Era uma vez, em um reino muito, muito distante, chamado Conrad, das colinas do sul, uma rainha. Cordelia. A mais bela e mais perversa mulher que já governara aquele lugar.
Cordelia era uma simples serva da nobreza, porém se diferenciava de todos os outros, por sua peculiar beleza. Jamais, ninguém presenciou mulher mais bela. Os olhos que ousavam a fitar, jamais se esqueciam de tal imagem. E foi assim com o rei. Stefan, ao vê-la, lhe quis de imediato. Ordenou para que fosse viver no castelo como sua criada e, mulher nas horas que lhe convia. Cordelia, agora estava dentro do castelo, e ali, naquele momento, ela dava início ao seu plano.
Os dias foram se passando, e o rei ficando mais, e mais distante de sua rainha, Caterine - amada pelo povo por sua bondade e empatia. Já de Cordelia, o rei se via cada vez mais envolvido. Quanto mais ele a tinha, mais ele a queria. Ela o seduzia com seus gestos meigos, sua fala doce, e seus olhos e olhares que incitavam. Seu poder de envolver e manipular era de extrema competência.
Enfeitiçado, matara a rainha Caterine, e fizera de Cordelia, sua mulher e nova rainha de Conrad. Seu plano havia enfim, se consumado. Em pouco tempo, outro assassinato acontecera. Cordelia matara o rei envenenado e, usurpara seu trono. Agora, nada lhe impedia de reinar de maneira soberana.
Anos se passaram e, o reino que antes era governado de forma sensata pelo rei Stefan e pela rainha Caterine, hoje sentia as adagas de uma governante tirana, lhes cravar o peito diariamente. Sem comida, água e moradia decentes, o povo padecia sob o olhar atento de sua rainha.
Por diversas vezes, as poucas pessoas que ainda tinham forças para lutar, tentavam - sem êxito - invadir o castelo para por fim em Cordelia e, em seu reinado cruel e opressor. Mas isso não lhe oferecia nenhuma ameaça. Nenhum deles conseguia passar pelos portões. Antes mesmo de cruzá-los, eram abatidos pelo forte e bem treinado exército de sua rainha. Quando capturados, eram queimados ainda vivos em praça pública - depois claro, de longas torturas. Os gritos dos pobres eram ouvidos por todo o reino. Na medida em que seus gritos iam se cessando, indo embora com a vivência de seus corpos, também partia a pouca coragem do povo, de ir contra o poder de Cordelia.
Ela não temia ninguém. Sabia que nenhuma pessoa era páreo para ela. Porém, há algum tempo, algo vem tirando seu sono. Cordelia, já não é mais tão jovem. No auge de seus trinta e sete anos, ela sente sua beleza lhe deixando. Com os olhos atentos no grande espelho de seu aposento, ela vê suas primeiras rugas. Dona de uma exagerada vaidade, enlouquece ao ver os primeiros sinais de velhice.
Em meio ao caos de seus receios, ela se lembra de rumores que ouvira quando ainda menina: uma rainha, Elizabeth de Carmesim, ingeria sangue humano de mulheres belas e jovens, pois acreditava que assim, seu envelhecimento era retardado.
Um esperançoso sorriso estampou-se em seus pálidos e belos lábios. Aquela lembrança soara na mente de Cordelia, como uma bela sinfonia.
- Joseph... JOSEPH! - Grita ela ao criado, ainda vidrada em seu espelho.
- Sim, majestade! - Diz ele entrando às pressas no quarto e fazendo a reverência.
- Quero mulheres.
- Como disse majestade? - Pergunta ele, confuso.
-EU QUERO MULHERES - Grita ela novamente virando-se para o homem, dessa vez mais possessa com a ignorância do mesmo - Quero que me traga as mais belas mulheres deste reino. E jovens. Belas e jovens.
- Claro, majestade!
Sem fazer perguntas, porém indagado, Joseph convoca alguns soldados e parte para atender as ordens de sua rainha.
Invadindo as miseráveis casas do reino, eles procuravam minuciosamente, belas jovens para satisfazer as - até então desconhecidas - ordens de sua rainha. Em desespero, as famílias das moças que eram escolhidas, tentavam impedir de levá-las, porém, nada impedia os soldados de arrancá-las de suas casas para levar até a rainha.
