Alex

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 Mais um dia tumultuado termina na Delegacia de homicídios. Ser mulher e detetive, mesmo no século XXI, não é uma profissão muito fácil e ganhar o respeito de outros policiais é ainda mais difícil. Sai da delegacia e me deparei com uma chuva infernal que desabava ferozmente. Me xinguei mentalmente por esquecer o guarda-chuva e por largar o carro a dois quarteirões de distância. Desde que a delegacia começou sua reforma, o estacionamento ficou interditado e encontrar um local para estacionar, em uma das avenidas mais movimentadas da cidade, é praticamente impossível. Tenho que passar por várias poças de lama antes de conseguir chegar ao portão da delegacia e sair do edifício. Desci a rua o mais rápido que pude. A urbanização e a onda crescente de comércio nessa região, fez com que várias árvores fossem derrubadas, não deixando nenhum lugar para abrigar-se da chuva.

Cheguei no meu carro, um Meriva Joy 2009. Coloquei a mão no bolso e desliguei o alarme antes mesmo de estar perto da porta. Entrei nele e respirei fundo. Senti minha roupa encharcada molhar o banco e já pude ouvir o leve sermão que meu marido Lucas irá jogar quando ver o banco molhado. Sinto meu celular vibrando loucamente no bolso da minha calça. Pego ele e a ligação cai antes que eu consiga ver quem estava ligando. Fico preocupada quando percebo que tenho 4 chamadas perdida, mas essa preocupação logo desaparece quando o identificador mostra serem da minha irmã caçula Julia. Reviro os olhos e jogo o celular no banco do carona. Seja o que for que ela tenha aprontado dessa vez, não é da minha conta, estou cansada de ficar limpando a bagunça da minha irmã louca e alcoólatra. Meu celular volta a tocar desesperadamente, reviro os olhos enquanto coloco o telefone no ouvido.

- Alo – Digo um pouco arrogante e sem paciência.

- Alex, graças a Deus – Ela parece desesperada, sua voz está eufórica e ela deve estar chorando – Me ajuda, por favor. Tem alguém querendo me matar.

Reviro os olhos, ela deve estar tendo mais um de seus surtos. Como da última vez em que levou um "amigo" para casa e após sair do banho e encontrar o capaz em sua cama, ligou para a polícia alegando ter sido violentada. Ela tem lapsos de memória, devido ao alcoolismo e o abuso de remédios para dormir.

- Julia, deve ser algum amigo seu, como da ulti...

- Alex, ele tem uma arma e vai me matar. Me ajuda – A irmã mais velha dentro de mim estava preocupada, mas as lembranças de todas as enrascadas que Julia já se meteu, me deixam cética e não consigo acreditar em sua história – Ale, ele vai entrar...

Um som de algo se quebrando e dos gritos de Julia ecoam pelo celular antes da ligação cair.

- Julia? Julia? – Começo a gritar no celular, mas sei que não vai adiantar, a ligação caiu – Puta merda.

  Ligo para Alice, minha outra irmã mais nova e apenas 2 anos mais velha que Julia. Ela é psicóloga e sabe lidar melhor com nossa irmã maluca. Ela atende no segundo toque da chamada.

- Oi Alex.

Ela atende meio cantarolando, quase consigo ver um sorriso no seu rosto. Ela sempre fora a filha centrada e perfeita. Ao contrário de Julia e eu, nunca reprovou e se formou um ano antes que eu. Ela mora a cinco minutos de distância da Julia e chegara mais rápido que eu, na casa da maluca, por estar do outro lado da cidade.

- Oi Alice. A doida está com problemas. Você poderia ir na casa dela?

- Não tenho certeza, Arthur já está dormindo e...

- E você precisa das bolas caídas dele para acalmar sua irmã mais nova?

- Tudo bem, Ale. Estou saindo. Me encontre na casa dela.

Ela desliga e jogo o meu celular no banco de trás, não quero mais ser perturbada com esse assunto. Prefiro seguir meu caminho até a casa de Julia com o mínimo de stress possível. O transito não estava tão caótico quanto achei que estaria. Parei em uma cafeteria e comprei um daqueles cafés para viajem e segui meu caminho. Sei que a noite será longa e tentar convencer o pobre rapaz de que Julia é uma doida inocente e persuadi-lo a não abrir um boletim de ocorrência contra ela, será no mínimo cansativo.

Em cerca de 30 minutos, estou estacionado meu carro na frente da casa de Julia, deixo logo atrás do carro de Alice, um Honda Civic preto último lançamento. Não encontro carros da polícia, o que é um bom sinal. Ela mora em uma casa simples, uma daquelas com estilo americano, que não tem portão e você bate direto na porta, a grama está alta e a calçada suja. A casa está em completo silencio, somente a luz da sala está acessa e não consigo ver nenhum movimento. Ainda estou molhada e começo a ficar com frio. Aperto o copo de café na tentativa de esquentar as mãos. Me preparo para bater na porta, mas Alice abre a porta repentinamente. Quase derrubo meu café e penso em gritar algum palavrão, mas a cara assustada de minha irmã me silencia.

P.S.: Conheço seu crimeOnde histórias criam vida. Descubra agora