CAPÍTULO CINCO: LÁGRIMAS NO TRAVESSEIRO (JADE)

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CAPÍTULO QUATRO: LÁGRIMAS NO TRAVESSEIRO (JADE)

Um ano atrás, no meu aniversário de dezesseis, Mia decidiu fazer algo que eu nunca esqueceria. Ela poderia ter me dado passagens para ir à Los Angeles acampar em frente a casa do Ryan Reynolds ou passes para conhecer os bastidores do novo filme dele ou qualquer coisa assim, garanto que não me esqueceria disso jamais! Mas, quando se tratava de Mia sempre podíamos esperar o inesperado e nada que esperassemos seria inesperado o bastante.
Todo ano, no aniversário uma da outra, fazíamos uma brincadeira, um trote. E era disso que Mia não queria que eu esquecesse. 16 anos é uma idade especial, disse ela, não podia ser um trote qualquer.

Ao chegar em casa naquele dia, vi que tinha um recado na secretária eletrônica. Mia chorava e soluçava enquanto me dizia que Rob, meu agora ex namorado, havia sofrido um acidente e estava no hospital. Meu Deus! Eu quase tive um ataque.
"Vem para o hospital" Disse ela, entre soluços com a voz embargada "e traz uma roupa para mim por favor, a minha está suja de sangue"
O sangue de Rob, pensei. Mas tudo era parte do plano. Traz roupa para mim, uma desculpa para me fazer abrir o armário antes de sair feito uma louca rumo ao hospital. E quando abri o armário, eu não soube se sentia fúria ou alívio.

Lá estava Rob, Mia, Clark e alguns de nossos outros amigos, todos espremidos no meu closet e segurando pistolas de água nas mãos. As roupas de Mia realmente estavam sujas de sangue, do sangue falso que espirraram em mim com as pistolas. Foi realmente um trote de aniversário inesquecível. E eu daria qualquer coisa para que a morte dela também não passasse disso, uma brincadeira boba, mais uma das nossas tradições malucas como deitar no jardim ou beber nas margens do rio; como amar o Ryan Reynolds e ouvir músicas estranhas.

Quando os garotos me deixaram no portão de casa, o sol já havia sumido por completo e dado lugar à uma noite escura quase sem estrelas. Até mesmo a lua parecia opaca.
Meu pai não estava em casa. Jackson me disse que ele devia estar me procurando e que eu deveria ligar para ele e avisar que já estava em casa, bem. Bem. Pensei nessa palavra por alguns segundos. Seu conceito pareceu algo tão relativo. Eu não estava ferida fisicamente, estava em casa, segura, estava bem. Por outro lado, uma parte do meu mundo parecia ter desabado repentinamente sobre a minha cabeça e nada mais parecia capaz de ficar realmente bem algum dia.
Não liguei para o meu pai. Nem sei dizer ao certo o porquê, simplesmente não liguei. Subi as escadas e fui para o meu quarto, o coração palpitando no peito, as veias vibrando fora de ritmo sob a minha pele, meu corpo inteiro e minha mente torcendo para ser recebida com jatos de sangue falso e o som da risada de Mia. Clark me dizendo que eu era muito trouxa por sempre cair nas pegadinhas deles. Até o policial que havia me perguntando, em frente a casa de Mia, se eu a conhecia estaria rindo da situação. Ela estaria viva e tudo ficaria bem. Era o que eu mais queria!
Mas, quando abri a porta do quarto minha esperança feita de ilusão se desmanchou e escorreu como areia nas mãos, tudo estava exatamente como eu deixara ao sair pela manhã.
Nada de Mia, nada de trote, nada bem.

Encarei as sacolas em cima da minha cama. Meu pai devia tê-las colocado lá. Compras para uma comemoração que não aconteceria mais. A festa de aniversário da Jade estava oficialmente cancelada!
Forcei minhas pernas a se moverem e me arrastei até o banheiro, pensando que alguém deveria ligar para o Clube e avisar do cancelamento, mas esse alguém definitivamente não seria eu, não tinha forças para isso. Talvez a festa acontecesse sem mim. Que diferença faria em um momento como esse? A festa da Jade poderia se tornar "a festa de alguém cuja melhor amiga não foi assassinada e tem um motivo para comemorar", porque eu só tinha motivos para chorar e foi o que fiz.
Me despi e deixei a água morna cair do chuveiro sobre mim, se misturando às minhas lágrimas e me fazendo desejar que existisse um sabonete capaz de limpar por dentro. Capaz de tirar dores e preencher vazios.

BEM ALI NA RUA 13 [ HIATUS ] Onde histórias criam vida. Descubra agora