As rosas mais belas

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  Eram rosas como as rosas mais belas de meu jardim. Eram as rosas de minha vida, florescida e florescente no calvário dos amores. Rosas destacadas entre muros e paredes das esquinas frias da cidade muda. A cidade vazia de paredes impecáveis, obcecada pela ordem rigorosa das normas vigentes. Os cidadãos anônimos e numerados, corretamente classificados. Uma classificação segura e clara, nítida como as águas límpidas dos rios de centro de cidade. Preto no branco, sem preto com branco. Nada novo no front, o horizonte quebradiço que amordaça a diferença. Todos iguais, certamente. Perante as leis de todos e para todos, muito corretamente. Ninguém é diferente, e se ninguém é diferente, a igualdade absoluta prevalece. Custe o que custar, o sangue que jorrar, no templo em que orar pela igualdade dos desiguais. E eram rosas os meus amores mais puros. Eram rosas os amores que davam sentido à existência. Não eram, porém, tão rosas os detratores desses amores tão acolhedores. As pedras eram cinzas. O horror e o nojo, em diversos tons escuros. Tons do ódio, da dor e da tristeza. Defender-se com rosas contra os aguilhões do preconceito cego é como se defender de espadas brandidas por inimigos hábeis com um balão de aniversário. O torpor do ódio que encurrala nos muros frios, inescaláveis, inescrutáveis, de volta à invisibilidade, o rosa tingido do vermelho escuro, misturando-se e formando imagens aleatórias de tom rubro-rosado pelas calçadas irregulares de um beco qualquer. Eram rosas como as rosas mais belas de meu jardim, agora mortas, arrancadas da terra pelas normas e ideais de uma maioria descolorida e desprovida de amores puros.


Este conto foi escrito para uma atividade cujo tema era a questão LGBT. O horror da vida real é incomparavelmente superior a qualquer ficção.

Binho Horror Story - Contos de Fabiano JucáOnde histórias criam vida. Descubra agora