O Que os Olhos Não Podem Ver

Six

Duas semanas depois

Já haviam se passado quase quinze dias que não via mais, quer dizer, ouvido mais a voz do Vinicius.

Tive que implorar para todos a minha volta não deixar ele se aproximar de mim, ou trazerem ele para o lugar onde estou, mas tenho absoluta certeza de que todas as vezes que íamos a algum lugar ele estava lá também, ele pode não ter dito nada, mas conheço o perfume dele.

Não posso negar e dizer que não sinto falta das nossas conversas, de fato eu sinto, mas eu não posso mais permitir que meu eu seja tão transformado assim, como estava sendo quando passava um tempo com o Vinicius.

Antes desse afastamento entre nós dois, ele já havia conversado sobre eu começar a estudar arte cinematográfica, mesmo eu não tendo visão. Vinicius disse que agora os professores têm um novo método de ensino para pessoas com deficiência visual, como não posso ver a cena, eu ouço a fala do personagem e represento a minha interpretação pintando um quadro etc; e isso me animou, e então decidi começar a estudar, ontem mesmo fui fazer minha matrícula na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Como já tinha iniciado as aulas, optei por começar no meio do ano, em Julho, então minhas aulas só começarão daqui três meses.

– Amiga, você vai na conferência Freedom com a gente hoje, né?! – Juliana disse mais afirmando do que perguntando. Estávamos tomando sorvete numa sorveteria perto da casa da Fernanda, há três quadras da minha casa.

– Não sei não... – respondi desinteressada enquanto dava um colherada em meu petit gateau de chocolate com avelã.

– Vamos amiga... Além de tudo, quem vai ministrar o louvor vai ser Hillsong. – Lívia disse empolgada.

– Me garanta que o Vinicius não vai estar...

– Vem cá... Quantos anos você tem mesmo? – Juliana indagou e eu soltei um suspiro demonstrando tédio – Ah é! Dezenove anos. – ela enfatizou o "dezenove".

– Tá, vocês venceram... Eu vou!

Point of View – Vinicius

Eu estava quase enlouquecendo com o tanto de prova, trabalho que estava tendo na faculdade. Sem falar da semana de medicina que é semana que vem, e nós temos que trabalhar quase vinte e quatro horas por dia vacinando, soro, medindo temperatura, ferindo pressão... Que a misericórdia do Senhor esteja sobre mim, amém!

Mesmo com um tanto de coisa pra fazer da faculdade, eu tenho uma conferência da igreja pra ir hoje. Esse evento está sendo realizado por três igrejas juntas: Bola de Neve Church, Onda Dura, e Monte Sião/Dunamis, até porque uma igreja sozinha dificilmente conseguirá trazer Hillsong, Bethel Music e Kim Walker para um evento só.

Sempre falei que Deus não apenas quer que sonhamos os sonhos dele, mas ele também quer sonhar os mesmos sonhos que nós, porque a vontade dele é de estar perto de seus filhos, isso inclui viver os mesmo sonhos; e como prova disso, ontem recebi uma ligação do meu amado pastor Téofilo, dizendo que Jeremy Riddle, vocalista principal da Bethel Music, disse que Deus pediu à ele que chamasse um tal de Vincius Shwezier para ministrar o louvor com ele, e óbvio que eu tive uma parada cardíaca!

Estávamos ajustando os últimos detalhes da iluminação do palco no estádio do Morumbi, onde vai acontecer a conferência.

A central de energia para as luzes ficava no subterrâneo, onde os jogadores saem do vestiário para ir ao campo.

– Vinicius, o Jeremy chegou, tá te chamando para passar as músicas... – Luca disse segurando meu ombro.

– Beleza, vou buscar minha guitarra...