Conto 10 - Limpeza Profunda

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Eu levantei a cabeça e fechei os olhos para sentir as pequenas gotas de água que cresciam de tamanho e quantidade ao cair do chuveiro e atingir minha pele. Estava realmente precisando de um banho depois de um dia daqueles...

Um banho para relaxar e renovar o meu corpo excruciado por aqueles sugadores de almas. Podia até soar ironia saindo da minha boca, mas a realidade era que eles tinham muito mais a retirar de mim do que eu deles. Eles podiam se aproveitar da minha juventude e do meu corpo que não conhecia limites. Eu era capaz de lhes proporcionar um prazer que ninguém mais podia... E era justamente disso que eles mais gostavam!

Eles faziam fila no meu horário para poder conhecer e experimentar todas as nuances e poderes que somente eu possuía naquele lugar. Embora nem todos soubessem da minha capacidade e fossem pegos de surpresa, eles apreciavam e ainda voltavam... Mas eu tinha era nojo daquelas pessoas! O problema era que precisava deles para me manter viva por todos esses anos em que não havia mais lugar no mundo em que eu podia ir.

Eu era perseguida por toda parte pelas mais diversas autoridades no assunto. Eles provavelmente nunca haviam experimentado estar com alguém como eu, por isso faziam isso... Sorte e a azar ao mesmo tempo! Para mim e para eles também.

Deitei na banheira e mergulhei na água quente por alguns instantes. Sentia sua temperatura aquecer minha pele fria. Retornei à superfície e peguei a esponja áspera que eu guardava para meu ritual diário. Esfreguei com força nos braços primeiro e depois fui percorrendo pelo resto do corpo. Cada vez mais forte e mais rápido, como se fosse possível retirar todos os ácaros, cheiros e lembranças impregnadas debaixo dos meus pelos.

Em pouco tempo, minha pele alva adquiria a vermelhidão do sangue que estava acumulado e precisava ser extraído. E então a água se coloriu com toda aquela sujeira entranhada que saía de dentro de mim e eu pude finalmente fechar os olhos novamente e deixar arder e relaxar.

Quando, enfim, me senti limpa o suficiente, saí da banheira e fui secar minha pele branca e renovada. Estava cicatrizada e pronta para o dia seguinte, quando mais daqueles humanos imundos viriam até mim para sentir o inusitado prazer de lhes morder e sugar. Mais sangue para ser acumulado dentro do meu corpo e mais sangue de gente nojenta para eu me livrar no final do dia. Era uma sina que eu nunca poderia deixar...

Maldita a hora em que eu fui uma dessas humanas tolas e permiti que um deles me transformasse! Pelo menos, eu não cometeria o mesmo erro de desgraçar a vida de um deles. Ou será que valeria a pena?

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