Capítulo II

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26 de Agosto de 2017

Eu não sei em que momento da minha vida eu me perdi.
Não me lembro quando larguei a biologia para me interesse em construir coisas.
Mas me lembro que foi a muito tempo.

A casa do senhor Montinês ficava no final da rua, era a mais afastada e por coincidência a menos visitada.

Até porque não havia quem a visitar.

-Senhor, está na hora do seu remédio.

Uma enfermeira disse entrando no quarto.

Ela usava um avental e era recém formada, mas já haviam alguns anos que ela trabalhava para aquele senhor.

-Joana que dia é hoje? - O senhor a perguntou.

Ele estava sentado na cama olhando a parede branca do quarto.
Desde quando este quarto ficou tão vazio e sem cor?
Desde quando a casa ficou tão sem graça?

-Quinta feira, dia 26 de Agosto. - Ela disse lhe entregando o comprimido.

Ainda tenho tempo.

-Obrigado - Ele disse enquanto ela se afastava.

Eu ainda tenho 148 dias para terminar.

O sol havia surgido a algumas horas, mas ainda era cedo.
Pela janela do quarto o sol invadia o ambiente.
Dando aquelas paredes tão sem vida um pouco de alegria e graça.

Na cómoda ao lado da cama o óculos dele repousava.

Ele o pegou passando as mãos velhas e enrugadas em todo óculos.

Um modelo antigo de lentes redondas.

Eu nunca o precisei.

O senhor Montinês nunca teve problemas de visão, na verdade na época em que o comprou ele era moda entre os cientistas. E apenas por isso ele o comprou.

Ele o colocou no rosto se deliciando com as lembranças de seu dolorido passado.

Com os olhos fechados ele parecia voltar no tempo.
Na época em que as paredes não eram brancas, e que ele não tinha dificuldades em andar.

Após algumas horas a enfermeira voltou, ela o ajudou a levantar e colocar as pantufas, depois caminharam juntos até o sótão.
Onde ele passava maior parte do dia.
Quando não estava dormindo ou se medicando ele estava no ex-laboratório, no andar de baixo da casa.

Ao chegar ele entrou e ela se retirou.
Este era um momento dele e ela sabia disto.
Ele se sentou na mesa e começou a escrever em algumas folhas.

Ela adorava me ver escrever, dizia que o modo como eu pegava na caneta era engraçado.

Ele tocou na caneta de forma pensativa
Logo estava entregue novamente a seus devaneios.

Ele se levantou e foi até o armário,tirando de lá uma caixinha preta de veludo
Uma caixinha comprida, dentro dela ele encontrou seu presente de casamento.
Dado pela esposa.
Uma caneta, caríssima, importada e revestida de ouro branco.
Ele a tirou da caixa e ela fria ao toque.

-Senhor Montinês, seu remédio-a enfermeira disse entrando.

-Joana, bata na porta antes de entrar. - Ele disse virados se para olhá-la.

-Que caneta linda-ela excalmou-Deve ser caríssima.

-E, e uma bela caneta, mas o valor dela para mim esta bem mais ligado ao lado emocional.

Ele disse à guardando de volta e pegando seu remédio.

Desde quando tenho que tomar tantos remédios para me manter em pé?

Então ele se sentou em uma escrivaninha e fez o que já era de costume.

Ele começou a escrever e desenhar nas folhas.

Joana saiu o deixamos sozinho, ela está indo começar o preparo do almoço.

Após algumas horas ela voltou para chamá-lo.

-Senhor Montinês ?

Ele já não estava na escrivaninha onde ela o escreva encontrar

Na verdade não estava em lugar algum naquele laboratório

Ela o procurou por toda casa mas não o encontrava.
Ela voltou ao laboratório na esperança dele ter voltado, de qualquer lugar que tenha ido.
Mas então ela notou uma portinha nos fundos, uma que ela nunca havia visto. Ela estava entreaberta e ela soube que era ali que ele estava.

-Montinês? - Ela disse a abrindo, assim que seus olhos conseguiram enxergar o que estava lá dentro ela se assustou.

-Joana o que faz aqui? - Ele perguntou se levantando de onde estava

-O que é isto? - Ela apontou para a grande máquina.-O que ela faz?

Sutilmente ele se sentou em uma cadeira baixa e falou com os olhos fixos em algo que Joana não conseguia identificar.

Ele estava preso em si próprio

-No momento nada, mas quando estiver pronta, realizará sonhos.

-Isso significa que ela pode realizar meus sonhos?-Joana o perguntou.

-Não seja boba, isso seria impossível, eu nunca conseguiria criar isto.-O senhor Montinês disse observando a máquina.

-Você a criou? - Ela perguntou observando a máquina.

Ela parecia uma grande porta de ferro.
Mas os lados estavam cheios de fios e outras coisas que ela não entendia.

-Sim.
Ele disse mas ele não estava olhando para ela, não olhava para ninguém.
Estava perdido em seus próprios pensamentos

-E com que finalidade?

Joana parecia uma criança que acabaram de conhecer um parque de diversões.

-Viajar no tempo - Ele murmurou.

-E isto seria possível? - Ela perguntou animada.

-Tenho fé que sim, mas já fazem mais de trinta anos que eu tento a fazer funcionar.

Joana estava animada, ela nunca pensou que sua monótona vida de enfermeira de idosos pudesse ser tão agitada.

-Posso te ajudar? - Ele perguntou

Ele sabia que ela seria de muita utilidade e por isso aceitou.

E então dia a pós dias os dois estavam ali, tentando fazer com que a máquina funcionasse.

Pardon AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora