Quinto

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Taehyung estava ali, outro dia tinha se passado. Batia seus dedos na mesa, inquieto, impaciente. Seu olhar rondava pela sala, mordendo o lábio ansioso.

Precisava falar com Park Jimin de outro modo. Precisava ver seu real lado, precisava ver seu verdade

Ele não sabia o que fazer, sabia que tinha sido um ato incauto ter ido na sala do paciente. Sabia que se descobrissem, seria demitido por sua nova obsessão, Park Jimin.

Mas de alguma forma, conseguiu entender a mente do criminoso, conseguiu compreender, mesmo que bem pouco.

Em um canto da sala, no chão gélido, encolhido e encostado nas paredes, estava ali, o Chapeleiro. Que foi deixado por sua Alice, pelo medo. Uma de suas alucinações tinha estragado tudo, todo seu momento com sua bela Alice, que parecia, pelo menos, acreditar no Chapeleiro.

Estava ali, com a testa encostada nos joelhos, se balançando, em um canto da sala. Acreditava que sua Alice fosse desistir de seu caso, a única que quis, a unica que insistiu.

Pedidos de desculpa? Muito fúteis. O Chapeleiro queria algo que confortasse o psicólogo. É a mesma coisa que matar alguém e pedir desculpas.

Palavras não curam.. Mas talvez atos, sim.

Explicar tudo o que aconteceu? Talvez. Mas e depois, o que aconteceria? Ficaria tudo por ali e Jimin seria esquecido?

Taehyung está obcecado por ele, e não vai desistir tão fácil.

Toda aquela ideia de que talvez sua Alice desistisse dele, estava deixando-o louco, mais louco do que era.

Por outro lado, Taehyung, em sua sala chique, que disfarça seus pesadelos e devaneios impuros. Kim Taehyung sempre foi um homem de manter aparências, de esconder sentimentos e  manter a postura.

Mas, Jimin.. Ele não consegue se manter ao lado de Park Jimin, pois o mesmo desmascarava suas mentiras. Ele conseguia ver, através da alma das pessoas.

Passeios? Talvez um passeio, onde conversassem como dois seres normais, fosse o que ele precisava. Não, não eram normais, claramente não, mas de qualquer forma, conseguiriam conversar e exclarecer toda sua loucura.

Jimin não tinha essa obrigação, mas se sentia preso sem o perdão de sua Alice.
Desesperado, sem saber o que fazer, começou a bater no vidro que protegia a sala. Uma idiotice, vidro blindado. Mas no momento, ele mal pensava, não conseguia raciocinar.
Batia, socava e chorava no vidro, fazendo com que seus dedos sangrassem.

Se ajoelhou na frente do vidro, vendo Taehyung sair de sua sala por estar ouvindo os barulhos. Estava com os olhos arregalados, vendo Jimin suado, chorando desesperado e com seus pequenos dedos sangrando.

Seu choro infantil, como se precisasse urgente de cuidado e carinho, e, talvez, realmente precisasse. Suas mãos fofas e pequeninas, estavam sangrando, algo meio impossível de imaginar.

Taehyung se afastou, vendo que Jimin estava machucado, mesmo que pouco, estava. Correu, tropeçando em alguns pontos, até a ala médica, abrindo rapidamente a porta. Sua mão deslizava de modo nervoso pelo balcão, procurando algo pra ajudar o Chapeleiro.

Foi ensinado a ele, para não se preocupar com os pacientes.
Mas, o psicólogo, não deu ouvidos.

O psicólogo que ajuda, precisava de ajuda.

Logo, achou alguns sacos plásticos contendo gaze, talvez podia enrolar aquilo nos dedinhos do garoto.

Saiu da sala, indo até a porta da sala, por sorte a chave ainda estava com ele. Abriu lentamente a porta, sentindo Jimin pular em sua perna, agarrando a mesma, chorando como um bebê carente.

— Jimin, senta no chão, calma, me dê sua mão.

O garoto assentiu, se sentando no chão, fazendo bico. Taehyung fechou a porta, se sentando em frente ao Chapeleiro.

Jimin, tinha suas crises. Ficava carente, choroso e difícil de ser entendido.

O psicólogo segurou na mão do garoto, pegando a gaze e enrolando de modo cuidadoso nos dedos do garoto, fazendo o mesmo com a outra mão.

— Eu nem deveria estar aqui Jimin, eu vou ser demitido se me verem - Ele disse, como se não quisesse estar ali. Podia mentir pra sí mesmo, mas para Jimin, não.

— Mentirosa, Alice. Você veio por que quis, me ajudou por que quis. - Respondeu o paciente, limpando as lágrimas que tinham descido - Já que está aqui, vou direto ao assunto. Preciso que me leve pro Jardim Botânico daqui.. Não o da cidade, enfim, sabe do que estou falando.

— .. O do manicômio, onde os criminosos com algum problema mental muito sério vão pra se distrair? Eles vão com supervisão, e eu nem ao menos sei como você se comporta Jimin, não te levarei.

— Primeiro, eu só quero conversar contigo em um lugar mais apropriado.. Eu te tratei mal na última conversa. Segundo, você quer me levar, e pode. - Ele aponta pra região torácica do psicólogo - Consigo ver em sua alma.

Taehyung suspirou nervoso, se levantando e pegando no braço do garoto, se levantando. Abriu a porta da sala lentamente, puxando o garoto pra fora da mesma.

Se descobrissem os dois, o psicólogo poderia ser preso. Sua vida estava em risco, mas não raciocinava no momento.

Andou lentamente, com cautela, até o Jardim Botânico localizado no centro do Manicômio.

Árvores imensas, flores, troncos caídos no chão. Era como uma pequena selva.

Jimin, se sentou em um tronco caído na grama, apoiando o palmo direito um pouco atrás de seu corpo.

— Sei que foi tomado por uma de suas alucinações, eu sou o psicólogo aqui, esqueceu?

Taehyung perguntou ríspido, olhando pro paciente.

— Você é o que ajuda, mas também precisa ser ajudado. Alice, abra os olhos, você é a louca aqui.

Ele suspirou, tombando a cabeça pra trás, umidecendo os lábios com a língua.

— Chapeleiro.. você me acha louco?

O paciente se levantou em um pulo, se aproximando do psicólogo.

— Louco, louquinho! Mas vou lhe contar uma coisinha.. As melhores pessoas são loucas, Alice!

— São? Por que? Tem alguma explicação plausível?

— Porque, assim como eu, e você, não tem medo do que vem a seguir, estamos apenas seguindo o roteiro que nós mesmos criamos pra nossa vida!

— .. Você é louco, Jimin.. Você é uma das melhores pessoas, por assim dizer.

➳ alice out of wonderland † vminOnde histórias criam vida. Descubra agora