No castelo, inquieta, andando de um lado para outro, Cordelia aguarda impaciente a chegada de Joseph. Ao escutar os portões se abrirem, sua impaciência se ameniza.
- Majestade?! - Diz o criado entrando em seus aposentos.
- E então, cumpriu minhas ordens?
- Sim, senhora! Trouxe as mais belas jovens do reino.
- Ótimo - Diz ela com o olhar aceso e ansioso - Banhe-as e lhes dê vestimentas limpas. E alimente-as também. Quero todas saudáveis!
- Perdão, majestade, mas para que a senhora quer essas moças? - Pergunta o criado meio receoso.
- Faça o que lhe mando. Sem perguntas - Diz ela em tom hostil.
- Claro, majestade.
Passado algum tempo, Joseph volta para notificar sua rainha, que as jovens já estão devidamente banhadas, vestidas e alimentadas.
Chegando lá, Cordelia se depara com todas as moças enfileiradas e desesperadas, perguntando o por que de estarem ali.
- CAAAALEM-SE! - Grita a rainha com expressão visivelmente irritada.
Com o semblante mais amigável, ela se aproxima das moças e caminha examinando superficialmente cada uma delas. Ela pára na frente de uma delas - a mais bela, segundo ela.
Encantada com tal face, ela passa levemente os dedos longos e magros de uma das mãos no rosto da jovem para sentir a textura de sua pele. Com um gesto dócil, ela levanta a cabeça da moça, e desce os dedos até seu pescoço. Pode sentir facilmente sua veia pulsar uniformemente por debaixo de sua carne.
- És tão linda. Jovem. E viva! - Exclama Cordelia encantada, dando pequenas pausas a cada palavra.
Ela se vira para um de seus soldados, e pede seu punhal. Prontamente, o soldado retira o objeto e dá à rainha.
- Segurem-na de forma que ela não consiga se mover - ordena ela calmamente.
Em desespero, a pobre moça reluta e pergunta o que há de acontecer com ela.
Já imobilizada pelos fortes soldados, a rainha se aproxima novamente e, sedenta, faz um pequeno corte no pescoço da jovem. Ela observa aquele líquido fortemente rubro, escorrendo por aquela carne branca e fascina-se com tal visão. Em seguida crava sua boca na pequena incisão e, suga em deleite todo o sangue que jorra da miserável moça. Ao perceber que bebera praticamente todo seu sangue, a rainha levanta-se vitoriosa, com o líquido escorrendo sua face e pingando no claro chão de mármore do grande salão central.
Todos, absolutamente todos, chocaram-se ao presenciar tal cena. Aquilo era desumano, até mesmo para seus cruéis servos, incluindo Joseph - quem a apoiava e atendia as mais monstruosas ordens que a mesma lhe dava.
- Joseph? - Diz ela limpando o sangue que ainda havia em seu rosto com os dedos e, os lambendo.
- Sim, majestade?! - Pergunta o criado com a voz um pouco trêmula e perplexa.
- Prepare-me um banho. Preciso de um banho. E livre-se dela. Ela não me serve mais.
- Claro, majestade. E as outras? Devo deixá-las ir?
- Claro que não - Fala ela irritada - Acomode-as. Logo mais irei usá-las! - Exclama olhando para as jovens com um sorriso excitante nos lábios.
Novamente em seus aposentos, dentro de sua avantajada banheira, ela sente um alívio relaxar seu corpo. Em frenesi, ela contempla suas mãos fazendo movimentos lentos e leves. As passa no rosto, e fecha seus olhos para melhor sentir sua pele - segundo ela - novamente jovial. O medo da velhice, por hora lhe deixa, e aliviada ela sorri exibindo seus dentes de esmalte.
O humor de Cordelia mudara por completo. Como mágica, a rainha má, temida por todos, parecia ter partido e dado lugar a uma mulher totalmente diferente. Porém, o ar cínico e indiferente que lhe habitava, continuava nítido.
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AMADORAS
NouvellesEis que lhes apresento, um conto de fadas. Não o idealizado, ao qual estamos acostumados, mas um conto hostil. Violento. Porém, com amor. Amor vindo de duas pessoas completamente amadoras na arte de amar.