Acordo sentindo minha cabeça latejando e meu corpo dolorido, após o pesadelo demorei muito a dormir, mas percebi que minha mãe não saiu um só momento do quarto, olho ao redor e percebo ela deitada na poltrona, estará toda dolorida quando acordar.
- Mamãe? - A chamo, para que ela saiba que já pode sair dali e ir descansar de verdade. - Pode acordar...
Ela abre aqueles olhos lindos e me olha com amor e preocupação, vejo que tem muito a me perguntar, porém não o faz.
- Você está melhor?
- Sim - Resolvo mentir, para que ela não fique preocupada, acho que nunca ficarei bem novamente - Vá deitar um pouco na sua cama, tomar um banho, não devia ter ficado aí a noite inteira.
Ela olha as horas e franze a testa.
- Está na hora de levar Josh a nova escola, sei que chegamos ontem, mas ele não pode perder aula e depois nós iremos até a fundação, visitar sua amiga e conversar com a nova psicóloga e eu não aceito desculpas, se levanta e vai se arrumar mocinha. - Ela sorri para mim, mas sei que fala sério.
Assim que ela sai, me levanto e vou tomar banho tentando tirar de mim todo o peso e sujeira adquirido na ultima noite, assim que minha pele já está vermelha de tanto esfregar, desligo o chuveiro e saiu, limpando o vapor do espelho para que pudesse olhar meu reflexo, algo que a muito não faço questão de fazer detalhadamente. Lembro-me de antes, uma menina mais nova, com cara de bebe, sem maquiagem, uma pele linda, cabelos sedosos batendo acima do quadril, loiro escuro, tão vivos que davam inveja, então me lembro da garota em cativeiro, cabelos loiros platinados, muita maquiagem, aparentando mais idade do que tinha, um olhar vago e morto, roupas que marcavam cada parte do seu corpo e por fim fixo o olhar na mulher a frente do espelho, a cor escura de meu cabelo, adquirida naquele bordel estava desbotada, meus olhos tinham olheiras profundas, minha pele estava abatida pela falta de sol e vitaminas, meu corpo tinha marcas que jamais apagariam meu passado, eu era apenas uma carcaça do que já fora antes, de princesa elegante da sociedade, a prostituta drogada, eu não queria ser vista assim, não queria sair pela cidade de nova york assim!
Saiu do banheiro enrolada em uma toalha e me sento na cama, não iria me arrumar, pois não sairia desta casa, estava decidido! Duas batidas na porta e minha mãe já entra vestida.
- Você ainda não está pronta Amanda? Nós estamos atrasadas para levarmos seu irmão!
- Eu não vou...
- Como? E por que não, eu posso saber?
- Não quero sair assim... Não quero encontrar as pessoas com essa aparência de dar pena e ser apontada por onde eu passe, ou correr o risco de encontrar alguém conhecido, nós conhecemos muitas pessoas aqui... Vim para nova york foi um erro, deveríamos ter ido para outra cidade, sou tão burra e tão mesquinha, eu aqui me importando com a imagem, quando muitas meninas estão sozinhas ou mortas, eu sou horrível, estou horrível, eu deveria ter morrido também mãe!
- EI!! Não fala uma besteira dessa nunca mais, está me ouvindo.
Minha mãe fala, segurando meu rosto e me olhando fundo nos olhos, percebo então que estava divagando descontroladamente, talvez um início de ataque de pânico se formando. Deixo as lágrimas caírem por meu rosto e abraço a minha mãe.
- Eles me destruíram naquele lugar mãe... Eu não sou mais a filhinha de vocês, eu só sei trazer preocupação e tristeza para vocês agora e vocês três deviam estar tão felizes antes... Me desculpa por estragar tudo.
- Não fala essas besteiras filha, eu nunca seria feliz sem saber o que houve com a minha filhinha e nunca seria feliz se descobrisse que você estava morta e você sempre será minha menininha linda, que eu amo e não vivo sem e não precisa se desculpar nunca mais, nós vamos ficar bem meu amor, vamos superar isso juntos...
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Liberdade
Mistério / Suspense" Dizem que uma das dádivas da vida é a liberdade, o poder de ir e vir quando e onde quisermos... Uma pena que eu só tenha me dado conta disto tarde demais. Eu tinha a família perfeita, os amigos perfeitos, a vida perfeita, mas nunca dei valor a na...