Faziam mais de vinte minutos desde que Alyce chegou na Turbulence, a boate mais conhecida de Seul. Tinha prometido a si mesma que iria se divertir, que não iria pensar tanto nas responsabilidades de amanhã, mas em apenas vinte minutos, seu corpo já se sentia inteiramente pronto para ir embora e descansar.
A garota não estava acostumada com tanta animação assim e quando morou em Detroit, antes de se mudar novamente, sair a noite não era lá um horário muito seguro para uma mulher solitária como ela. E mesmo visitando algumas baladas escondidas em sua curta época festeira quando viveu lá, nenhuma delas comparavam-se com as da Coréia.
Alyce olhou ao redor atentamente, tentando se acostumar com o movimento. O som alto e contagiante, pessoas dançando umas com as outras e bebendo animadas, vivendo aquele momento como se fosse o último de suas vidas, como ela também deveria estar fazendo.
Sentiu o celular vibrar e tirou-o de sua bolsa, a qual havia deixado apenas o dinheiro, alguns cartões e seu habitual batom vermelho sangue, caso precisasse retocar depois.
— Uma mensagem — murmurou, caminhando até o bar.
Poderia ter sentado em umas das cadeiras disponíveis no balcão, mas ao invés disso, se manteve em pé, parando no canto da parede, ansiosa para saber quem havia falado com ela.
O coração acelerado, batendo mais rápido que o tic tac de um relógio e se fosse realmente quem ela estava pensando que era no momento... se ele estivesse acabado de chegar ali...
Alyce faria daquela noite a melhor da sua vida.
Ao menos, era o que ela pensava, pois toda aquela aflição repleta de expectativas escondidas crescendo fervorosamente em seu corpo desapareceu quando ela leu a seguinte frase:
Jaebum: Sinto muito, Aly. Não vou poder te encontrar hoje. Podemos marcar outro dia? Houve um imprevisto. Se cuida, pequenininha!
Eu: Tudo bem, podemos sim :)
Jaebum: Você tem certeza? Não está puta de raiva?
Eu: Não estou. Nos falamos depois, Jae.
Jaebum: Como assim nos falamos depois?
Eu: Já estou na Turbulence. Eu vou aproveitar sem você.
Jaebum: Você é malvada.
Eu: E você um furão. Tchau.
Desde que chegou ao país, Im Jaebum se tornou seu primeiro colega mais próximo. Eles se encontraram por acaso em uma loja de conveniência num dia bastante chuvoso e o garoto lhe emprestou seu guarda chuva. Semanas depois, então, se esbarram na Universidade, e Alyce viu aquilo como um sinal dos céus.
— Você não vê os noticiários? Hoje vai chover o dia todo — ele informou, encarando-a de forma acusatória.
— Não com frequência — a garota deu de ombros, tranquilamente, analisando a chuva, do lado de dentro da loja.
— Pode usar o meu, se quiser — o mais velho sorriu, estendendo sua mão, oferecendo-lhe o guarda-chuva azul escuro que segurava. — Mas precisa prometer que vai usá-lo bem.
Ela franziu a sobrancelha, desconfiada.
— Você não precisa dele?
— Claro que sim.
— Então o use. Por que está me oferecendo?
— Não sei. Só achei devesse — respondeu descontraído, como um idiota.
Alyce negou, mas Jaebum insistiu. No final, acabaram por dividir o guarda-chuva. A jovem um pouco tímida e desconfiada, como sempre foi, enquanto ele sorria, feliz por estar ajudando-a.
Alyce tinha ficado tão feliz com aquilo. Aquela atenção tão inocente sendo depositada para ela e então o convívio inesperado dias depois...
Quando finalmente percebeu, a garota tinha formado um sentimento especial por ele. Pelo seu melhor amigo. Mas ela não deveria, porque sabia que ele gostava de uma outra pessoa, na qual estava a um paço de oficializar seu namoro e, se parasse para pensar, nesse exato momento, era possível que ele estivesse a encontrando, ao invés da sua amiga solitária.
Quando voltou para o bar, depositou o copo de caipirinha vazio no balcão e pediu outra dose. O garçom atendeu, surpreendendo-se quando ela bebeu tudo de uma vez, como se fosse água. Habilidades das noites de caloura, Alyce bebia muito bem.
Mantendo os olhos no celular por mais alguns segundos, pensou em acabar com tudo de uma vez, sendo direta com o rapaz, dizendo tudo o que sentia, mas seu coração apertou e ela apenas guardou o objeto na bolsa outra vez, permitindo-se manter o restante de sua dignidade.
Ele não iria acreditar nela. E se esse fosse o caso, negaria seus sentimentos.
Alyce tinha muitos problemas para lidar e, certamente, não queria incluir mais um em sua vida decadente. Mesmo assim, ela também sabia que outras oportunidades como essa não chegariam, e se chegasse, quem admitiria que não o garoto não esperasse um novo compromisso?
— Que se foda, nada é perfeito, afinal de contas — murmurou, frustrada.
Os olhos sem direção, pensativos, até que focaram em alguém. Um cara bonito e muito bem vestido que a encarava. E, não só isso, também caminhava em sua direção.
Ele era alto, seu cabelo marrom escuro e os olhos... as órbitas negras em sua direção pareciam queimar, e ela parecia ser a única sentindo aquela sensação esquisita.
Pensou em desviar o olhar, mas não o fez. Curiosidade crescendo, à medida que ele se aproximava com um sorrisinho sacana nos lábios. Aquilo era para ela? Ou a garota tinha bebido tanto que estava ficando louca?