Four

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Uma semana depois

Point of View - Melissa

Eu não sabia explicar o que aquela pregação havia mudado em mim, mas sei que algo mudou aqui dentro.

Não sei se acredito cem por centro em Deus e todas essas coisas de céu etc, mas sei que minha visão, se é que me entendem, está mudando sobre esses assuntos.

– Mel, seu pai chegou! – minha mãe gritou da sala.

A verdade é que eu não queria descer. Sim, eu sentia saudades do meu pai, mas sempre que eu o via, era como se tivesse vendo meu irmão Lucas.

Quatro anos atrás

– Vocês dois são tão diferentes... – minha mãe disse enquanto Lucas e eu nos aprontávamos para ir ao baile de formatura da Lorena, uma amiga nossa.

– Jura? – Lucas perguntou me encarando com o cenho franzido – Acho que a Mel é tão linda quanto eu... – não pude deixar de sorrir escancaradamente ao ouvi-lo dizer isso. Lucas é mais que meu irmão mais velho, ele é definitivamente meu melhor amigo, e isso foge das regras de convivência entre irmão e irmã.

– Você é a cara do seu pai... Olhos castanhos...

– Tem razão, de fato eu sou mais bonito que a Melissa. – Lucas deu de ombros e eu soltei uma risada debochada.

– Querido, olhe para a cor dos meus olhos! – disse apontando o dedo indicador direito em direção aos meus olhos – Isso aqui já ganha de dez em cima de você.

– Querida, olhe para o meu sorriso, meus músculos, minha voz, meu cabelo, minha barba... – ele deu de ombros e eu revirei os olhos, enquanto mamãe chorava de tanto rir – Você sem esses olhos não é ninguém, beleza?

– Que cheiro de inveja temos por aqui, não é mesmo mamãe? – indaguei com a sobrancelha arqueada – Parece que alguém queria ter a mesma cor dos nossos olhos...Lucas soltou uma gargalhada que me fez gargalhar junto com ele, e então veio em minha direção e me abraçou apertado, bagunçando todo o meu cabelo. – Meu cabelo, idiota!

– Desculpa Melzinha... – sorriu sem graça – Você é linda de qualquer jeito, sabe disso, certo? Pra mim você é a garota mais linda do universo!

Atualmente

Eu sentia falta dele mais do que eu sentia falta da minha visão e das minhas pernas.

Lucas era boa parte de mim, eu precisava dele pra tudo, desde me levar a algum lugar até fazer carinho na minha cabeça pra eu dormir. Olhar para meu pai era ver Lucas, eles eram idênticos, e ao invés disso ser algo bom, era terrível.

– Oi minha filha... – a voz do meu pai ecoou pelo meu quarto me assustando.

– Oi pai... – respondi me sentando na cama. Ele deu um beijo em minha testa e um abraço rápido.

– Como você está?

– Bem, e o senhor? – perguntei sem querer saber a resposta, pois já sabia de cor. Nossas conversas eram automáticas, sempre as mesmas perguntas e respostas.

– Bem também... – ficamos em silêncio como de costume – O pai vai descer, tá bom? – concordei com a cabeça assentindo e ele beijou o topo da minha cabeça, e então ouvi o barulho da porta sendo fechada. Fechei meus olhos e então as lágrimas rolaram.

Era uma sensação tão ruim saber que a culpa de tudo isso ter acontecido era minha, o responsável por todo esse sofrimento era eu, e nada iria mudar isso.

O Que os Olhos Não Podem VerDonde viven las historias. Descúbrelo ahora