Capítulo 04 - Dúvida

30 1 0
                                    

Por que eu aceitei? Eu nem o conheço! - Até hoje me lembro dessa pergunta martelando minha cabeça. 

Sinceramente, não sei dizer por que aceitei. Só sei que ele me pareceu normal o suficiente para nos encontrarmos de novo. E era ótimo ter o que fazer naquela sexta, ainda mais no Cidadela. Me lembro de ter ido lá duas vezes: na primeira, para acompanhar uma amiga. Ela precisava beber e eu prometi a ela que nos divertiríamos juntas, o que resultou em um encontro casual para ela e várias doses de tequila para mim. Na segunda, para relaxar. Havia brigado feio com o mesmo namorado que me apresentou o Bistrô – sortuda, eu. 

A surpresa de John foi visível. Mas, antes que pudéssemos combinar qualquer coisa, ele pediu que eu esperasse um segundo e se retirou, dirigindo-se ao balcão. Pela expressão dele, parecia importante. Talvez fosse trabalho, talvez algo pessoal. Não perguntei quando ele retornou. 

- Me desculpe, eu tive que atender – disse, sentando-se. O jeito com que passou a mão no cabelo e sorriu fez clicar alguma coisa em mim.

- Sem problemas... Se você não se importa, eu pedi a conta. 

- Ei, esse é o meu trabalho, Rachel... - ele travou.

- Miller?

- Isso, Rachel Miller – riu-se. 

- O seu?

- Smith.

- Smith? Como na animação da Disney? – não resisti. 

- Sim, Rachel - ele riu, fazendo graça - John Smith.

A garçonete trouxe a conta e eu aproveitei para pegar meu celular. Ainda precisava terminar um artigo e havia deixado alguns links abertos. Quando voltei a olhar para ele, vi que me olhava fixamente. A expressão era de alguém com o pensamento longe.

- Você tem olhos tão bonitos – disparou.

- Obrigada... – senti meu rosto corar. 

- Pronta pra ir? 

- Sim, claro – respondi.

Eu estava quase de pé quando senti uma de suas mãos me apoiando pela cintura. O gesto dele se manteve até alcançarmos a saída, mas não trocamos uma palavra. Me lembro de ter pensado que aquilo era um bom sinal – afinal, ele não parecia ser o tipo de pessoa que me afasta na primeira chance – e de ter respirado fundo quando paramos um de frente para o outro. Na verdade, acho que nós dois fizemos o mesmo. 

- Rachel, eu não sei o que dizer.

- Que tal 'Rachel, o café estava ótimo?' – sugeri.

- Rachel, o café estava ótimo – disse, estendendo a mão. 

- Sim, estava – sorri – E o papo também – acrescentei, estendendo a minha. 

Por um segundo, nossas mãos continuaram juntas.

- Verdade. Eu mal posso esperar por sexta-feira... 

- Vai ser interessante, senhor John. 

- Não tenho dúvidas – sorriu, tirando o celular do bolso.

Se fosse outra pessoa, ele certamente pediria meu endereço. Aliás, foi o que pensei que aconteceria quando mencionou as reservas no Cidadela. Mas John não parecia ser como os outros. Não ali, não no começo. 

Aos trocarmos nossos números, ele me acompanhou até a esquina. O tempo já estava aberto novamente e meu cabelo já havia secado, o que me permitiu soltá-lo antes de seguir caminho. Foi exatamente ali que hesitei – é, pois é. Não sabia se esperava alguma atitude, se saía ou se corava diante do sorriso que ele deu quando desfiz meu rabo de cavalo. Na dúvida, apenas saí. E mesmo quando já não olhei pra trás - o que não consegui evitar, pude sentir seu olhar comigo até que eu sumisse de vista. 

Rachel & JohnOnde histórias criam vida. Descubra agora