CAPÍTULO UM: FELIZ ANIVERSÁRIO (JADE)

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CAPÍTULO UM
FELIZ ANIVERSÁRIO (JADE)

“Mia está morta, eu sinto muito" aquelas palavras me atingiram em cheio. Foi como ter uma flecha pontiaguda atravessando meu peito em alta velocidade. Mia está morta.
Parei onde estava no exato momento em que a voz do meu pai chegou até mim e meu cérebro processou as palavras. Ele me encarava, seus olhos pareciam tristes, preocupados, até mesmo hesitantes, como se ele estivesse se perguntando se deveria ou não se aproximar. Meus olhos estavam vidrados, olhando para além dele, a janela da sala aberta, e para além dela, das árvores, da cerca branca com a pintura suja cercando nosso quintal; para além do asfalto, das dezenas de outras casas na nossa vizinhança. Meus pensamentos estavam lá, na casa dela, nas cortinas floridas que viviam balançando no ritmo do vento porque ela sempre deixava a janela aberta; estavam em sua cama forrada com uma colcha lilás que eu sempre dizia que era infantil demais e no perfume doce que ela usava e ficava impregnado em cada centímetro daquele lugar. Meus olhos, minha mente, cada fibra do meu corpo estavam em Mia. Minha melhor amiga. A pessoa mais importante da minha vida, depois do meu pai. "E do Ryan Reynolds", eu podia ouvir sua voz completar em minha mente com um tom risonho. Ela não podia estar morta. Mia não podia morrer! Não agora. Não. Isso só podia ser algum tipo de pegadinha dela, trote de aniversário, ela tinha que ter dado um jeito de convencer meu pai a colaborar, porque não tinha outra explicação. Era isso. Minha melhor amiga não podia estar morta!

— Querida — senti o toque do meu pai em meu braço, seu tom era quase uma pergunta. Querida, você está aí?
— Ok.— soltei o ar que eu nem me dei conta de que estava prendendo — muito legal! Realmente me assustaram. Por um segundo até pensei que teria que passar meu aniversário de preto e segurando uma vela enquanto os vizinhos rezavam pela sua alma, ouviu Mia?— levantei a voz para que ela conseguisse me ouvir mesmo que estivesse escondida no segundo andar, no meu quarto. — Ótimo trote de aniversário, superou totalmente o do ano passado no quesito morbidez. Mas já pode aparecer — passei pelo meu pai, indo olhar os possíveis lugares que Mia poderia estar usando como esconderijo: atrás do sofá, em baixo da mesa, atrás da cortina verde militar que meu pai insistia em deixar na sala não importando quantas vezes eu repetisse que era uma cor horrorosa para cortinas e que definitivamente não combinava nem um pouco com o tom avermelhado do sofá.
— Mia?! — dei um passo para dentro da cozinha — se você não estiver aqui e eu te encontrar — levantei a toalha da pequena mesa redonda e me abaixei. Nada. — no meu quarto — olhei em baixo da pia — comendo meu sorvete de chocolate — abri a dispensa — eu vou arrancar esses seus lindos cabelos castanhos. O que será uma pena porque aí não poderá usar a tiara maravilhosa que eu comprei e...
— Querida. Jade — Meu pai entrou na cozinha, me interrompendo. Pude até sentir uma pontada de dor em sua voz ao chamar meu nome, ele estava fingindo bem demais para alguém que mentia pessimamente para mim.
— Ela está no meu quarto não está? — sorri de canto. — Você não deixou que ela...
— Jade, não tem mais ninguém aqui. Só você e eu, filha. E isso não é um trote de aniversário, seus amigos não vão saltar do seu armário com balões e pistolas de brinquedo cheias de sangue falso dessa vez, não estou brincando. Infelizmente, Mia morreu.— ele tentou me tocar, recuei.
Não podia ser. Não. Não. Não podia ser verdade.
— Eu lamento muito — ouvi meu pai dizer, mas as palavras não pareceram fazer sentido. Naquele momento foi como se o significado delas me fosse desconhecido. As sacolas caíram da minha mão, ouvi o barulho do vidro do meu novo perfume contra o piso de madeira. Se quebrou ou não, eu não me importei. Em minha mente só ecoavam duas frases: "Mia está morta" e "por favor, seja uma brincadeira idiota."
Por favor seja a porra de uma brincadeira estúpida e idiota! Um maldito trote de aniversário! Uma piada de mal gosto! Minha melhor amiga não pode estar morta! Não hoje, não no meu aniversário, não nunca!
    
       Não sei bem em que momento meus pés começaram a se mover ou como cheguei a sala e abri a porta quando mal sentia o peso do meu próprio corpo, só me dei conta de que cambaleei até o lado de fora quando senti o vento no rosto. Meu pai estava logo atrás de mim, eu podia sentir o cheiro amadeirado da sua colônia. “Eu sinto muito, querida" Ele repetia e eu ainda não entendia.
Olhava para a esquina, virando a rua a primeira casa era a dela. Com fachada rosa e um jardim colorido onde costumávamos dormir nas noites de verão na sétima série, ouvindo Cody Simpson e especulando qual de nós duas Joshua Hayfield levaria ao baile, mesmo que soubéssemos que não seria nenhuma de nós.

