Prólogo

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Minha avó sempre dizia que sonhar com algo por diversas noites seguidas tende a ser um aviso de mal presságio. Eu não sou do tipo de pessoa que acredita nestas coisas, portanto não dei muita importância ao acordar pela quinta noite seguida do mesmo sonho recorrente, ou o melhor seria dizer, após reviver a mesma lembrança pela quinta noite seguida.

Era sempre a mesma lembrança, de muitos anos atrás, mas precisamente quando eu tinha apenas sete anos: "Estava com meus pais em um parque de diversões, já havíamos ido em quase todos brinquedos, o dia estava chegando ao fim, com um lindo o pôr-do-sol no horizonte e o céu em sua tonalidade mais vivida de azul, laranja, roxo e rosa, quando ao longe avistei um homem bem mais velho, lembro que o observei bastante pois ele se parecia com alguém conhecido, ele segurava um urso gigante de pelúcia, e me peguei pensando em que barraca ele teria conseguido aquele prêmio, pois nenhuma das que fui tinham algo tão grande e bonito como aquele urso. Quando me viu olhando atentamente, o senhor me chamou com as mãos, vi ali a oportunidade perfeita de lhe perguntar onde obter um prêmio igual, aproveitei um momento de distração dos meus pais e sai correndo de encontro a ele.

- Uau, ele é muito lindo! - Falei assim que parei a sua frente.

- Ele é mesmo, assim como você pequenina... Porque não diz seu nome para o titio? As vezes eu resolvo te recompensar com um presente.

- Meu nome é Amanda, você esta pensando em me dar este urso?

- Este não, pois peguei ele pensando em dá-lo a minha neta, porém, hoje tive muita sorte no jogo e tenho um outro tão bonito e grande quanto este no carro e sinceramente, acho que ele combina bem mais com você

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- Este não, pois peguei ele pensando em dá-lo a minha neta, porém, hoje tive muita sorte no jogo e tenho um outro tão bonito e grande quanto este no carro e sinceramente, acho que ele combina bem mais com você. O que acha disso, você me acompanha até o carro, eu guardo este e lhe dou o outro, afinal, dois ursos deste tamanho não irão caber no espaço que tenho, vamos?

Olhei ao redor para ver se avistava meus pais, porém quando não os vi em nenhum lugar, resolvi dar as mãos ao senhor simpático e ir com ele, eu não poderia perder aquela oportunidade por nada. Andamos por alguns minutos e seguimos pela saída do parque para o estacionamento, paramos ao lado de uma caminhonete velha e amarela, que aparentemente não parecia obter nenhum urso em seu interior, virei para perguntar ao homem onde ele estaria, quando escutei minha mãe gritando meu nome. Lembro que tudo após aquele momento surgiu feito um borrão, o homem largou o urso no meio do estacionamento e me pegou em seu colo, abrindo a porta da caminhonete e me colocando lá dentro de qualquer jeito, meu pai surgiu do nada ao lado do homem e lhe prensou contra o veículo, enquanto minha mãe vinha até mim e me tirava ali de dentro, apertando-me em seus braços numa mistura de alivio e desespero. Ela gritava comigo, algo sobre nunca sair de perto deles ou ir com estranhos, ao mesmo tempo em que acariciava meu rosto e parecia procurar por algum ferimento, querendo ter certeza de que eu estava bem.

E bem ali naquele diálogo eu acordava, sempre no mesmo momento, com uma única frase de minha mãe pairando no ar: "- Você nunca deve ir com estranhos, entendeu Amanda?". Como se fosse realmente um mal presságio."

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