Entre Mundos

Capítulo 3

      Respirei fundo sorrindo, senti cheiro de capim e senti alguns fazendo cosquinhas no meu rosto, abri os olhos. Estavam leves como se eu tivesse dormido por três dias seguidos e despertasse sem cansaço algum.

      Olhei em direção ao céu, que estava um azul limpo sem nuvem alguma. Logo acima da minha cabeça havia um pássaro enorme e preto voando em círculos e grasnando, parecia atento a alguma coisa. Ignorei o fato de que podia ser eu, sentei-me ficando um pouco mais ereta pois o mato ficava na altura do meu rosto e olhei em volta.

      Era uma campina com o capim (e flores) alto cercada por árvores. Sem muita demora comecei a andar pelo lugar, mexendo em cada flor e em cada folha, e sempre que olhava para cima o pássaro continuava em círculos e sempre acima da minha cabeça. Estava tentando ignorar mas em uma situação dessas era difícil.

      Estava observando uma das flores que tinha um aspecto bem diferente, parecia um copo com as beiradas cheias de pétalas como uma rosa, tinha a cor azul e duas coisinhas que pareciam antenas saindo do fundo que tinham polén nas pontas, quando percebi um feixe de matos se mexendo.

      Fui até lá, estiquei a mão para tocá-los e tentar abrir para ver se tinha alguma coisa ali no meio, quando ouvi um ronronado conhecido, afastei as mãos e sorri e foi assim que um pequeno vulto preto deu um pulo e pairou no ar batendo as asinhas e latindo, balançando graciosamento o rabo de leão.

- Oi Dragon! - Falei entusiasmada, não sabia como aquele bichinho havia me seguido até aqui mas estava feliz. Tinha companhia.

      Ele latiu e veio na direção do meu rosto, pousou no meu ombro e esfregou o focinho na minha bochecha, ficou em uma posição extremamente nobre, sentado com um típico leão rei da selva (leocães são bichinhos ótimos), entendi isso como um continue explorando então só continuei.

      Quando achei que já tinha mexido em tudo, peguei um daqueles capins com uma espécie de pelinhos na ponta, levei na direção de Dragon e esfreguei em seu nariz, o que o fez espirrar, ele entendendo a brincadeira, rosnou e mordeu minha orelha saíndo de sua posição de rei, dei um empurrão nele que caiu do meu ombro e teve que bater suas asinhas para me alcançar novamente que já estava correndo. Ouvi o pássaro grasnar, havia me esquecido completamente dele, parei imediatamente, o que Dragon não percebeu, veio voando e eu o "capturei" envolvendo-o com as mãos, ele que não entendia o motivo da minha parada só rosnava baixinho e mordia meus dedos como um filhote e o rabo balançando demonstrando um tipo de vitória, comecei a rir mas ainda estava preocupada.

- Ei, seu bobão. - Ele girou a cabeça em minha direção - Tem um super passáro grandão lá em cima, se você ficar muito longe de mim ele vai acabar achando que vossa majestade é o almoço, então é melhor ficar por perto, bem perto.

      Ele por sua vez ganiu e afundou sua cabeça em minhas mãos, sorri, logo ele voltou com a cabeça para fora olhando pra mim com a língua para fora da boca, parecia com sede. Percebi que eu também estava, além de cansada e suada, o sol estava à pino no céu. Então olhei em volta procurando uma sombra confortável para descansar, para depois ir procurar água.

      Do outro lado da campina havia uma grande pedra debaixo das árvores, estava considerando ir para lá quando vi algo se mover em cima da pedra. Apertei os olhos, parecia uma figura humana sentada com os braços sobre as pernas me observando, estava longe para eu ter certeza e considerando meus sonhos, podia muito bem não ser um humano. Continuei olhando, o ser percebeu que eu olhava e levantou os braços me chamando, eu não tinha nada a perder mesmo, então fui. O passáro grasnou de novo, ignorei e continuei andando, ele não parecia querer descer.

      A medida que eu me aproximava tinha mais certeza de que era um humano, um menino. Quando eu já estava praticamente colocando os pés na sombra das árvores ele se levantou, sorriu e veio em minha direção. Quer dizer, não sei se sorriu mesmo, mas parecia, minha visão ainda estava escura por causa da mudança repentina de luz: refletindo na vegetação para sombra. Ele parou na minha frente enquanto eu piscava os olhos tentando enxergar, olhei pro chão até que voltasse e levantei a mão em um sinal de "espere".