim? – voltou-se para ele, confusa.

- Há muito tempo, eu era um humano como você. Desfrutava da minha vida, riquezas e mordomias, até que em um fatídico dia fui transformado nesse monstro – apontou para si mesmo, com uma certa repulsa – e todos que estavam no castelo também foram afetados de alguma forma pela magia.

-Então, quer dizer que... – olhou ao seu redor alarmada.

- Isso mesmo, Bela. Essas flores aqui são os empregados do castelo. - explicou.

- Não dá... Para... Acreditar! - silabou com seus olhos amendoados arregalados.

- Eu também não consigo acreditar... - ele murmurou, numa inquietude ao lembrar do passado.

Bela ficou sem jeito com a situação. Fera sentou-se em um dos bancos que havia lá, seguido pela garota que sentou ao seu lado, na esperança de confortá-lo caso precisasse.

Eles dois ficaram em silêncio por um bom tempo. Isabela se lembrou do ''quase beijo'' que recebera e ficou um pouco confusa em relação aos seus sentimentos. A marca voltava a queimar no peito, o coração parecia dizer "sim", enquanto sua cabeça negava veemente.

Bela olho-o disfarçadamente, examinando-o de baixo para cima. Conforme seus luzeiros percorriam aquele corpo imenso, a curiosidade aumentava cada vez mais. Distraiu-se encarando os lábios humanos da Fera. Sem perceber, foi se aproximando de seu rosto. Ele sentiu que ela estava se aproximando sutilmente e virou a cabeça em sua direção, fazendo com que seus lábios ficassem próximos.

- O que foi? – indagou.

- Não... - respondeu vagamente em um fio de voz.

Ele afastou-se da Isabela, que no mesmo instante sentiu o coração bater descompassadamente.

- Fe... Fera. – chamou em um tom rouco.

- Sim?

- Sabe... Eu amo ler. Vivia devorando um livro atrás do outro e queria saber se, por acaso, eu poderia ler para você uma das minhas histórias prediletas? – sugeriu.

- Isso seria fantástico! - respondeu bem contente.

A garota sorriu tímida sem perceber, aquela sensação deixada pela marca havia sumido. Eles caminharam de volta ao castelo calmamente, apreciando a paisagem. Isabela o conduziu até seu quarto, onde pegou seu livro preferido: ''As Crianças do Jardim Encantado''. A Fera propôs então que retornassem ao jardim, para que Isabela pudesse ler para ele sob o ar fresco e agradável que serpenteava pelo vasto espaço.