Sabe aqueles dias em que você acorda e não quer nem sair da cama? O dia em que você acorda odiando a vida e desejando a própria morte?
É exatamente assim que estou me sentindo agora.
Mas calma, eu não sou um louco depressivo ou suicida. Bom, pelo menos não ainda.
Eu nem pensava nessa hipótese antigamente, não sempre ao menos. Mas é como minha mãe costumava dizer, "As pessoas mudam o tempo todo."
Mas vou começar pelo início, meu nome é Charlie Cooper tenho 17 anos e estou no último ano da escola.
Estudo, ou melhor estudava em uma escola como qualquer outra, com seus jogos, líderes de torcida e zagueiros idiotas que se acham os donos do mundo e adoram passar seu tempo livre praticando bullying com nerds.
Típico eu sei.
Mas essa não é uma dessas histórias clichês de um cara anti-social que do nada acontecem maravilhas na sua vida e ele se torna popular.
Não.
Eu nunca quis ser popular, pessoas assim são normalmente tão superficiais que chega a dar pena.
Essa é uma história de alguém que chegou no fundo do poço e foi salvo, que não tinha perspectiva alguma, não era nada, invisível a qualquer pessoa, ou seja, minha vida era uma merda.
Até Ela aparecer.
- Meus pêsames Charlie. - passei o dia ouvindo isso de alguns estranhos e vizinhos, mas tanto faz de quem ouvir, afinal nenhum deles se importa de verdade.
Agora, sozinho nesta casa depois que todos foram embora o que me resta é ficar esperando as horas passarem, ouvindo os pingos de água da pia e ficar olhando para o nada.
Há dois dias atrás minha mãe estaria agora preparando o jantar enquanto o bêbado do seu marido bebia sua cerveja e fumava seu baseado, eu estaria no meu quarto ouvindo música no meu fone de ouvido no volume máximo, numa falha tentativa de silenciar o mundo.
Mas agora obviamente nenhum de nós está fazendo isso, nem se eles quisessem poderiam está.
E o silêncio está quase me matando.
Mas no meio de tudo que estou sentindo agora, uma corrente de alívio percorre meu corpo e por um segundo me permito sorrir, mas logo isso passa pois lembro-me da ruína que minha vida é.
Subo as escadas lentamente, quase sem força, chego no corredor e paro em frente a porta do quarto que era da minha mãe, ergo minha mão para girar a maçaneta, mas paro no meio do caminho.
Afinal o que eu iria encontrar? A perícia não deixou nada lá de qualquer forma.
Então entro no meu quarto e me enrolo no coberto, tentando esvaziar minha mente, tentando parar de ouvir os gritos da minha mãe, tentando esquecer as perdas da infância e os meus demônios.
***
- SUSAN VOLTE AQUI! - acordo com os gritos de Richard e com o barulho de pratos se quebrando, antes eu teria levantado e assustado desceria as escadas correndo, mas aquilo já tinha virado rotina.
- PARE COM ISSO RICHARD. - implora minha mãe, fecho os olhos com força e coloco o travesseiro sobre minha cabeça fazendo o máximo para não ouvir mais aquilo.
- SUA PUTA! - posso ouvir os tapas que ele está dando nela, lágrimas escorrem pelo meu rosto, apesar de tudo ela não merece isso.
Saio da cama e caminho até a porta, mas logo paro pois sou invadido por lembranças da última vez que fiz isso.
Ele me bateu até eu gemer de dor e nem os gritos da minha mãe suplicando para ele não fazer aquilo o fizeram parar.
Depois que me deixou no chão, começou a agredir minha mãe bem na minha frente, sem que eu pudesse fazer nada.
Eu tentei. Tentei mesmo, mas não conseguia levantar.
Richard era um lutador de boxer fracassado que não conseguiu o sucesso, então trabalhava em uma pequena loja de tatuagens que fedia a uísque barato e maconha. Batia na minha mãe sempre que bebia, o que acontecia com frequência e adorava tornar minha vida em um verdadeiro inferno.
No dia seguinte ela disse para eu nunca mais entrar em uma briga deles e se ouvisse qualquer coisa era para ficar no quarto, afinal, ele era seu marido e do seu casamento quem cuidava era ela.
Porém, apesar de tudo isso não posso ficar sem fazer nada. Saio do quarto e paro no corredor.
- POR FAVOR RICHARD NÃO!
***
Acordo suado e percebo que foi um pesadelo, o quarto está escuro e o único barulho que se ouve é dos poucos carros passando na rua.
São quatro horas da manhã, sento-me na cama e decido esperar o dia amanhecer, pois sei que não conseguirei voltar a dormir.
Hoje minha vida irá dar outra reviravolta, com a morte da minha mãe meu pai finalmente resolveu dar as caras e como ainda sou menor de idade tenho que ir morar com ele.
Um pai que nunca deu a mínima para mim, aparentemente sua rede de hotéis de luxo é mais importante que o próprio filho.
Ele mora em um apartamento na Califórnia, então é para lá que estou indo.
Perdi o contato com meu pai a mais de oito anos, minha mãe e ele se separaram. Na época ele ainda não tinha tanto dinheiro, tinha apenas um hotel pequeno, pelo visto só foi minha mãe e eu sairmos de sua vida que tudo deu certo para ele.
Agora depois da morte dela, parece que ele finalmente resolveu ser pai.
Continuem lendo.❤
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Meu Anjo Azul
RomanceCharlie Cooper é um adolescente que acabou de perder a mãe de uma maneira trágica e agora é obrigado a morar com seu pai, um homem frio e que se importa apenas com seu trabalho. Charlie é um garoto solitário que não vê muito sentindo em sua vida, ch...