Alice

36 9 14
                                    

Alex indica um lugar onde podemos deixar o corpo. Largo ele cuidadosamente, diferente de Julia que o joga no chão e massageia as costas.

- Mais respeito Julia.

Fico irritada com sua atitude. Lanço um olhar de desaprovação e ela ignora.

- Ele já está morto.

- Não por escolha dele.

Ela suspira e cruza os braços.

- Fiquem quieta as duas. Julia e eu vamos cavar. Segura a lanterna – Alex joga uma pá no chão e Julia pega nada satisfeita. Elas começam a cavar em um espaço entre duas arvores. A humidade da terra deixa ela mais molhada, dificultando o trabalho das duas.

Não sei quanto tempo exatamente se passaram, mas suponho que devem ter se passado horas, pois Alex só decidiu que era hora de parar de cavar, quando o buraco estava na altura de sua cintura.

- Vamos jogar ele aqui.

As duas estavam com lama até nos cabelos. Jogamos seu corpo dentro da vala e as duas voltam a jogar terra no buraco. Olhando o estado deplorável de suas roupas, agradeço a Alex mentalmente, por me livrar dessa tarefa.

- Vocês vão jurar nunca contar isso para ninguém. Papai, Arthur, Lucas até mesmo Guilherme.

Alex diz jogando o último monte de terra. Abro a boca para dizer que com certeza nunca direi nada, mas o barulho de folha sendo remexida e um pedaço de galho quebrando me silencia. Nós três trocamos olhares e Alex coloca a mão em sua arma.

- Peguem tudo. Rápido.

Alex ordena, enquanto pega a pá que estava no chão e corre em direção ao carro. Julia e eu fazemos o mesmo. Ela pega sua pá e corre, vou logo atrás segurando a lanterna. Corremos o mais rápido que conseguimos. Quando estamos a uns provável 5 metros do carro, uma chuva forte começa a cair. Ficamos completamente encharcadas e ao entrar no carro, percebo que deixamos a arma do morto no painel.

- O que vamos fazer com isso?

Aponto para a arma e Julia bufa.

- Vamos jogar no rio a caminho de casa – Alex liga o carro enquanto fala. Faz o balão e o caminho inverso ao que fizemos para chegar nesse lugar – A chuva vai apagar qualquer prova.

- Espero que sim.

- Vou ter que comprar outro tapete – Viro para o banco dos fundos e Julia está limpando as unhas tranquilamente. Olho para Alex que apenas encolhe os ombros,

- Estamos ajudando uma psicopata – Sussurro e Alex aparenta não escutar.

O percurso é feito em silencio. Paramos o carro em uma ponte, onde jogamos a arma e as pás no rio. Julia dorme nos bancos do fundo e começo a pensar se realmente fizemos a coisa certa. Tenho certeza que tomamos a pior decisão possível e que haveria de ter outras alternativas, mas escolhemos ajudar nossa irmãzinha caçula. Olho para ela que dorme pacificamente e tento ignorar meu lado psicóloga criminalista que está dizendo para ter cuidado, que Julia não é somente uma alcoólatra com perda de memórias. Ela pode também ser perigosa.

- No que está pensando?

Alex pergunta e só então percebo que estou a muito tempo encarando a garota.

- Que talvez tenhamos feito a coisa errada. Nós não ajudamos ninguém Alex, só jogamos a merda para o alto e estamos esperando ela cair em nossa cabeça.

- Eu sei Ali, mas não podíamos deixar a louquinha ser presa. Ela não poderia machucar ninguém. Ela só queria defender-se.

- Será que ela realmente não seria capaz?

Alex não me olha e nem responde. Sinto umcalafrio na espinha ao perceber que ela pensa o mesmo que eu. Tomamos umaatitude errada e sofreremos as consequências.

P.S.: Conheço seu crimeOnde histórias criam vida. Descubra agora