Conto 2 - Regras de um demônio

390 20 4
                                    


Eu me arrumei para aquela noite com a peculiaridade de uma felina que estava pronta para caçar. Eu sabia que sempre era uma ocasião especial, mas estava particularmente animada para aquele encontro. Ele tinha 19 anos e havia ingressado recentemente na selva mais traiçoeira da humanidade, a qual podemos chamar de faculdade de engenharia.

Coloquei meu melhor corselete preto e minhas meias arrastão. Não precisava passar batom, uma vez que minha condição já me presenteava com lábios vermelhos, mas passei apenas para garantir. Eu também possuía um odor característico e sedutor, mas usei um perfume frutado para fazer minha presença mais marcante.

Então, era só aguardar o bote...

Quando ele estava em sono profundo, aticei-me em seu sonho e trouxe todo o meu poder à tona. Revelei-me para levar o delírio que traria o início de seu último pesadelo. No entanto, ele permaneceu imóvel na cama e os olhos arregalaram-se num tamanho que eu não estava acostumada a lidar.

- O que você pretende vestida desta forma? – ele perguntou, cruzando os braços.

- Eu-eu... – estava desconcertada, não havia dúvidas.

- Você é uma súcubo, posso perceber pela sua aparência. Mas será que não está na hora de mudar esses costumes?

- O que quer dizer?

- Quero dizer que essa roupa não causa mais todo esse frisson que você está pensando, não.

- Como assim?

Ele riu. De mim. Não podia ser verdade!

- Eu sei que você é um demônio e usa da sua sensualidade para fazer suas vítimas. Mas hoje em dia, as coisas mudaram... Se você quer causar algum tipo de surpresa em suas vítimas, precisa entender essa linha tênue que existe entre ser vulgar e ser sensual. Para mim, e para quase todas as mulheres, você está sendo extremamente vulgar no ato de me conquistar. E, como uma mulher nos dias de hoje, – você ainda é uma mulher, correto? - precisa se dar ao respeito.

- Do que você está falando?

- Essa roupa toda... Essa meia arrastão que não está nem mais na moda. Os seus seios quase saltando para fora. Sabe, os padrões de beleza também estão mudando... Não precisa desse exagero todo.

Ele apontou os dedos para mim, percorrendo cada parte do meu corpo à distância. Aquilo já estava me irritando e ninguém deve fazer isso com seu predador.

- E tem mais! Esse batom vermelho... Que exagero, você está parecendo uma...

Não deixei ele terminar de falar. Eu não levo desaforo para casa! Ninguém podia me impor o que era vulgar ou sensual. Eu tinha essa escolha, para o azar dele.

Arremessei-me contra aquele desmilinguido arrogante que achava ter algum poder sobre mim... Tolinho, sequer sabia do que uma súcubo era capaz. Arranquei-lhe as roupas e tratei de sugar toda a sua energia, sem lhe deixar curtir nada do que eu podia oferecer. Quem perdia era ele... E era a sua vida.

Podia ser uma súcubo, mas eu me vestia como eu bem entendia. Meu corpo, minhas regras!

Os Mini Contos que você sempre quis lerOnde histórias criam vida. Descubra agora