A expedição científica rumo ao futuro foi estimulada em bilhões de neorreais. O valor exato nunca foi dito, mas especula-se algo em torno de 3,2 bilhões de neorreais.
O Diretor do Novo Brasil, Leôncio Soarez, era um verdadeiro físico frustrado. O seu pai era PhD em física quântica, foi para Europa estudar e se tornou referência mundial. O irmão cursou Química, mas abandonou para cursar física. Formou-se e foi para a Austrália e nunca mais voltou.
Cercado por cientistas, Soarez também queria ser um, mas a sua habilidade mesmo era o forte poder argumentativo, um verdadeiro orador. Ele se "comparava" com Jesus.
Por isso, quando um jovem cientista surgiu com ideias de viagem no tempo, Soarez não pensou duas vezes e aceitou o projeto.
Milhares de pessoas criticavam a atitude de Soarez quanto a isso, inclusive por cientistas renomados. Quando metade da população daquele país vivia em extrema miséria, o Diretor gastava dinheiro público para uma expedição ao futuro.
Quanta bobagem! Quanto desperdício! Por que o futuro? E mesmo se fosse para o passado... Por que investir em viagem no tempo? Viajar para o passado (ou futuro) não adianta nada. O futuro é imutável, assim como o passado. Nada que pudesse ser feito iria mudar em alguma coisa.
Ridículo.
— Homens e mulheres, adultos e crianças, robôs e androides! Escutem todos! – com a sua bonita e eloquente voz, Soarez dispensava microfones ou qualquer outro aparelho amplificador de som. – Desde tempos antigos o Homem sonha em poder vislumbrar, nem que seja apenas uma única faísca do futuro! Sim! Lembrem-se das histórias dos antigos gregos! Por que os heróis iam visitar o Oráculo de Delfos? Para saber o que fazer em seguida! Mas somente isso?! Não! Para fazer o certo e fazer direito. Livres de erro!
Fez uma diminuta pausa e continuou:
— Amigos! Desta maneira saberemos como será nosso país daqui a décadas! Saberemos o que mudará nesta grande nação! Nossas atitudes hoje irão refletir no amanhã! Por isso, meus amigos, a viagem para o futuro é necessária!
O pequeno discurso terminou com uma salva de palmas.
Os guarda-costas junto com o motorista seguiram o Diretor e o levaram até o seu escritório, situado a quilômetros abaixo da superfície.
Naquela mesma tarde, Soarez convocou o cientista-chefe da expedição, Mendes Batista, para uma explicação do assunto.
— A nave temporal está pronta, Senhor Diretor Soarez – a voz de Batista parecia de um militar e não de um pesquisador.
— Muito bem, meu amigo! – a voz de Soarez parecia mais forte naquele ambiente fechado. – Quanto tempo no futuro iremos avançar? 50 anos? 100 anos?
— Assim que entrarmos no buraco de minhoca, Senhor Diretor, será possível controlar o período no futuro.
— Compreendo, amigo! Sua equipe já está pronta?
— Todos prontos, Senhor Diretor! Estamos esperando o sinal para nos dirigimos ao espaço-porto.
Um guarda-costas sussurrou algo para o Diretor e ele levantou-se para apertar a mão de Mendes:
— Dentro de dois dias vocês irão partir. Tentem descansar até lá.
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A equipe era composta por quatro membros, incluindo Mendes Batista. Foram selecionados para a expedição por terem as notas mais altas em uma turma de duzentos alunos, mas principalmente por terem habilidade para trabalhar em união.
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Os Crononautas
Science FictionViagens no espaço-tempo são apenas o começo das histórias de Crononautas. Com personagens bem construídos e com muita reflexão, as ideias expostas em cada conto não têm tempo certo para serem questionadas. Vida, morte, passagem do tempo, o futuro do...