capítulo 16

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- Posso me sentar aqui?
- Claro...
- Você estava chorando? Desculpe-me por estar se intromentendo mas não pude deixar de notar sua tristeza.
- Tudo bem...Eu só estou um pouco triste com a vida.
- Entendi, aliás me chamo Henrique. Pode desabafar comigo se quiser.
- Não quero ser um estorvo...
- Não será, pode começar me contando o que leva tão bela moça ao Canadá?
- Uma vida nova, assim eu espero...
- Casada?
- Ah isso? Não, meu marido e eu separamos a algum tempo, nem sei porque ainda uso isso!
- Entendi, a garota que eu amava, bem ela, não está mais comigo.
- Separação?
-Suicídio.
- Sinto muito Henrique...
- Tudo bem, ela disse que precisava se libertar e libertar aqueles que ela amava.
- Sacrificou sua vida por aqueles que ama...
- Você parece ter perdido alguém assim, estou certo?
- Uma grande amiga.
- Quer desabafar sobre? E você ainda não me disse seu nome.
- Não, ela se foi para que eu tivesse essa nova chance, não gosto de falar sobre, queria esquecer tudo isso que vivi!
- Tudo bem, fique calma...
- Jake, eu me chamo Jake.

Aquela altura Anna Léia havia se afastado cerca de duas quadras do lugar para onde havia sido levada, ela carregava com dificuldade Brandon, a chuva não deu trégua enquanto ela apagava lentamente com uma visão do casal em um avião, aquela mulher era tão parecida com ela que tudo fazia com que a garota acreditasse que era apenas mais uma morte repentina e sem sentindo, dessa vez ela não demorou a voltar, ela lutava contra os seus sentimentos, o medo de perder Brandon era enorme, depois de tudo aquilo que passaram juntos até ali ela havia se apaixonado de uma forma pura e verdadeira, Brandon a fazia se sentir segura, fazia com que ela esquecesse os problemas com a mãe e com o irmão que a tratava como uma criança.
  Anna se esforçou para chegar até uma pequena capela onde algumas senhoras faziam suas orações até a chuva passar, Anna estava quente e não exitou abraçar o garoto e aquece-lo com seu calor, ela não queria acreditar que justo agora perdera o seu primeiro e único verdadeiro amor.
- Olá jovens, assim que a chuva acalmar vamos fechar.
- Padre nós não temos para onde ir nesta noite, meu amigo não está bem e precisamos chegar a São Paulo antes do fim de semana.
-Realmente ele parece muito mal, está pálido e gelado, venham comigo, vou levá-Los para um pequeno quarto nos fundos.
Sem dizer uma sequer palavra ela acompanha o padre, é difícil manter Brandon em pé e fazer com que ninguém perceba que ele está morto, minutos depois o padre os deixa sozinhos no quarto onde Anna improvisa um aparelho de descarga para fazer os batimentos de Brandon voltarem.

