Valter estava enfermo em sua própria casa há mais de quatro meses. Todos os dias sua única filha vinha vê-lo.
- Pai, como você está? - ela perguntou, gentilmente.
- Eu não sei, filha. Sinto que não alcancei tudo na vida.
- Não diga isso. Você fez muitas coisas. Criou muitas invenções. Você é quase um Tesla. Seus amigos dizem que você se esgotou de tanto trabalhar.
- Eu não sinto isso - Valter respondeu, melancólico. - A vida é muito curta. Não podemos fazer tudo em uma única vida. É por isso que nós temos várias.
- Pai, quando tudo isso começou mesmo? Quer me contar?
- Acho que foi quando voltei das minhas férias do Japão.
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- Olha só. Já te mostrei o meu Mindnote 7?
- Mindnote 7? Mas eu tenho apenas o 5. Como você conseguiu o sete se ele ainda nem lançou? Você viajou no tempo? - perguntou Rowe.
- Não, eu viajei pro Japão. Que é quase a mesma coisa! Eles são tão avançados que não entendo como ainda não alcançaram a imortalidade.
- Eu não entendo por que você não inventou o Mindnote - dizia Rowe. - Ou qualquer outro aparelho. Você tem tantas ideias. É só parar para sentar e criar.
Valter levou a ideia à sério. Ficou sem sair de casa durante um mês. Ele inventou folhas artificiais produtoras de oxigênio só com a ajuda de luz e água, também criou uniformes termorreguladores e mais leves para os astronautas - as primeiras invenções de milhares - e pesquisou durante muito tempo com isótopos radioativos. Porém, estava guardando uma carta na manga. Iria mostrar ao mundo a primeira máquina do tempo batizada de Wells.
Entretanto, a máquina funcionara apenas uma vez. Ele não conseguiu fazê-la funcionar de novo. Sempre que podia, Valter tentava consertá-la. Sem sucesso. Patenteou centenas de invenções, mas não tinha mérito suficiente, parecia que o mundo não ligava. Mas ele não se importava. Só o que importava era Wells, e ficava arrasado por não ter obtido sucesso nela.
- Homens assim surgem uma vez a cada 42 séculos - a filha dele o confortava. - Não entendo por que você está triste. Mas quem é que entende um gênio? Nem Einstein se entendia. Você é muito avançado. Talvez o mundo não esteja preparado para suas invenções, talvez daqui a mil anos você ainda seja citado. Uma máquina do tempo? Imagina se você fosse bem sucedido. Quais problemas isso iria acarretar? Milhares, no mínimo. Deus sabe o que faz.
- Estou com medo de morrer no anonimato. E se eu for esquecido?
- Cai-se o homem, mas permanece a obra. Você será lembrado pelas suas invenções, e assim, viverá eternamente.
- Hoje de manhã li Sófocles e Eurípides - Valter disse. - Como disse, ainda preciso fazer muitas coisas... E se a vida não passar de uma tragédia? Uma piada de mau gosto? E se for mesmo circular?
- Bem, eu entendo - respondeu a filha. - Ou tento. Se o tempo for circular e as nossas tragédias já tiverem sido contadas...melhor nem tentar mudar.... Talvez fosse melhor descansar um pouco.
- Sim, é verdade - Valter respondeu, cansado.
E descansou.
Para sempre.
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Os Crononautas
Science FictionViagens no espaço-tempo são apenas o começo das histórias de Crononautas. Com personagens bem construídos e com muita reflexão, as ideias expostas em cada conto não têm tempo certo para serem questionadas. Vida, morte, passagem do tempo, o futuro do...