       Sem meu menor consentimento meu corpo começou a se mover, correndo, sentia o vento bater no meu rosto, puxando meus cabelos para trás, e um medo terrivelmente pesado esmagando meu coração, mais forte a cada batida, a cada metro mais próximo da casa dela. Ao longe, meu pai chamava meu nome, mas eu não podia olhar para trás ou lhe responder, só precisava chegar na casa dela e vê-la vindo abrir a porta e então tudo ficaria bem outra vez.

        A rua treze sempre cheirava a primavera, havia um enorme canteiro de flores cortando-a ao meio e muitas das casas ali tinham jardins mas, nenhum era mais bonito que o da casa de Mia. A mãe dela tinha umas flores exóticas que floresciam no inverno, então literalmente tinham flores o ano inteiro. Eu amava o jardim. Especialmente no outono, quando tudo ganhava um tom alaranjado e uma aura mágica, fantasiosa.
Mas naquele momento a rua treze cheirava a outra coisa: sangue, tristeza e curiosidade. E também a medo, o meu medo do que significava aquela ambulância e a viatura em frente a casa dela, cercadas de olhares curiosos e assustados.

Me aproximei devagar, como se cada passo fosse um risco. Não tive coragem de chegar até a casa, pois só dei alguns passos e uma nova flecha me atingiu:
— Quem assassinaria uma garota a sangue frio na porta de casa? — ouvi um policial comentar com um colega.
Assassinada.
Mia havia sido assassinada.
Tinha que ser um pesadelo. Qualquer coisa. Menos a verdade.

        Fui tomada por uma dor aguda e sufocante, parecia que o músculo do meu coração estava sendo esmagado contra meus pulmões. Eu queria chorar, queria gritar, queria exigir do universo que desfizesse aquilo, mas só consegui ficar imóvel, fincada ao solo, observando o movimento em frente a sua casa. Aos poucos os curiosos foram se dissipando. Policiais entravam e saíam, eu ouvia choros e conversas ruidosas que não conseguia compreender. A ambulância continuava parada, as sirenes desligadas, um policial armado junto a porta e um homem de branco ao seu lado. Me perguntei se Mia estava lá dentro, fria, morta, com seu coração imóvel enquanto o meu batia como se quisesse saltar do meu peito. As lágrimas nublaram meus olhos e, enfim, começaram a cair, seguidas por um som estranho e rouco que era um misto de grito e soluço embargado. Alto o bastante para que um policial notasse minha presença e vinhesse até mim.

— Está tudo bem? — ele perguntou, seu tom era gentil. Eu nada disse. As palavras nem sequer se formavam em minha mente. Não conseguia dizer que nada estava bem porque minha melhor amiga estava morta e que cada centímetro do meu corpo parecia doer enquanto minha mente se recusava a acreditar no que parecia óbvio a cada vez que olhava para o cenário a minha volta.
— Você conhecia a vítima? — ele perguntou — Mia McCounaughey.— falou, como se tentasse esclarecer a informação. E aquilo foi demais para mim, foi o limite, a gota d'água que faltava. Se eu conhecia Mia McCounaughey? Eu a conhecia, talvez, mais do que a mim mesma. Ela era como uma irmã para mim desde que minha mãe foi embora e meu pai quis mudar para esse fim de mundo anos atrás. Éramos como Jonathan e Davi, Batman e Robin, Luke e Yoda. Ela certamente riria, gargalharia se me ouvisse falando assim. Ah, como daria tudo para ouvir sua risada agora!
“Olha só, parece que temos uma entendedora do mundo Geek aqui" ela diria e riria e eu riria junto e tudo ficaria bem. Só que ela está morta, é o que todos dizem, é o que parece quando olho em volta, e nunca mais a ouvirei rir ou fazer piada do meu falso conhecimento sobre cultura pop.

      Encarei os olhos escuros do policial por alguns segundos antes de sair correndo. Dessa vez não em direção a casa da Mia, tampouco de volta para a minha. Eu só queria correr até não aguentar mais, até estar o mais longe possível daquele pesadelo. Até que minhas lágrimas secassem e meu coração parasse de doer, não que eu achasse que isso fosse mesmo acontecer algum dia. Era o pior dia da minha vida e nunca achei que teria um outro dia como esse depois do dia em que minha família desmoronou.
É, ótimo dia para se fazer dezessete anos! Feliz aniversário Jade, sua melhor amiga morreu, quer bolo?!


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Heeeeeeeeeey Everybody!
E aí, o que cês acharam?👀
Capítulo pequeno, eu sei, mas o 3 primeiros são assim mesmo, porque era para o concurso do RomanceBr, lembram? (Ainda estou tentando entender como um romance virou suspense, mas OK kk). Espero que tenham gostado ❤
As postagens serão semanais. Mas não, não começarão na próxima semana, só quando aquele "Em Breve" for retirado. Mas será em breve bem breve brevemente (': kk.
Se tiverem gostado, não esqueçam de votar, add em lista de leitura, chamar oszamigo, gato, cachorro, namorado(a), vizinho, papagaio, para conhecer também.

Bjinhos de luz ❤✨
Nos vemos em breve, bem ali na rua 13!



⚡ Kath

BEM ALI NA RUA 13 [ HIATUS ] Onde histórias criam vida. Descubra agora