- Minha filha, creio que hoje não deva ficar aqui.
- Por que não padre? O senhor cansou de mim?
- Não, não me cansei de sua presença mas a algo que me preocupa, venha até o confessionário.
O padre deu de costas para a mulher vestida de preto que o seguiu, ele estava nervoso e ela aflita, as mãos do homem estavam tão pálidas quanto seu rosto e elas soavam, ambos entraram no confessionário e seguiram em silêncio por muitos minutos até que se ouviu uma voz feminina gritar ao longe.
- O que foi isso?
- Minha filha, dois jovens chegaram no meio da chuva mais cedo...
A voz dele falhou enquanto uma pequena lágrima escorria de seus olhos. - Lembra filha que me confessou alguns anos atrás tudo aquilo que fez?
- Sim padre mas não compreendo a onde quer chegar.
- Os jovens que chegaram aqui estavam desaparecidos, os reconheci assim que entraram mas o que realmente me chamou a atenção foi a semelhança sua e da garota.
As lágrimas começaram a escorrer pela face da mulher, suas mãos tremiam, olhos vermelhos mostravam que as lágrimas não eram forçadas, a palidez foi tomando conta dela e seus pernas perdendo a força, a dor e a culpa surgiram e então tudo o passado veio a tona.
- venha minha filha, você precisa descansar, a levarei para meu quarto e está noite ficarei em oração, tome cuidado para que nenhum dos jovens te veja.
- Não precisa fazer isso, irei partir agora mesmo!
- Eu sei que a culpa te assombra tanto quanto o medo, sei que seu coração se alegrou em saber que a menina não está morta, não adianta tentar fugir novamente, Juliana não é a mãe dela e tu sabes disso, mentir não alegra a Deus e não faz bem para a tua vida.
A mulher apenas assentiu, ela sabia que tudo o que o padre dizia era verdade, ela mesmo havia contado a ele mas a pobre mulher sabia que não seria fácil e nem justo com a amiga soltar assim do nada a verdade e reabrir uma ferida, então ela deitou na cama pensativa, olhos cheios de lágrimas e tudo que pensou foi em dormir. Mas ela chorou na noite anterior até que o sono a levasse para um lugar melhor, o medo dela se transformou em confiança e as lágrimas de tristeza em lágrimas de alegria, seus sorrisos já não eram mais falsos e ela não precisa fingir que não se importava com aquilo que diziam a ela, o quão inutil era, o quão fraca, idiota era...
  Naquele lugar já não importavam suas noites viradas em cima dos livros, as notas e muito menos a falta de trabalho, ela estava com aqueles que amava mesmo faltando um alguém, os dias de angústia acaram para ela, pobre menina do olhar triste, coração ferido e do amor puro, menina sem malícia que tinha medo de mostrar seus sentimentos, menina do sorriso apagado que se machucava durante a noite com medo de machucar aquele que ama, menina forte dos pulsos marcados que suportava todos os baixos, que era forte o tempo todo mas na verdade não se pode ser forte o tempo todo.
Menina da família perfeita, perfeita? Só na frente dos outros, mas agora ela está num lugar melhor, ela planejou uma vida, uma profissão, um casamento e os filhos, ela ainda tinha tinha esperança mas até isso foi roubado dela pouco a pouco, e ela fingia não se importar, colocava um sorriso no rosto e pronto mas agora ela será feliz.
Aquele menina que em seus 15 anos soprou as velinhas e como pedido falou com o papai do céu para que ele a levasse durante a noite, aquela menina que era humilhada com uma criança de 9 anos, que não fazia mais que sua obrigação em cada coisa certa que fazia, menina que usou das palavras para por seus sentimentos no papel, que ouviu tantas vezes que era uma inútil que deveria se matar de uma vez, mas ela sorria e dizia para si mesma que tudo ia ficar bem.
E quando tudo estava desmoronando e ela aproveitando sua última semana  o amor apareceu em sua vida, foi estragando seu planos, revivendo seu sonhos de infância, no início tudo perfeito e as mil maravilhas mas o mundo e as pessoas são justas, começaram novamente a mostrar o monstro que ela era, mas ela não era assim, ela estava se reconstruindo, montando os pedaços do seu coração mas dizem que os pais nunca mentem e se eles dizem que ela falou, que ela é um monstro então ela fez, ela falou, ela é, pouco a pouco ela volta a ter medo, volta a ser insegura, ela quer desistir mas agora tem outra vida em jogo, ela tem um amor dentro e ao lado dela, conforme os dias passam ela tenta se convencer de que tudo vai melhorar mas acontece que aqueles que deveriam ama-la chegam perto e a destroem, precionam e tentam de todas as maneiras magoa-la, eles conseguem.
Pobre garota apaixonada, é uma bomba prestes a explodir, então no silêncio da noite ela recorda os motivos de que se aprisionava em casa, afastava os amigos e se machucava, ela não queria ser uma bomba que ao explodir iria destruir tudo a volta dela, não queria machucar mais ninguém com sua partida mas agora ela estava cercada, cercada por pessoas que fingiam e pela pessoa que mais amava, foi em seus braços e com os olhos cheios de lágrimas que mentiu que ja não o amava, mais uma vez ela afastava o amor da vida dela, matava seus sonhos de ter uma família por culpa dos fracasos da mãe dela, pobre garota...tinha uma casa mas não podia chamar de lar, tinha tudo que precisava em bens materiais mas o amor e o carinho ainda faltava, e ela não podia reclamar da vida, existem pessoas lutando contra a morte e ela mesmo lutando contra seus sentimentos não poderia desejar morrer por fora mesmo agora que tudo morria por dentro, seus sonhos, sua esperança, até mesmo seus medos e o que a mantinha ainda em pé era o amor de um garoto mas ele se cansara de suas crises depressivas, dos teus surtos e aos poucos se afastava, e agora aquela doce garota está em um lugar melhor...

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